Madrasta presa por envenenamento cuidou de crianças em projeto social

Cíntia Mariano Dias Cabral recebeu um montante de R$ 48 mil para amparar financeiramente os custos dos menores no programa Família Acolhedora, entre 2013 e 2021

Madrasta presa por envenenamento cuidou de crianças em projeto social
Foto: Reprodução
Madrasta presa por envenenamento cuidou de crianças em projeto social

Presa temporariamente por tentar  matar o enteado, o estudante Bruno Carvalho Cabral, após supostamente servir a ele feijão com chumbinho no último dia 15, Cíntia Mariano Dias Cabral é investigada também pela morte da irmã dele, a também estudante Fernanda Carvalho Cabral, em circunstâncias semelhantes, em março; do ex-namorado, o dentista Pedro José Bello Gomes, em 2018; e de um vizinho, o representante farmacêutico Francisco das Chagas Fontenele, em 2020. Durante oito anos, porém, ela cuidou de 14 crianças no programa Família Acolhedora, recebendo em casa menores de idade cujos direitos foram violados, durante oito anos.

De acordo com dados da Secretaria Municipal de Assistência Social, responsável pela implementação do serviço nacional na cidade, Cíntia teve seu primeiro contato com crianças em situação de acolhimento em 2013, permanecendo até 2021. A priori, ela recebeu R$ 450 mensais de bolsa-auxílio nos dois primeiros anos. A partir de 2015, houve um ajuste do valor para R$ 688, totalizando o montante pago a ela em R$ 48.082 mil. O benefício é concedido para amparar financeiramente os custos da criança ou adolescente acolhido. No mesmo período, o Família Acolhedora atendeu cerca de 1.300 jovens no Rio, dispensando cerca de R$ 810 mil.

Ainda segundo a Secretaria Municipal de Assistência Social, Cíntia foi habilitada no Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora no Polo 8-Bangu, em 9 de setembro de 2011, “após passar por criterioso processo de habilitação, envolvendo as fases de seleção, preparação, cadastramento e acompanhamento, por entrevistas, visitas domiciliares e capacitações, conforme os princípios, diretrizes e orientações do Estatuto da Criança e do Adolescente e o que determina o documento Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes”.

Ao GLOBO, a pasta informou que o primeiro curso de formação para tornar-se família acolhedora dura quatro meses: “Todo o processo de habilitação é acompanhado pela Vara da Infância, da Juventude e do Idoso, que determina judicialmente a entrada de qualquer criança ou adolescente no programa federal, na cidade do Rio”.

“Desde 1997, quando o programa Família Acolhedora foi implantado no município do Rio, seis mil crianças e adolescentes foram acolhidos por famílias. A modalidade de Acolhimento Familiar está previsto no Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e visa garantir proteção e cuidado através da convivência familiar e comunitária até que seja possível o retorno da criança ou adolescente à família de origem ou extensa. E, em caso de impossibilidade, sua colocação em família substituta”, disse a Secretaria Municipal de Assistência Social, em nota.

Na semana passada, o laudo do Instituto Médico-Legal (IML) com a análise do material gástrico de Bruno comprovou haver “quatro grânulos esféricos diminutos, de tamanhos variados, de coloração variando entre azul escuro e preto”, o que “pode sugerir a ingestão de um produto comercializado clandestinamente como raticida, popularmente conhecido como chumbinho”.

Segundo o documento, no entanto, utilizando-se a técnica disponível no Serviço de Toxicologia do IML, não foi possível detectar a presença de inseticidas ou outras substâncias tóxicas no material analisado.

O rapaz teria começando a passar mal minutos após ter saído da casa onde Cíntia morava com seu pai, Adeilson Cabral, onde, durante o almoço, foram servidos feijão, arroz, bife e batata frita. Na ocasião, ele teria reclamado que o feijão estava com gosto amargo e o colocou no canto do prato. A madrasta então levou o prato de volta a cozinha e colocou mais comida.

Após a refeição, o estudante foi deixado na casa da mãe, Jane Carvalho Cabral, que ligou então  para o ex-marido contando dos sintomas apresentados pelo filho. Levado ao Hospital Municipal Albert Schweitzer, o jovem foi submetido a uma lavagem gástrica e teve a intoxicação exógena diagnosticada pela equipe médica.

À mãe, o estudante relatou ter passado mal justamente após ingerir “umas pedrinhas azuis que estavam no feijão” e contou que, ao servir seu prato, a madrasta teria apagado a luz da cozinha “como se estivesse escondendo algo”. Aos policiais, Cíntia disse que as tais “pedrinhas” eram um tempero de bacon que não havia dissolvido na comida. 

Segundo o inquérito da 33ª DP (Realengo), Fernanda deu entrada no Albert Schweitzer, também após passar mal na casa de Adeilson e morreu 12 dias depois. A jovem caiu no chão do banheiro, e ficou encharcada de suor, com dificuldade para respirar, a língua enrolada e a boca tomada por espuma.

Sem diagnóstico, a estudante não respondeu ao tratamento e morreu na unidade de saúde. Em seu atestado de óbito consta que ela foi vítima de falência múltipla dos órgãos em decorrência de causas naturais. Sem indício de crime, o corpo dela não foi submetido a necropsia. No último dia 26, o cadáver passou por uma exumação e o laudo para detectar substâncias tóxicas ainda não foi concluído.

Por meio de seus advogados, Cíntia que tenha cometido o homicídio de Fernanda e a tentativa de homicídio de Fernanda. De acordo com as investigações, os envenenamentos teriam acontecido por ciúmes que a madrasta nútria da relação do companheiro com seus filhos biológicos. Ela ainda figura como suposta autora de crimes como violação de domicílio, ameaça, injúria, abandono de incapaz e dano, entre os anos de 2009 e 2013, embora em nenhum dos procedimentos tenha havido indiciamento tampouco condenação.

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