Os casos de violência política e eleitoral registrados no Brasil em 2022 cresceram 23% em relação ao mesmo período de 2020. Naquele ano, em que foram realizadas as eleições municipais, foram contabilizados 174 episódios de janeiro a junho, que incluem ameaças, agressões e atentados contra políticos e seus familiares, assim como o que culminou na morte de guarda municipal petista, neste domingo, em Foz do Iguaçu (PR). Agora, em 2022, já são 214 casos nos primeiros seis meses.
Os números foram registrados pelo Observatório da Violência Política e Eleitoral, formado pelo Grupo de Investigação Eleitoral da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (GIEL/UNIRIO), que monitora a dinâmica e o impacto da violência na democracia brasileira desde janeiro de 2019 com boletins trimestrais. O relatório mais recente mostra que, de abril a junho deste ano, foram contabilizados 101 episódios, o que representa um aumento de 17,4% no número de casos em relação ao mesmo período em 2020.
A conta, no entanto, não inclui o assassinato de Marcelo Arruda, que também era tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu e foi candidato a vice-prefeito da cidade na chapa da sigla em 2020. Esse caso será contabilizado no próximo boletim, que inclui os meses de julho, agosto e setembro.
Ao todo, foram registradas 24 mortes em 14 estados ao redor do Brasil. A maioria dos homicídios aconteceu justamente no Paraná, que registrou quatro casos desse tipo, índice considerado incomum para o estado até então. Se considerados todos os tipos de violência política e eleitoral, no entanto, é São Paulo que lidera com 17 ocorrências, seguido por Bahia e Rio de Janeiro, com 10 cada um, Minas Gerais (8) e Paraná (7). Não foram identificados casos no Acre, Alagoas, Amapá e Roraima.
As ameaças foram o tipo de violência mais frequente. Ao todo, 37 lideranças sofreram algum tipo de intimidação. Em seguida, aparecem as agressões, com 27 casos, os homicídios com 19 casos, nove atentados, cinco homicídios de familiares, dois sequestros, e também dois sequestros de familiares. E apesar de o Paraná ter registrado o maior número de assassinatos, a região que concentrou mais mortes desse tipo foi o Nordeste, com 10.
Para o coordenador do GIEL, Felipe Borba, o aumento dos casos em relação a 2020, quando havia maior número de candidaturas, surpreendeu.
"Não imaginava que seria maior que 2020. Naquele ano, houve uma quantidade de políticos muito maior, candidatos a vereador e a prefeito. E a violência política, no Brasil, é muito local. Por um lado, ela permanece sendo local, mas se soma ao cenário nacional", conta.
O boletim mostra que, no último trimestre, 49 vereadores foram alvos de algum tipo de violência, o que representa 48,5% do total. Se somados também os 11 prefeitos, seis funcionários da administração pública, ex-prefeitos, ex-vereadores, um ex-vice-prefeito e ex-candidatos a vereador, essa parcela chega a 83,2% dos casos.
Com a aproximação das eleições de 2022, e consequentemente das campanhas eleitorais, também foi notificado um número significativo de violência contra pré-candidatos, o que inclui o atual presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Lula (PT).
Na última quinta-feira, foi atirada bomba caseira com excrementos em direção aos manifestantes em ato do petista no Centro do Rio. Antes, quando Lula esteve em Minas Gerais com o ex-prefeito Alexandre Kalil (PSD), um drone havia sobrevoado o evento e derramado líquido que foi comparado a fezes e urina pelos apoiadores da dupla.
Borba ressalta que, neste ano, o discurso da violência contra os adversários políticos tem sido alimentado com mais frequência, o que contribui para que casos como esses se repitam.
"No Brasil, as eleições normalmente são polarizadas, o que não é necessariamente ruim. O problema é que essa polarização está sendo alimentada de forma violenta contra os adversários, o que é muito mais presente no discurso dos bolsonaristas", explica.
Para o coordenador do GIEL, no entanto, a maior parte dos casos de violência segue sendo motivada pela disputa do poder e por assuntos locais, específicos de municípios — não por divergências ideológicas. A afirmação é endossada pelo boletim, que mostra que os casos se distribuem por siglas de diferentes espectros ideológicos. O PSD é o partido que mais registrou casos: 12, seguido pelo PL (10), PSDB e Republicanos (9, cada), PT (7) e PSOL (6).
Borba também alerta para uma escalada de casos nos próximos meses, se essas iniciativas não forem combatidas.
"Agora que as eleições vão começar de fato. Setembro é o mês quente da campanha, as eleições acontecem em outubro. Depois tende a diminuir um pouco. O que a gente pode experimentar de novo, neste ano, é uma violência pós-eleitoral, que pode se alastrar em larga escala entre os eleitores. São duas coisas se combinando: o discurso de intolerância política e o outro, da fraude eleitoral, esse segundo principalmente próprio do presidente Jair Bolsonaro e de seus apoiadores. É o risco que a democracia está correndo", conclui.
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