Rio registra conflito entre líderes de milícias por exploração de vans

Em troca de taxas, miliciano Tandera já havia ameaçado incendiar veículos

Foto: Reprodução/redes sociais
Policiais liberam Avenida Santa Cruz

As oito vans incendiadas, na última quinta-feira (16), em bairros da Zona Oeste do Rio, que tem a milícia liderada por Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho , teria um recado além do enfrentamento por parte do seu principal inimigo, Danilo Dias Lima, o Tandera: a coação aos motoristas do transporte alternativo.

Investigações da Polícia Civil apontaram que Tandera estaria tentando extorquir os motoristas das vans que circulam por Campo Grande, Santa Cruz e Sepetiba, os obrigando a pagar para ele a taxa ilegal para conseguir trabalhar.

De acordo com a corporação, além dessa exploração representar uma expansão territorial, ela também renderia um lucro exorbitante, já que cada dono de van tem que pagar de R$ 500 a R$ 700 por semana para o grupo de Zinho.

Segundo a apuração policial, antes dos ataques, Tandera, que atua principalmente na Baixada Fluminense, foi aos pontos finais dos coletivos e avisou aos despachantes das linhas que se eles não pagassem a ele, iria atear fogo nos veículos.

Delegacia de Campo Grande apura dois ataques

O primeiro atentado aconteceu no início da madrugada do último dia 16. Logo depois da meia noite, quatro ocupantes de um Vectra cinza fecharam uma van da linha Pedra x Campo Grande, quando ele descia o viaduto próximo da Delírio da Zona Oeste.

A 35ª DP (Campo Grande) apurou que um dos criminosos desceu do carro armado com uma pistola para abordar o motorista, entrou no coletivo e ordenou que ele seguisse o Vectra.

Na Rua Almerindo de Castro, os bandidos, que seriam ligados a Tandera, mandaram o motorista descer e sair sem olhar para trás, e, em seguida, incendiaram a van. Todos estavam vestidos de preto, encapuzados e armados, de acordo com a polícia.

Os outros crimes aconteceram já durante a manhã. Por volta das 9h, no ponto final das vans, na Rua Toledo, na localidade do Campinho, cinco homens usando roupas pretas e portando fuzis, chegaram em um veículo Ônix branco.

Eles teriam chegado gritando para os motoristas e cobradores não fugirem e ainda deram tiros para o alto. Neste local, os criminosos atearam fogo em duas vans. Os milicianos ainda incendiaram vans em Santa Cruz e Paciência.

Homicídios em Santa Cruz podem estar ligados a guerra entre milicianos rivais

Ainda na quinta-feira, dia 16, dois homens, que não tiveram suas identidades divulgadas, foram assassinados, em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio.

A Polícia Civil vai apurar se as vítimas, que foram executadas com tiros de fuzil, seriam fiscais de cobrança responsáveis por repassar o dinheiro das vans para a milícia do Zinho, e, por isso, foram assassinados pelo grupo do Tandera.

Disputa entre Tandera e Zinho levou clima de terror a moradores

A sequência de ataques acabou refletindo na rotina dos moradores de diversos bairros da Zona Oeste. Eles relataram que houve determinação de toque de recolher e proibição de circulação de transporte pelas ruas de Campo Grande, Santa Cruz, Sepetiba e Paciência.

Segundo os populares, a ordem veio ainda durante a tarde do dia 16, avisando que após às 17h os milicianos não queriam ver mais ninguém nas ruas.

Mesmo morando em Sepetiba, onde não houve ataques, um auxiliar de logística de 28 anos, que sai no final da tarde para trabalhar, acabou não conseguindo transporte e voltando para casa.

"O morador sempre fica a mercê, é a população que sofre no meio dessa guerra entre milicianos. Na quinta, nem consegui ir ao trabalho, não tinha como ir, não tinha van, e motorista de aplicativo também não queria rodar por aqui por medo. Costumo pegar a van em no máximo 20 minutos, fiquei uma hora e meia no ponto e nada. Fora o medo de ficar no ponto, de estar na rua", contou.

Morador de Santa Cruz, um jovem falou que o sentimento foi de desespero. "Eu estava a cerca de 300 metros de distância de onde ocorreram os tiros e o incêndio nas vans, na Avenida João XXIII. O sentimento foi de desespero, tudo fechou, não tinha ninguém na rua", desabafou.

Polícia aumentou as rondas para controlar a situação

Logo após tomarem conhecimento de que uma van foi incendiada pela milícia, ainda durante a madrugada do dia 16, policiais da 35ª DP (Campo Grande) foram para a reforçar o patrulhamento e fazer buscas pelos suspeitos.

O mesmo procedimento foi feito pela Polícia Militar. De acordo com o tenente coronel Ivan Blaz, porta-voz da PM, a corporação chegou a desmobilizar uma operação para ocupar a região dominada pela milícia.


"Assim que tomamos ciência dos primeiros ataques em Campo Grande e Santa Cruz, desmobilizamos uma operação na Vila Kennedy e concentramos os apoios de todos os batalhões da Zona Oeste naquela região. O Objetivo principal era estabilizar o terreno para que as linhas de vans que fazem o transporte da população até as rodoviárias e estações de BRT voltassem a circular", explicou o oficial.

Blaz também informou que por conta do clima de tensão, foi necessário ainda o apoio de equipes do Recom e do Batalhão de Choque, além de aeronaves, para reforçar o patrulhamento.