Yanomami: PF diz que denúncia de estupro teria sido um mal entendido

Em entrevista coletiva, delegado explicou acreditar que relato surgiu após um indígena se confundir com um vídeo sobre violência sexual na região

Policiais investigando a Terra Indígena Yanomami
Foto: Divulgação
Policiais investigando a Terra Indígena Yanomami

Em entrevista coletiva nesta sexta, delegados da  Polícia Federal de Roraima explicaram acreditar que a denúncia de que uma  criança yanomami de 12 anos teria sido assassinada após estupro por garimpeiros tem origem, na verdade, em um mal entendido.

Os agentes afirmaram que a investigação ainda está em curso, mas a apuração, até aqui, aponta que a acusação teria nascido de um episódio em que um indígena assistiu um vídeo institucional de uma ONG, sobre os problemas recentes de violência sexual dentro da Terra Indígena (TI) Ianomâmi, e então conversou com um outro indígena, que então teria se confundido e entendido que um estupro fora cometido na comunidade de Aracaçá.

No último dia 25 de abril, Junior Hekurari Yanomami, presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kwana (Condisi-YY), divulgou um vídeo denunciando a ocorrência do assassinato após estupro , e do afogamento de uma criança de três anos, na comunidade de Aracaçá, dentro da TI Yanomami.

Ele próprio recebeu a mensagem de um indígena da localidade, relatando o ocorrido. Em seguida, equipes da PF, do Ministério Público Federal e da Funai foram ao local, mas, chegando lá, encontraram a comunidade vazia e com casas queimadas.

Na primeira declaração sobre o caso, a PF já havia afirmado que não encontrou indícios de crime no local. Mas o sumiço de cerca de 24 indígenas, que viviam na comunidade, ainda chamava a atenção. Nesta sexta, porém, Junior Hekurari informou à Polícia Federal que o grupo se mudou para um local dentro da comunidade Palimiú, também dentro da terra Yanomami.

Na versão da PF, a migração teria acontecido por causa da morte de um indígena, mas por causas naturais, e não por crime. As cinzas recolhidas no dia da perícia do local ainda estão sendo analisadas para tentar elucidar o motivo do incêndio na comunidade.

"Tudo leva a crer, mas investigação ainda não está concluída, que realmente a denúncia é uma sequência de falas e narrativas que chegaram a criar uma situação concreta", afirmou o delegado Daniel Pinheiro Leite, titular da investigação, na entrevista desta sexta.

Segundo Leite, o "mal entendido" da denúncia de estupro teria começado após um indígena assistir o vídeo institucional de uma ONG que falava sobre o aumento dos casos de violência sexual dentro da TI Yanomami, como mostrou o relatório "Yanomami sob ataque".

Em seguida, esse indígena teria repassado as informações a um outro que, então, acreditou que membros de sua comunidade teriam sido vítimas da violência apresentada no vídeo. Isso o teria motivado a fazer contato com Junior Hekurari, formulando a denúncia.

A PF ainda esclareceu que entrevistou nove yanomami que viviam na comunidade, sendo seis no dia das diligências e outros três em Boa Vista. Esses depoimentos que levaram o delegado a acreditar na versão do mal entendido por causa do vídeo. As investigações, porém, ainda não foram concluídas.