Ex-ministro da infraestrutura e candidato ao governo de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) tem entre seus maiores doadores de campanha o empresário Rubens Ometto, presidente dos conselhos de administração da Cosan e da operadora logística Rumo.
A companhia obteve importantes vitórias durante a gestão de Freitas na pasta do governo Jair Bolsonaro, entre as quais está a renovação antecipada da concessão da Malha Paulista, ativo de quase 2 mil km de extensão e que liga áreas produtoras de grãos no Centro-Oeste ao Porto de Santos.
Ometto é o segundo maior doador da campanha do bolsonarista ao governo paulista, empatado com o empresário Abílio Diniz, do Carrefour. Com fortuna pessoal avaliada em US$ 2,1 bilhões (R$ 10,9 bilhões no câmbio atual) pela revista americana Forbes, Ometto deu à campanha do ex-ministro de Bolsonaro R$ 200 mil até o momento. O valor representa 10,38% do R$ 1,92 milhão arrecadado pela campanha de Tarcísio junto a pessoas físicas, segundo as contas apresentadas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O montante fica atrás, apenas, da doação de R$ 300 mil do pecuarista Luciano Maffra de Vasconcellos, e empatado com os R$ 200 mil doados por Diniz, vice-presidente do conselho de administração do Carrefour que doou o mesmo montante para a campanha do governador Rodrigo Garcia (PSDB).
“As doações eleitorais feitas por Rubens Ometto Silveira Mello são realizadas em caráter pessoal e seguem as regras estabelecidas pelo Tribunal Superior Eleitoral e demais normas aplicáveis”, respondeu a Cosan, em nome do executivo, em nota encaminhada à reportagem.
Principal destinatário
Tarcísio é o principal destinatário das doações eleitorais de Ometto, que já distribuiu R$ 2,1 milhões de seu patrimônio a candidatos neste ano. O empresário é fundador e pertence ao bloco de controle do Grupo Cosan, dono da concessionária Comgás e controladora da Raízen (joint venture com a Shell) e da gigante Rumo. É também o presidente do conselho de administração da Rumo e costuma ser convidado de encontros do empresariado com o presidente Jair Bolsonaro.
O acionista da Cosan é o terceiro maior doador destas eleições, atrás de Salim Mattar, ex-secretário de Desestatização de Bolsonaro, que doou R$ 2,82 milhões a 21 candidatos conservadores, e de empresário gaúcho Heitor Vanderlei Linden, que doou R$ 2,6 milhões à campanha de Roberto Argenta (PSC) ao governo do Rio Grande do Sul.
A segunda maior doação feita por Ometto neste ano foi de R$ 150 mil ao deputado federal Darci de Matos (PSD-SC). Receberam doações do bilionário 21 campanhas, entre elas as dos ex-ministros bolsonaristas Ricardo Salles (R$ 50 mil), Teresa Cristina e Onyx Lorenzoni (R$ 100 mil cada).
Acertos e diferenças
A relação entre Tarcísio de Freitas e a Rumo durante sua passagem pelo Ministério da Infraestrutura é chamada no mercado de “lua de mel”, devido ao alinhamento de visões, embora executivos da companhia reiterem, nos bastidores, que sempre houve desalinhamento em temas importantes.
A Rumo obteve vitórias importantes durante a gestão do atual candidato do Republicanos ao governo paulista à frente do Ministério da Infraestrutura. A operadora conseguiu aprovar a renovação antecipada de seu contrato de concessão da Malha Paulista, por exemplo. O contrato original venceria em 2028, mas desde 2016 a Rumo vinha tentando renová-lo de maneira antecipada por mais 30 anos. O aditivo contratual foi assinado pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), autarquia vinculada à pasta da Infraestrutura, em maio de 2020. A contrapartida envolve investimentos de R$ 5,78 bilhões.
Venceu, também, o leilão de um trecho de 1.537 km da Ferrovia Norte-Sul entre Porto Nacional (TO) e Estrela d'Oeste (SP), com lance de R$ 2,72 bilhões, um ágio de 100% em relação ao previsto no edital. O Ministério Público chegou a afirmar que o edital favoreceria a Vale.
A empresa de logística também foi uma das principais defensoras, juntamente com outras operadoras ferroviárias, do novo regime regulatório de autorização de ferrovias promovido por Tarcísio de Freitas. Aprovado em Medida Provisória em agosto de 2021, o dispositivo passou a permitir a assinatura de contratos de autorização para a construção de ferrovias, procedimento mais simples e mais barato que os leilões de concessão.
Desde a aprovação do dispositivo, a Rumo assinou com a ANTT três contratos do tipo. Estão contemplados trechos que ligariam Bom Jesus do Araguaia a Água Boa (MT), esse município a Lucas do Rio Verde (MT) e Uberlândia a Santa Vitória, ambas em Minas Gerais.
Uma diferença relevante de posição entre Tarcísio e a Rumo foi o projeto da Ferrogrão, que prevê a construção de 933 km de ferrovia entre Sinop (MT) ao porto de Miritibuba (PA). O plano da ferrovia foi abraçado por Tarcísio como uma de suas prioridades no ministério, mas acabou não tendo nem o edital publicado.
Considerado relevante para o escoamento de produção agrícola do Centro-Oeste, a Ferrogrão seria concorrente da malha existente que liga Rondonópolis (MT) ao Porto de Santos, hoje operada pela Rumo. A operadora se opôs ao projeto.
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