Mulher que sofreu agressão policial com seu bebê diz que tentou gritar socorro

Ela disse ao Uol que gritou ‘socorro, mas a voz não saia’ diante do peso do PM que se ajoelhou em cima dela

Foto: Reprodução
Katlinara em vídeo, sendo imobilizada com joelhada no pescoço

Katlinara Vitória da Silva Alexandre, de 18 anos, que foi agredida por policiais militares em Itabira (MG) enquanto segurava no colo o seu filho de um ano, estava indo fazer compras com o seu namorado, de 25 anos, e seu enteado, de 7 anos. 

O vídeo da ação , em que um PM ajoelha nas costas da jovem antes de algemá-la provocou reação nas redes sociais.

Segundo ela, os policiais chegaram apontando uma arma para o veículo onde estavam para abordá-los. Ela foi imobilizada e um agente ajoelhou no pescoço da jovem antes de algemá-la. Tudo isso enquanto ela segurava o bebê.

Ao Uol, ela afirmou que ainda sente dores, que o enteado teve ferimentos leves e que o bebê chegou a bater a cabeça no chão, mas até o momento, todos aparentam estar bem fisicamente. "Mas traumatizados", adiciona ela.

Sua bolsa continha uma arma, que era do seu namorado. Ele foi autuado em flagrante por porte ilegal de arma, pagou fiança e responde ao crime em liberdade.

Narrando a situação, ela destacou que "no momento que eles estavam revistando o meu namorado, eu liguei para a madrinha do meu filho e pedi para ela descer no centro para me ajudar, porque não entendia o que estava acontecendo. E foi nesse momento que um dos policiais veio para o meu lado".

"Eu pedi então para que uma mulher me revistasse; que eu não ia ser revistada se não fosse por uma policial feminina. Aí ele disse que eu tava negando a abordagem", explica.

“Eu caí com o meu filho. Eu caí de joelho para diminuir o impacto. Eu ralei o joelho, tive algumas escoriações. Comecei a tentar gritar socorro e o policial algemou a minha mão. No momento que ele puxou o outro braço, meu filho caiu e bateu a cabeça", diz ela.

“Eu senti falta de ar e o único pensamento que eu tinha era o meu filho, ele precisava de mim. Na hora, eu comecei a gritar socorro, mas a voz não saia. Uma mulher começou a gritar pedindo para parar, porque eu estava com falta de ar. Mas ele parecia que não estava se importando”, declara.

Ela foi algemada e levada para delegacia sem saber o motivo. De acordo com ela, apenas na delegacia entendeu que o motivo da abordagem foi uma denúncia que fizeram contra o namorado dela, sobre o porte de uma arma.

"Em nenhum momento eu vi esse revólver. Mas acho que independentemente de ser uma abordagem policial, deles estarem procurando por algo ou não, isso que aconteceu é uma coisa desnecessária, porque a gente já presenciou um americano negro [George Floyd] morrendo por esse mesmo fato, pelo policial ter ajoelhado, ele ter pedido socorro, mas o policial não se comover e seguir querendo simplesmente prender", defende ela.

“Não era como se eu estivesse debatendo ou lutando para fugir, mas eu estava com o meu filho no colo. Os policiais não tiveram empatia com as crianças. A única coisa que passava na minha cabeça era proteger. Tudo foi muito pesado. O único intuito foi de proteger as crianças, principalmente com o que estava acontecendo com o pai delas”, disse.

O MPMG (Ministério Público de Minas Gerais) instaurou Procedimento Investigatório Criminal para apuração do caso "diante de indícios de violações de direitos e desvios funcionais supostamente praticados por policiais militares em abordagem a uma mulher acompanhada de crianças".