'Forjava histórias com pessoas humildes', diz ex-assessor de vereador

Ex-funcionários da equipe do vereador contam que sofriam assédio e tinham que levar entrevistados a inventarem situações durante gravações

O vereador Gabriel Monteiro, acusado de assédio por ex-funcionários
Foto: Reprodução/Redes Sociais - 28.03.2022
O vereador Gabriel Monteiro, acusado de assédio por ex-funcionários

Durante quase um ano  o ex-assessor parlamentar e editor de vídeo Heitor Monteiro Lobby, de 21 anos, trabalhou para o vereador, ex-policial e youtuber Gabriel Luiz Monteiro de Oliveira (sem partido). Horas após denúncias serem apresentadas no domingo em reportagem do “Fantástico”, ele contou ao GLOBO que os assessores de Monteiro eram obrigados a “forjarem histórias” e que vídeos do político “eram flagrantes preparados”. O programa da TV Globo exibiu os depoimentos de cinco pessoas que teriam sido vítimas do parlamentar.

"A equipe ia na frente para fazer a busca do perfil de crianças que ele queria e pedia: negras, carentes e com uma história triste. A partir daí ele instruía a gente a piorar a narrativa. A gente instruía e induzia a criança a contar certo tipo de coisa que ela não estava passando naquele momento. Às vezes a gente pegava uma criança que estava sentada no sinal, só acompanhando a mãe, e dizia pra ela contar que estava ali trabalhando para ajudar os pais. Mas ela não estava trabalhando, apenas acompanhando a mãe" conta Heitor Monteiro.

O GLOBO procurou Monteiro por telefone e por e-mail, que não respondeu até a publicação desta reportagem.

O editor de vídeo diz ainda na denúncia que as gravações eram preparadas.

"A gente era coagido por ele a prometer para as pessoas que elas ganhariam dinheiro. O que mais doía era quando ele pedia para a gente forjar histórias com pessoas humildes" afirma.

'Beijar à força', acusa ex-assessor

Heitor destaca também que era comum o vereador “sentar no colo e tentar beijá-lo” à força. O editor de vídeo disse que vai processar o parlamentar por calúnia e difamação. O assessor pediu exoneração na última sexta-feira (25).

"Eu trabalhei com ele do final de maio até a última sexta-feira, após eu achar um suporte para eu me expressar e fazer essa denúncia" conta Heitor.

Gabriel Monteiro foi o terceiro vereador mais votado nas eleições de 2020, com mais de 60 mil votos. Na internet, tem 23 milhões de seguidores. Mas a popularidade que ganhou nas redes não é partilhada por seus colaboradores. Além de Heitor, outras quatro pessoas denunciam o parlamentar por vários crimes, entre eles assédio e estupro. Monteiro nega todas as acusações.

Heitor relata que, em agosto do ano passado, Gabriel Monteiro forjou que tinha sofrido um atentado em Quintino , na Zona Norte do Rio. À época, o parlamentar disse que estava realizando uma ação social quando ele e sua equipe foram atacados por criminosos.

"Eu estava lá naquele dia do tal tiro. Íamos fazer uma festa de aniversário, e ele forjou o atentado" acusa o ex-assessor.

'Ele sentava no nosso colo e pedia beijo'

Heitor conta que era normal Gabriel Monteiro assediar seus assessores. Ele destaca ainda que o parlamentar “gostava de se masturbar perto deles e se vangloriar do tamanho do pênis”. Ele diz que também era comum o parlamentar apalpá-los sem consentimento.

"Ele chegava e começava a roçar nas pessoas. Fui assediado diversas vezes. Às vezes, estávamos editando, eu e o Mateus (Souza, ex-assessor parlamentar de Monteiro), e ele sentava no nosso colo. Era comum. Sentava e tentava beijar a gente à força. Aconteceu coisa pior com a Luiza (Batista, também ex-assessora parlamentar). Ele também colocava o pênis para fora, se masturbava e ficava se vangloriando do tamanho do pênis. Isso tudo acontecia na casa dele. A gente ficava lá no mínimo 12 horas trabalhando" afirma o ex-assessor ao GLOBO.

Ex-assistente de produção de Monteiro, Luiza Batista gravava vídeos para as redes sociais do vereador e contou ao “Fantástico” que ele a abraçava por trás, dizia que a amava, beijava o seu rosto e andava nu:

“Uma vez foi no carro. Ele começou pedindo pra fazer massagem no meu pé (...). Eu tentava tirar o pé e ele segurava. Aí foi começando a passar a mão nas minhas pernas. Foi para o banco de trás e começou a me agarrar, me morder, me lamber”.

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