Bombeiro que atropelou e matou ciclista não tem doença mental
Em exame psiquiátrico, capitão João Maurício Correia Passos contou ter se jogado em um córrego com jacarés até retomar a consciência após a morte do taxista
O exame de insanidade mental pelo qual passou o capitão do Corpo de Bombeiros João Maurício Correia Passos — réu por homicídio culposo na direção de veículo automotor por atropelar e matar o taxista aposentado Cláudio Leite da Silva — concluiu que o oficial era totalmente capaz de entender o caráter criminoso do fato, ocorrido em janeiro do ano passado. De acordo com o laudo do Instituto de Perícias Heitor Carrilho, ele não apresenta sinais clínicos de doença mental tampouco de dependência química, no entanto, é usuário nocivo de álcool - na ocasião do acidente, foram divulgados vídeos que o flagraram bebendo vodka e uísque em um posto de gasolina minutos antes de assumir a direção do carro.
No documento, ao qual O GLOBO teve acesso, o médico psiquiátrico Carlos Roberto Alves de Paiva atesta que na história de vida de João Maurício Correia Passos em momento algum se evidencia descuido com a organização pessoal ou cuidados com a integridade física, características dos dependentes químicos de álcool. Na narrativa do próprio, não há provas de licenciamento do trabalho ou de tratamentos anteriores ao atropelamento devido ao suposto vício.
O profissional afirma que, no dia do exame pericial, que fora determinado pela juíza Luciana Fiala de Siqueira Carvalho, da 31ª Vara Criminal da capital, João Maurício compareceu com trajes e aparência pessoal denotando “apuro e vaidade”, de porte físico a demonstrar “cuidados regulares com a sua saúde pessoal”. Para o médico, esses foram um “conjunto de sinais que não combinam com uma história clínica comum daqueles que são efetivamente dependentes químicos de álcool”.
Ao médico, o capitão dos bombeiros atribuiu o uso excessivo de bebidas alcoólicas a uma “situação pessoal afetiva dolorosa com o adoecer de sua esposa, que pouco a pouco, foi se modificando quando o perito leu documentação no processo que apontava medida protetiva contra ele, que passou então a culpar os ciúmes dela os desentendimentos conjugais”.
O perito mencionou ainda que, “num discurso claramente organizado previamente, mas efetivamente distante e frio”, João Maurício descreveu sua formação profissional em salvamento de vidas, não para demonstrar consternação com a gravidade do acidente e morte de uma pessoa, se não para justificar seu ato, mas para pelo menos diminuir sua responsabilidade”.
Seguindo essa linha, pontua Carlos Roberto Alves de Paiva, o oficial construiu sua versão para ter fugido do local sem prestar socorro à vítima, descrevendo de maneira teatralizada sua condição de inconsciência ao ter, segundo ele, permanecido na sequência imediata aos fatos, jogado num córrego onde habitam jacarés até recobrar a consciência.
O médico psiquiátrico atesta que, mesmo estando sob o efeito do álcool no momento do acidente, não há dados que comprovem sua versão de inconsciência naquela ocasião, e conclui que ele era “inteiramente capaz de entender seu caráter ilícito — e por ele de determinar-se”.
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