6 réus por linchamento no Maranhão em 2015 ainda não foram julgados
Foto de Cleidenilson Pereira da Silva amarrado a um poste, já sem vida, gerou grande repercussão no país
Em meio à repercussão relativa à morte de Moïse Mugenyi Kabagambe, espancado brutalmente até a morte em um quiosque na Barra da Tijuca, a impunidade que reina no que diz respeito a um outro linchamento que causou comoção no país serve como alerta à sociedade e às autoridades sobre o caso do imigrante congolês. Em julho de 2015, em São Luís, capital do Maranhão, Cleidenilson Pereira da Silva, então com 29 anos, um homem negro como Moïse, chegou a ser amarrado a um poste enquanto era agredido por, segundo a Polícia Civil e o Ministério Público, pelo menos nove pessoas. Passados quase sete anos do episódio, seis réus ainda não foram sequer a julgamento, enquanto outros três acabaram absolvidos pelo Tribunal do Júri em dezembro de 2020.
Se o rapaz congolês, de 24 anos, teve pés e mãos amarrados, em uma cena filmada pelas câmeras de segurança do Quiosque Tropicália, uma foto de Cleidenilson atado ao poste, já sem vida, também virou símbolo da barbárie. Ele recebeu socos, chutes e até golpes com uma garrafa de vidro quebrada, que causaram os ferimentos fatais. Antes, ele havia tentado roubar um bar na companhia de um jovem de 17 anos, que também foi espancado e sobreviveu.
Os nove acusados foram enquadrados no crime de homicídio duplamente qualificado — por meio cruel e sem chance de defesa, além da tentativa de homicídio contra o adolescente. Em agosto de 2020, já mais de 5 anos após a morte de Cleidenilson, o juiz Gilberto de Moura Lima, da 2ª Vara do Tribunal do Júri, desmembrou o julgamento em dois, sob o pretexto de reduzir o número de presentes em virtude da pandemia da Covid-19.
Quatro meses depois, em dezembro, os três primeiros envolvidos no caso sentaram, enfim, no banco dos réus. Alex Ferreira Silva Sousa, Raimundo Nonato Silva e Felipe Dias Diniz acabaram absolvidos, já que os jurados entenderam que não havia provas de autoria suficientes contra o trio. O julgamento dos outros seis acusados estava, então, marcado para dois dias mais tarde.
Na data da audiência, porém, o advogado de um dos réus não compareceu ao Fórum, o que forçou um adiamento. Até novembro do ano passado, o julgamento de Elio Ribeiro Soares, Ismael de Jesus Pereira de Barros, Waldecir Almeida Figueiredo, Ivan Santos Figueiredo e Marcos Teixeira Ribeiro Soares aparecia no processo como previsto para o próximo dia 22, daqui a duas semanas, às 8h30. Em dezembro, a data foi retificada, passando para 22 de março, um mês mais tarde.
A denúncia do promotor Agamenon Batista de Almeida Júnior, aceita pela Justiça em junho de 2016, descreve qual teria sido a participação de cada um dos nove acusados no linchamento. Entre eles, estão o dono do bar que sofreria o assalto e o filho do comerciante, além de dois dos três clientes presentes no momento em que Cleidenilson, armado, anunciou o roubo.
O texto de dez páginas frisa que, "impelidos por sentimento de vingança" após a tentativa de assalto, os envolvidos agiram "usurpando a função do Estado de julgar e de punir". Já Cleidenilson e o adolescente, para o promotor, passaram de "de pretensos réus" a "vítimas da barbárie vingativa dos denunciados".
Até o dia em que foi morto, Cleidenilson Pereira da Silva jamais havia respondido na Justiça por qualquer delito, tampouco tinha passagens pela polícia. O adolescente que o acompanhava também não possuía, até então, nenhum tipo de anotação criminal.