A Escola Pedro Ernesto, no Humaitá, começou o ano letivo em formato presencial, e a preocupação é com o lado pedagógico, mas também com a baixa adesão à campanha de imunização infantil
Fabiano Rocha/Agência O Globo - 05.04.2022
A Escola Pedro Ernesto, no Humaitá, começou o ano letivo em formato presencial, e a preocupação é com o lado pedagógico, mas também com a baixa adesão à campanha de imunização infantil

Hoje, dois anos após o início da pandemia no Brasil , mais de 80% das redes municipais de educação estão com aulas totalmente presenciais, sendo que 93% realizam atividades presenciais cinco vezes por semana . Uma pesquisa realizada pela União dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) com apoio do Unicef e Itaú Social ouviu 3.372 municípios, o que representa 22,8 milhões de matrículas, e atestou que, nesse momento de volta às escolas, o maior desafio das direções vem sendo elaborar planos de recuperação da aprendizagem. Em relação à vacinação, apenas 37% das redes responderam que irão pedir cartão das vacinas aos alunos, mas a minoria desses impedirá o acesso.

A pesquisa dividiu as repostas de adesão às aulas presenciais por segmentos, e em todos os casos a resposta foi alta. Nas turmas de anos iniciais e anos finais, 88% das redes responderam que estão com aulas totalmente presenciais. A menor taxa foi em relação às creches, ainda assim somente pouco abaixo, com 84,6% de aulas presenciais.

O levantamento também fez uma divisão por escolas urbanas, de campo e especiais. Nas unidades do campo a quantidade de escolas com aulas híbridas ou remotas foi levemente maior que as urbanas, assim como no caso das especiais.

Recuperação de aprendizagem

Mesmo com o retorno quase total às salas de aula, os impactos da pandemia ainda causam consequências. Por isso, a pesquisa perguntou sobre estratégias elaboradas pelas escolas. Em 77% dos municípios pesquisados, os planos de recuperação de aprendizagem, bastante afetado pelo longo tempo de ensino remoto, estão sendo preparadas pela Secretaria municipal de Educação e enviadas às escolas. Já outros 20% estão deixando a escolha das estratégias a cargo de cada unidade escolar.

A principal ferramenta, por enquanto, tem sido as avaliações diagnósticas de defasagens de aprendizagem: 60% das redes estão aplicando avaliações em todas as escolas e 33% fazem esse diagnóstico por meio de avaliações que as próprias escolas elaboram. Segundo professores e diretores, um dos principais problemas foi a forma apressada com a qual alguns conteúdos acabaram sendo ensinados durante a pandemia, já que o calendário letivo foi duramente afetado.

"É muito importante que, tanto no processo de recomposição quanto no de recuperação, nós tenhamos consciência que se trata de intensificar e fortalecer as aprendizagens. Aquilo que durante o período mais crítico nós tivemos de fazer da forma como foi possível, mas com a certeza de que ficaram lacunas. Que seja uma intensificação e fortalecimento do processo ensino-aprendizagem nas escolas" explicou Luiz Miguel Martins Garcia, presidente da Undime e dirigente da Secretaria de Educação de Sud Mennucci (SP).

Questionadas sobre como estão organizando a recomposição e a recuperação de aprendizagem, 69% das redes disseram que realizam, ou vão realizar, atividades dentro do turno escolar; e 54% têm, ou terão, atividades presenciais no contraturno escolar. As principais dificuldades de implementação de estratégias de recomposição e recuperação da aprendizagem estão relacionadas ao contraturno escolar, incluindo acesso à Internet para estudantes e professores, transporte e alimentação. 

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Desenvolvida pela Unicef, em parceria com a Undime, o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasens), e o Colegiado Nacional de Gestores Municipais de Assistência Social (Congema), a plataforma Busca Ativa Escolar foi apontada por 78% das secretarias como principal método para encontrar estudantes que não têm acompanhado as aulas ou que estão em risco de evadir.

"Mesmo antes da pandemia, milhões de crianças e adolescentes mais vulneráveis estavam sendo deixadas para trás. Neste momento em que o país está retomando as aulas presenciais, não podemos apenas voltar ao ‘normal’. Precisamos de um novo normal: com cada criança e adolescente na sala de aula, com diagnósticos precisos das aprendizagens de cada um e apoio intensivo para superar barreiras e retomar a aprendizagem. Para isso, é essencial que educadores e escolas recebam cada criança e adolescente com uma atenção especial para facilitar a sua retomada da aprendizagem, e que professores tenham o suporte que precisam para isso, com formação e recursos" afirmou Florence Bauer, representante do UNICEF no Brasil.

Sem passaporte sanitário

Apesar do avanço da vacinação no país, apenas 40% das redes responderam que a imunização infantil contra a Covid-19 já foi iniciada em suas respectivas cidades, e 53% disseram que há previsão ainda para este primeiro semestre. A maioria, porém, disse que há boa aceitação dos pais e responsáveis sobre a vacina (63%), contra 20% que identificou resistência e baixa procura.

A criança não vacinada dificilmente será impedida de assistir às aulas. Somente 37% das redes responderam que irão exigir passaporte sanitário. Dentro desse universo, apenas 8,7% afirmou que o aluno será impedido de entrar na escola, enquanto 37,5% respondeu que não impedirá o acesso e 47% das redes vão comunicar o Conselho Tutelar sobre o caso. 

O pedido por comprovante de vacinação aumentou no tratamento aos profissionais das escolas: 56% dos entrevistados disseram que vão pedir a carteirinha de seus funcionários, mas em 38% dos casos a resposta foi de que a carteirinha só será pedida para fins de "monitoramento".

Em relação aos protocolos adotados no caso de contaminação de um aluno ou funcionário por Covid-19, 76% das redes responderam que é feito o isolamento da pessoa infectada, sem necessidade de fechamento da escola. Já 15% preveem o isolamento de toda a turma do aluno contaminado, e 4% preveem isolamento de toda a escola. 

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