Caso Moïse: PM supostamente envolvido depõe sobre assassinato

Concessionária afirma que cabo ocupa irregularmente quiosque que fica ao lado da cena do crime, mas defesa de policial nega

Caso Moïse: PM supostamente envolvido depõe sobre assassinato
Foto: Reprodução
Caso Moïse: PM supostamente envolvido depõe sobre assassinato

As investigações sobre o  assassinato do congolês Moïse Mugenyi Kabagambe já levaram à prisão de três suspeitos — flagrados em vídeo cometendo o crime — e trazem outros desdobramentos. Ontem, a Orla Rio, concessionária à frente dos quiosques, emitiu nota esclarecendo que o cabo da PM Alauir Mattos de Faria não é o operador responsável pelo quiosque Biruta e está à frente do negócio de forma irregular.

O estabelecimento é colado ao quiosque Tropicália, na altura do Posto 8 da Barra, Zona Oeste do Rio, onde Moïse, de 24 anos, foi espancado e morto na noite de 24 de janeiro. Em depoimento na Delegacia de Homicídios da Capital, um dos agressores do congolês disse trabalhar no Biruta.

Segundo a concessionária, há um processo judicial em trâmite para reintegração de posse do espaço. Ainda ontem, o PM prestou depoimento na Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) como suposto dono do Biruta.

Os investigadores queriam entender se o policial, que é lotado no 41º BPM (Irajá), conhece os agressores do congolês, se, de fato, algum deles trabalhava em seu estabelecimento e quais eram suas funções. Mas a defesa do PM negou que Alauir seja dono do negócio.

A Orla Rio informou que o contrato para a administração do Biruta foi celebrado com o operador Celso Carnaval, que, sem o consentimento da empresa, entregou o quiosque a Alauir.

Segundo a concessionária, o ex-operador já foi notificado por conta dessa e de outras irregularidades que estavam sendo cometidas, mas, como o mesmo não as sanou, foi feita a rescisão do contrato e, em julho de 2021, teve início uma ação judicial para reintegração de posse. Entre os desvios identificados estão a não comprovação da regularização dos funcionários, falta de observância das normas sanitárias e inadimplência.

Prisões mantidas

Os juízes Rafael de Almeida Rezende, Pedro Ivo D’Ippolito e Mariana Tavares Shu mantiveram as prisões temporárias dos três suspeitos de terem espancado Moïse até a morte.

Fábio Pirineus da Silva, o Belo, Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca, o Dezenove, e Brendon Alexander Luz da Silva, conhecido como Tota, passaram por audiências de custódia no início da tarde de ontem, na Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, na Zona Norte. Na noite do crime, eles foram flagrados por uma câmera de segurança agredindo a vítima com socos, chutes e até um taco de beisebol.

As prisões de Fábio, Aleson e Brendon foram decretadas no plantão judiciário, na madrugada de anteontem, pela juíza Isabel Teresa Pinto Coelho Diniz, após pedido feito pela DHC.

No parecer, a promotora Bianca Chagas escreveu: “Frise-se, ainda, que as imagens comprovam toda a ação delituosa em seu mais alto grau de crueldade, perversidade e desprezo pela vida – o bem jurídico mais importante de todo ordenamento”.


Intimidação

Parentes do jovem congolês afirmam que foram intimidados por dois policiais militares do 31º BPM (Recreio) que atenderam a ocorrência. Eles contaram que a primeira vez teria sido logo após a morte de Moïse, quando estiveram no quiosque Tropicália, em busca de informações sobre o crime.

A situação teria se repetido no último sábado quando um grupo fez um protesto na Barra. A informação das intimidações foi revelada pelo jornal Folha S. Paulo e confirmada pelo Globo com pessoas ligadas à vítima.