O deputado Gustavo Gayer (PL-GO) pressionou a Universidade de Rio Verde (UniRV) para retirar o livro "Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios" como leitura obrigatória do vestibular. A instituição acatou o pedido do parlamentar apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o que levou a Academia Brasileira de Letras (ABL) a se posicionar sobre o caso.
Gayer considera a obra de Marçal Aquino "pornográfica", e fez as alegações nas redes sociais. Na publicação, ele questiona: "Por que pé de maconha, xoxota e pau estão fazendo parte de um livro, um conteúdo literário, para que seja feita uma prova para ingressar na faculdade?".
A universidade publicou uma nota explicando o caso, e disse que a retirada no livro foi em decorrência das polêmicas levantadas por Gayer. Eles afirmam que as obras são escolhidas por uma banca formada por professores de escolas públicas e particulares de todo o país: "A estes professores compete a indicação das obras literárias e elaboração das questões, observando o conteúdo programático das disciplinas do núcleo comum do ensino médio".
"Em relação ao livro do autor Marçal Aquino, trata-se de uma obra da literatura brasileira contemporânea, trabalhada nos principais cursinhos pré-vestibulares e presente na lista obrigatória de diversos concursos do país, motivo pelo qual a banca o teria indicado para o vestibular da UniRV. Porém, a Coordenação do Vestibular, ao tomar ciência do conteúdo do livro e da polêmica gerada, decidiu pela exclusão imediata da referida obra da lista literária indicada para o vestibular", diz a instituição.
A ABL se pronunciou sobre o caso, dizendo que a retirada do livro foi "arbitrária", e acrescentando que a UniRV "cedeu a pressões políticas obscurantistas". A ABL presta solidariedade ao autor e chama de "censura" a ação do deputado. "A obra foi excluída do vestibular da Universidade do Rio Verde (UniRV- Goiás), que cedeu a pressões políticas obscurantistas. Engajamo-nos ao lado de todos os que desejam revogar a arbitrária proibição".
Em entrevista ao O Globo, o Aquino questiona qual o preparo do deputado para decidir tal questão: "Se a pressão de um deputado é maior do que sua própria comissão avaliadora, então colocaram sob suspeição todos os demais livros do vestibular. Recusam o debate e simplesmente censuraram. A cara do Brasil de hoje".
A editora Companhia das Letras, que publicou o livro em 2005, se manifestou contra a decisão: "O livro explora temas como amor, traição, violência e redenção [...] A Companhia das Letras repudia qualquer tipo de censura e, diante de uma situação como essa, declara seu apoio a Marçal Aquino, autor vencedor do prêmio Jabuti e com obras lançadas na Alemanha, Espanha, França, México, Portugal e Suíça".