Câmera mostra que jovem preso no Jacarezinho tinha ido comprar pão
Yago Corrêa de Souza, de 21 anos, foi detido por, supostamente, estar associado ao tráfico de drogas após correr com a aproximação de carro da polícia
Imagens de câmeras de segurança mostram o momento em que Yago Corrêa de Souza, de 21 anos, preso no último domingo por, supostamente, estar associado ao tráfico de drogas na Favela do Jacarezinho, na Zona Norte, entra em uma padaria para comprar pão para um churrasco de família, na comunidade, ocupada pelo programa Cidade Integrada desde 18 de janeiro. Parentes do jovem, que trabalha como entregador, contam que ele é inocente e que, no momento da prisão, Yago apenas tinha ido passado em uma farmácia para se abrigar de uma "correria de policiais militares". Nesta terça-feira, o rapaz passará por uma audiência de custódia na Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, também na Zona Norte, às 13h.
As imagens reforçam a versão da família. Em um dos vídeos, feito na padaria, às 19h34m, Yago aparece de bermuda jeans e camisa do Flamengo comprando pão. O vídeo mostra a atendente servindo ao menos sete pães a Yago, que pega o pedido e caminha em direção à porta do estabelecimento.
A outra gravação é de câmeras da farmácia para onde familiares do jovem e uma testemunha contam que Yago correu ao notar uma confusão na rua envolvendo policiais militares.
Nas imagens da drogaria, não é possível saber qual é o horário em que Yago aparece entrando às pressas na drogaria e com as mãos levantadas, como se estivesse se rendendo. Em uma das mãos ele segura o saco com pães. Em seguida, um PM com um fuzil também entra no local apontando a arma na direção de Yago. Em seguida, o jovem é levado pelo policial militar enquanto outras pessoas observam a cena.
A Polícia Militar informou que, no momento do incidente, uma equipe do Batalhão de Polícia de Choque que patrulhava as imediações da Travessa Amaro Rangel e vielas da comunidade do Jacarezinho se deparou com duas pessoas — Yago e um adolescente — que correram ao avistarem os policiais. Ainda segundo a corporação, eles foram encontrados com drogas. Mas, de acordo com os agentes da delegacia para onde Yago e o menor de idade foram levados, a bolsa com 32 pinos de cocaína, 32 papelotes de skunk e 58 papelotes de maconha estava com o adolescente. Os PMs que fizeram a abordagem deduziram que os dois estavam juntos.
Ao saber da prisão do jovem, familiares foram até a delegacia. Poucas horas depois de ouvir os pedidos e relatos dos parentes, ainda durante a madrugada, o delegado responsável pelo caso formalizou o pedido de soltura de Yago. No documento, ele afirma que "logo após o término do procedimento surgiram fatos novos relevantes que geraram uma dúvida razoável em favor da não imputação pela prática de tráfico de drogas e associação ao tráfico".
'Eu só queria comprar um pão'
Com um cartaz com a frase "Eu só queria comprar um pão", vendedora Érica Corrêa de Souza, 37 anos, faz uma manifestação na porta da Cadeia Pública José Frederico Marques. Ela é a irmã mais velha de Yago. Érica conta que a família fazia um churrasco, que do o irmão quis comprar pão para assá-los com alho. Sem advogado de defesa, a família diz que o delegado Marcelo José Borda Carregosa, que assinou a prisão, teria orientado a família a ir para a porta da prisão tentar um defensor para soltar o rapaz.
"São sete irmãos e somos muito unidos. O Yago nunca teve passagem pela polícia e o sonho dele era ser jogador futebol e infelizmente não pode realizar o sonho dele. Por conta disso, ele teve que seguir a vida", conta Érica, que completa:
"Moramos em comunidade, ele estava usando camisa do Flamengo, andando na rua a noite e para eles todos nós somos traficantes. O procedimento seria eles terem pedido a identificação. Eles até poderiam ter desconfiado dele, mas teriam que pegar a identificação. Eles levaram o Yago e desde domingo ele está preso. Hoje o que eu quero é tirar o Yago e levar ele para casa, lugar que ele nunca deveria ter saído".
Segundo familiares, foi uma amiga que avisou aos parentes que o rapaz havia sido preso. Eles moram na localidade conhecida como Quadra do Mosquito . O entregador, entretanto, foi preso na Rua Amaro Rangel, na principal da favela.
"Ali todo mundo se conhece, e uma amiga estava próxima. Ela viu o meu irmão sendo arrastado e eles foram nos avisar. Minha tia já chegou na hora que eles estavam levando ele. Os vizinhos ainda disseram que era inocente. Houve um tumulto porque as pessoas não queriam deixar que ele fosse preso".
Desde domingo Érica peregrina por órgãos públicos em busca de um advogado para soltar seu irmão.
"Já fui na Defensoria Pública, no Centro e nada. Não temos condições de pagar um advogado para tirar o meu irmão daqui. Eu imploro para que nos ajudem. Só quero tirar o Yago daqui", desabafou.
Tratamento contra tuberculose
A família diz que Yago toma medicamento para tuberculose, já que ele faz tratamento contra a doença, e que desde o dia da prisão não está recebendo a medicação.
"O meu irmão parou de estudar porque contraiu a doença. Desde então ele precisa tomar a medicação rigorosamente. Mas, desde o dia da prisão, ele não toma os comprimidos. Estou muito preocupada", contou Érica.
De acordo com policiais civis da 25ª DP, depois que o adolescente que estava com as drogas foi levado para a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente, eles notaram que Yago ficou mais calmo e conseguiu se expressar melhor.
Yago deve ser solto ainda na tarde desta terça-feira. A expectativa é que ele responda ao processo em liberdade.