Passados cinco meses desde o início da atual legislatura, o PT parece estar decidido a seguir o rumo da oposição à governadora Raquel Lyra nas vésperas de um ano eleitoral. Ao iG , a senadora petista Teresa Leitão disse que a mudança no “status” do partido está “praticamente decidida”, visto que esta seria a “posição natural” do partido diante do processo eleitoral de 2022.
No início dos trabalhos do Legislativo em 2023, o PT de Pernambuco decidiu que o partido integraria a recém-criada bancada independente da Assembleia Legislativa (Alepe), ou seja, não se colocaria como aliado nem opositor do governo.
Rumo à bancada da oposição
A bancada petista tem três deputados: o presidente estadual da sigla, Doriel Barros, o ex-prefeito do Recife, João Paulo, e Rosa Amorim, que ganhou espaço e relevância na política devido ao seu ativismo junto ao MTST.
Na visão de João Paulo, que lidera a Federação Brasil da Esperança (PT, PV e PCdoB) na Alepe, “o processo de sucessão nas prefeituras vai dar o novo balizamento do PT no governo e na Prefeitura, com o governo do PSB, acho que é isso que o PT sinaliza”.
No entanto, ele também afirma que o novo posicionamento do partido vai “mudar muito pouco” o cenário político, visto que o Governo Federal trata a governadora “de maneira tão republicana, mas TÃO republicana, que parecem aliados de muitos anos” . Ou seja, não deve interferir na relação dos ministros e do presidente Lula com a governadora.
Além disso, João garante que “em todo projeto que venha beneficiar o povo de Pernambuco, a bancada do PT vai estar favorável, sem sombra de dúvida”. O ex-prefeito afirma ainda que seu partido fará “uma oposição de conteúdo” à governadora.
“Acredito que, devido ao que chamei de ‘pecado original na transição’, o governo ainda tem muitas coisas a corrigir. Caberá ao PT evidenciar mais as coisas que o governo poderia estar resolvendo. É uma forma de ajudar o governo formulando uma crítica de conteúdo, de questionar o desempenho de algumas secretarias”.
Essa postura também é confirmada pelo deputado federal Carlos Veras, quando afirma que a bancada federal do partido tem enviado recursos para Pernambuco. “Quanto mais parcerias pudermos fazer com o Governo do Estado, melhor”, disse o parlamentar.
Governo Federal e Prefeituras
Nesse cenário, o maior impacto eleitoral deverá recair sobre prefeitos e prefeitas do PT no estado, devido à proximidade do ano eleitoral. Em Pernambuco, quatro prefeituras são comandadas por petistas, mas não há consenso sobre a possibilidade de mudança no posicionamento partidário, visto que metade dos gestores apoiou a candidatura de Raquel Lyra.
Apesar da maioria das prefeitos petistas não terem votado em Raquel Lyra, a prefeita de Serra Talhada, Márcia Conrado, e o prefeito de Águas Belas, Luiz Aroldo, apoiaram a candidatura de Raquel Lyra. Márcia foi, inclusive, coordenadora da campanha da governadora no Sertão do estado, ainda que de modo extra-oficial.
Já Álvaro Marques, prefeito de Tacaimbó, no Agreste do estado, aponta que a formalização do partido no campo da oposição confirmará o que acontece na prática. “O PT me fez a consulta e opinei que o povo de Pernambuco precisa conhecer a posição política do partido, não podemos ficar sem posição”, disse o prefeito.
Segundo a senadora Teresa Leitão (PT-PE), a expectativa do partido é que não haja retaliação aos prefeitos. “A gente espera que ela trate nossos prefeitos como está sendo tratada por Lula”, disse Teresa. Ela aponta ainda que a governadora nunca chegou a fazer uma proposta no sentido de integrar a base aliada do presidente.
“As oportunidades que Raquel teve de vir ao nosso campo, não sei se ela vai costurar. Na campanha, ela podia ter declarado apoio a Lula, não declarou. Trata Lula muito bem institucionalmente, mas não trata, em Pernambuco, os aliados de Lula. Aí não sei se Lula teria um palanque dela no estado”.
No que diz respeito ao Recife, Teresa afirma que o que está se debatendo é a aliança entre PT e PSB, “então eleitoralmente isso deve prevalecer”. No entanto, ela aponta que o desejo de lançar candidatura própria é forte. “O PT almeja candidatura própria [em 2024], pois abrimos mão em 2018, 2020 e 2022, sempre pro PSB. A gente almeja esse reconhecimento de que é chegada a nossa hora”.
Já o deputado federal Carlos Veras aponta para a tendência de que o PT e o PSB sigam juntos na eleição, desde que o Partido dos Trabalhadores tenha espaço na chapa majoritária.
