Petrópolis: resgates precisam de reforços, diz especialista
Professor do Programa de Pós-Graduação em Segurança e Defesa Civil da UFF, Elson Antonio do Nascimento diz ser preciso evitar aglomeração
O governador do Rio, Cláudio Castro, já disse que o número de bombeiros atuando nos resgates a pessoas soterradas em Petrópolis, onde as chuvas deixaram mais de 130 mortos, é suficiente, apesar das queixas de moradores a respeito da ausência de equipes de resgate em locais onde houve deslizamentos. Secretário estadual de Defesa Civil, o coronel Leandro Monteiro afirmou também que a presença de muitas pessoas em áreas de buscas, inclusive bombeiros, atrapalharia a operação. No entanto, para o professor do Programa de Pós-Graduação em Segurança e Defesa Civil da Universidade Federal Fluminense (UFF), Elson Antonio do Nascimento, as forças de salvamento deveriam receber reforços.
— É importante não promover aglomerações num mesmo local de resgate. Acontece, porém, que Petrópolis tem muitos locais de resgate. Não adianta realizar uma busca intensa em um ponto e não ter recursos suficientes para outro. É importante ter o maior número de pessoas possível para atuar em diferentes locais, para encontrar possíveis sobreviventes e também para ações de prevenção a novos deslizamentos. Para salvar pessoas, é preciso pessoal e equipamento — pontua o especialista.
Atualmente, Petrópolis conta com 41 equipes de bombeiros, totalizando aproximadamente 500 profissionais. Desses, 79 são de outros estados. A Defesa Civil também tem 16 cães farejadores próprios, capazes de trabalhar por até 12 horas seguidas. Outros 36 cães foram enviados por diferentes governos estaduais nos últimos dias.
Ao G1, Castro disse nesta quinta-feira que as equipes municipal e estadual de Defesa Civil “estão dando conta”, e por isso não seria necessário pedir reforço. No entanto, em diferentes áreas fortemente afetadas pelas chuvas, como Caxambu e Chácara Flora, a população se queixa de haver poucos bombeiros realizando as buscas. O governo estadual também ainda não respondeu à oferta de ajuda das polícias de Minas Gerais e do Paraná para apoio nos trabalhos técnico-científicos para identificação das vítimas.
Até agora, desde o temporal de terça-feira, a cidade somou 24 locais com evento. O termo que pode compreender desde avalanches a ocorrências de menor gravidade, em que ninguém corre risco de morte. Contudo, a maior parte dos locais com evento registrados em Petrópolis tem relação com deslizamentos.
Castro disse também que aumentar o número de bombeiros na cidade criaria “mais confusão” e “dificilmente ajudaria a população”:
— Não adianta ter gente demais aqui. Há um problema sério de trânsito. O local ainda está instável. Não adianta botar 2, 3, 4 mil pessoas ali.
Em entrevista ao RJ1, Leandro Monteiro disse nesta sexta-feira que as buscas priorizam locais com mais chances de ter sobreviventes, e que o efeitvo de militares disponível na cidade bastava.
— Não há mais necessidade de bombeiros trabalhando em área quente (com possível presença de sobreviventes). Quanto mais pessoas trabalhando, mais difícil é o trabalho dos bombeiros. É um trabalho que tem que ser feito em silêncio — argumentou.
Professor de Engenharia de Produção da Coppe/UFRJ e especialista em Logística Humanitária, Tharcisio Fontainha destaca a demora para a chegada das Forças Armadas, que podem ser acionadas em circunstâncias de desastre naturais e contam com recursos e pessoal especializado para as operações de resgate.
— Há um fato internacionalmente reconhecido de que, em caso de soterramento, 72 horas é o prazo para mantermos grandes esperanças de sobrevivência. As chuvas em Petrópolis começaram na terça à tarde e as Forças Armadas só chegaram na quinta de manhã. Por quarenta e oito das 72 horas ficamos sem um auxílio que poderia ser decisivo, já que as Forças Armadas contam com recursos importantes para a resposta — diz o especialista.
Segundo ele, há lógica em priorizar as buscas em locais com chances de haver sobreviventes. Faz sentido, por exemplo, dar maior atenção a uma área onde os resgates revelam mais soterrados com vida, deixando para outro momento os pontos em que os bombeiros detectam a presença de muitos corpos. O engenheiro frisa, contudo, que tal protocolo deve ser muito bem comunicado à população, para que cenas de civis revirando entulhos com as próprias mãos em busca de parentes não sejam frequentes, como têm sido.
Em se tratando de obter reforço para o plano de contingência, o trânsito provocado por mais bombeiros na cidade é algo contornável, pontua Fontainha.
— As Forças Armadas têm capacidade de auxiliar na resposta. Em relação aos locais de difícil acesso, temos a Força Aérea, que permite uma chegada rápida. Ou seja, há várias alternativas — afirma.
Ele acrescenta que o componente mais importante das operações de resgate é a inteligência.
— Você pode ter cem ou mil bombeiros, o que importa é se você tem um centro de inteligência para planejar a resposta integrando todos os membros da sociedade, inclusive empresas e ONGs. O governo, sozinho, não dá conta de responder à tragédia — afirma. — Os desabrigados precisam, por exemplo, de quentinhas, que estão sendo distribuídas. Alguns voluntários em Petrópolis, no entanto, estão fazendo cestas básicas, que não são práticas neste primeiro momento, já que muitas famílias não têm condições de cozinhar. Seria pertinente redirecionar esses voluntários para outra atividade prioritária.