Guarapuava: 'Bandidos tinham invadido batalhão', diz morador da cidade
Bando fazendo reféns e disparos a esmo de metralhadora contra casas e unidade policial marcaram madrugada de invasão do 'cangaço' para mega-assalto
"O que aconteceu nesta madrugada é uma coisa que vai ficar para a história da cidade. Aqui é um lugar pacato, nada de extraordinario acontece. Nem de pequeno porte quanto mais assim". A frase é do radialista Rodrigo Correia, de 42 anos, morador de Guarapuava, no interior do Paraná, que na madrugada de hoje (18) foi atacada por criminosos fortemente armados em carros blindados. Muito conhecido na cidade de pouco mais de 150 mil habitantes, Rodrigo conta que, por volta das 22h30, começou a ouvir barulho de tiros e a receber mensagens de moradores relatado ataques generalizados em pelo menos quatro bairros do município. Eram notícias de disparos de armas de grosso calibre, como metralhadoras, e de "blitzes" de bandidos interceptando motoristas e fazendo reféns. Um bando, que teria características do fenômeno chamado "novo cangaço", havia tomado a cidade de assalto com o objetivo de invadir e roubar uma transportadora de valores.
Naquele momento, relata Rodrigo, restou à população tentar se proteger, seguindo orientações que chegavam pelas redes sociais ou através de aplicativos de troca de mensagens por celular. Cercados por pelo menos 30 criminosos, que se espalhavam por vários pontos da cidade, eles tinham que se recolher, evitar janelas para escapar de uma verdadeira chuva de balas e, se possível, permanecer deitados no oômodo mais protegido da casa. Era uma reviravolta drástica na rotina, até então pacata, de Guarapuava.
"Aqui a gente ouve no máximo barulho de fogos. Quando começou a série de disparos, ficamos perdidos, apavorados. Eram tiros ininterruptos e, ao mesmo tempo, som de carros e motos de grande porte cortando a cidade. Algumas notícias davam conta de que pessoas estavam sendo paradas na Avenida Moacyr Júnior Silvestre e feitas reféns. Nós não sabíamos no que acreditar, só ouvíamos os estrondos. Certamente alguns eram de armas de grande poder bélico como a .50. Inclusive recebi muitos vídeos e fotos de disparos que fizeram buracos nas paredes, muitas casas ficaram marcadas por tiros", diz Rodrigo, que passou a noite, até por volta de 3h30, num quarto nos fundos de casa.
Como em Guarapuava não há tiroteios ou conflitos entre quadrilhas - embora haja notícias de que uma grande facção criminosa do Rio já esteja instalada no município -, a perpecção que logo se consolidou era de que se tratava de um ataque orquestrado. O primeiro alvo foi o 16º Batalhão da Polícia Militar. Assim que os bandidos começaram a atirar contra a construção, os policiais revidaram dando início a um confronto. Dois PMs se feriram. Eles estariam numa viatura quando foram alvejados. O veículo ficou com um buraco na lataria, que se assemelha a um disparo de .50. Um policial teria sido atingido no rosto e está em estado grave no Hospital São Vicente, e outro, baleado na perna, teve fratura exposta. Um terceiro policial teria se arrastado até o carro e assumido a direção para prestar socorro aos colegas, mas esta dinâmica ainda não foi esclarecida por comunicado oficial das autoridades de segurança.
Rodrigo acredita que o objetivo dos bandidos era encurralar a polícia enquanto outra parte do grupo seguia para a empresa Proforte, de transporte de valores. Segundo o radialista, que administra a página de notícias locais Agita Guarapuava, algumas pessoas enviaram relatos de que houve tentativa de invasão da empresa sem sucesso. O bando também teria feito disparos a esmo em bairros como Jardim das Américas, São Cristóvão e Vila Bela. Acredita-se que a intenção era provocar pânico e confundir os agentes de segurança. Apesar da tentativa de assalto, seguranças da Proforte teriam conseguido impedir a invasão das dependencias da empresa. Os criminosos teriam fugido em direção ao interior.
"Soubemos que as estradas de acesso à cidade também foram fechadas. Durante a madrugada, carros blindados do Exército foram para ruas, era possível ver eles circulando, o que pode ter contribuído para a retomada da normalidade. Mas o clima ainda era de pavor porque circulavam fake news de que eles tinham invadido o batalhão e matado 12 policiais e que tinham entrado na empresa, onde todos os funcionários teriam sido mortos. Foi algo fora do comum, que nunca será esquecido", conta o radialista.
Entre no canal do Último Segundo no Telegram e veja as principais notícias do dia no Brasil e no Mundo.