“João tem verbalizado o desejo de compor com o PT, mas não é uma coisa automática. É importante que se trabalhe nesse sentido, isso depende das conversas políticas porque os outros aliados do governo têm direito de pleitear posição na majoritária”, disse Veras.
Ele reforça que a construção da eleição de 2026 também passa por 2024, visto que o nome do senador Humberto Costa está posto como uma opção para disputar o governo.
Outras capitais
Como o senador Humberto Costa (PT-PE) já adiantou em entrevista exclusiva ao iG, o objetivo do PT é levar a eleição no maior número possível de capitais e outras cidades com população acima dos 100 mil habitantes, seja com candidaturas próprias ou por meio de apoios estratégicos.
Além disso, a legenda quer antecipar a definição de pré-candidaturas até o mês de dezembro para fortalecer os nomes dos escolhidos, quebrar resistências locais e evitar problemas com a base governista que está sendo formada no Congresso.
A situação em São Paulo, ao que tudo indica, já está definida e, de acordo com a senadora Teresa Leitão, “o PT vai apoiar Guilherme Boulos”. Mesmo diante da resistência interna de alguns setores do partido, a decisão deve ser formalizada no sábado (5).
A decisão foi tomada ainda em 2022, em um acordo - que, nas palavras de Humberto Costa, será cumprido - em que Boulos abriu mão de disputar o Governo de São Paulo para apoiar a candidatura de Fernando Haddad, com a promessa de ter o apoio do partido em 2024.
A resistência ao nome de Boulos vem de petistas, ligados à família Tatto, que tem quatro parlamentares distribuídos entre a Câmara Municipal, a Assembleia Legislativa e Câmara dos Deputados, além de manter boa interlocução com o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB) - que caminha para se tornar o nome apoiado por Bolsonaro e seu partido, o PL.
O cenário aponta para um “desenho” eleitoral em que Boulos estará na cabeça da chapa com sinalização do PSOL para que o PT indique um nome para vice-prefeito(a). Enquanto isso, o clã Tatto defende que o partido lance um candidato próprio nas eleições.
O grupo político da família Tatto afirma que as chances de vitória de um candidato do PSOL são pequenas e somente um nome mais ao centro tem chances de vencer a disputa em São Paulo. Contudo, em 2020 o PT lançou Jilmar Tatto como candidato para a prefeitura e acabou amargando seu pior resultado na eleição da capital, com 8,6% dos votos, ficando em sexto lugar.
No Rio de Janeiro, também há uma disputa interna no partido entre uma ala que defende o lançamento de candidatura própria, e outra - majoritária - que pretende apoiar o atual prefeito, Eduardo Paes (PSD), que é aliado de Lula. Além disso, o fato do PT integrar a administração de Paes também ajuda a sacramentar a decisão de apoiar a sua reeleição.
Na hipótese do apoio a Eduardo Paes, o PT ganharia o poder de escolher um de seus quadros para disputar o cargo de vice-prefeito(a) na chapa. A escolha do nome ideal, contudo, ainda é um campo em disputa interna.
O vice-presidente nacional do PT, Washington Quaquá, defende o nome de seu filho, Diego Zeidan, enquanto outros correligionários querem emplacar o atual secretário de Assuntos Federativos do governo Lula, o ex-deputado André Ceciliano.
Paralelamente, o PT fluminense convocou o ex-deputado e atual presidente da Embratur, Marcelo Freixo, a uma reunião na próxima segunda-feira para tratar do cenário eleitoral e político na capital. Em 2022, Freixo disputou o governo contra Cláudio Castro, que obteve quase 60% dos votos ainda no primeiro turno.
Em Belo Horizonte, capital do disputado estado de Minas Gerais, o PT pretende lançar candidatura própria em parceria com a “Federação Brasil da Esperança”, a “Federação Psol-Rede” e outros partidos da base do governo.
"A tarefa principal do PT na atual conjuntura é criar condições políticas e sociais para assegurar o programa do governo Lula eleito nas urnas em 2022. Isso implica na contínua mobilização para derrotar as forças de extrema-direita, alinhadas ao bolsonarismo e, em Minas, ao governo Zema. As eleições municipais de 2024, especialmente nas capitais, cidades com 2º turno e acima de 100 mil habitantes, serão estratégicas para avançar nessa tarefa", diz o comunicado do PT de Belo Horizonte.
O senador Humberto Costa (PT-PE), que coordena o Grupo de Trabalho Eleitoral do PT, afirmou em entrevista ao iG que para a capital mineira, “em princípio não tem uma proposta de entendimento”.
“Tem uma candidatura do PDT, a deputada [federal] Duda Salabert, mas nessa pesquisa [interna] que foi feita, o candidato do PT se sai melhor. Também Belo Horizonte a gente já governou, já governou o estado [de Minas Gerais], talvez seja a hora do partido novamente se colocar, se apresentar, né?”, disse o senador.