STF convoca 'ministro da Rússia' para completar sessão repleta de desfalques
Nos bastidores, parte dos ministros se incomodam com demora para sabatina de André Mendonça
Com tudo pronto para ser realizada e três ações que tratam de precatórios na pauta, a sessão de julgamentos do Supremo Tribunal Federal (STF) desta quinta-feira quase não aconteceu por falta de quórum. E só aconteceu porque contou com a participação do ministro Luís Roberto Barroso diretamente da Rússia -- que está seis horas à frente do Brasil.
Desde 12 de julho, quando o ministro Marco Aurélio Mello se aposentou, a Corte vem funcionando com apenas dez ministros. E nesta quinta, dos dez, apenas sete estariam pressentes -- número que impediria o julgamento de temas constitucionais.
A incomum escassez de ministros desta quinta-feira foi resultado de uma soma de fatores. Além da demora de dois meses do senador Davi Alcolumbre (DEM-AP) em pautar a sabatina do indicado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e dar andamento ao processo para a aprovação (ou rejeição) de André Mendonça, três ministros estavam fora de atuação: o presidente da Corte, Luiz Fux, Luís Roberto Barroso e Nunes Marques.
Judeu, Fux passou o dia 16 de setembro recluso, em jejum e oração em razão do Yom Kipur, o Dia do Perdão. Presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Barroso está na Rússia como observador convidado das eleições parlamentares e regionais do país, que acontecerão nos próximos dias. Fora por razões médicas, Nunes Marques completou o quadro de ausências justificadas.
Minutos antes de a sessão ser iniciada pela vice-presidente do STF, ministra Rosa Weber, e com tudo pronto para que as atividades começassem, um impasse sobre a realização ou não dos trabalhos foi criado. Sem ministros em número suficiente, a solução encontrada pela Corte foi chamar Barroso de emergência. Fora do Brasil desde o início da semana, o ministro, por exemplo, não participou da sessão de julgamentos desta quarta, quando o tribunal voltou a analisar o marco temporal de terras indígenas.
Nos bastidores do STF, a crise do quórum é vista como um dos aspectos dos prejuízos causados pelo desequilíbrio na composição dos ministros. Internamente, a demora do Senado em dar andamento à sabatina de André Mendonça não tem sido vista com bons olhos e incomoda parte dos ministros, que sentem alterado o funcionamento da Corte.
Com um ministro a menos, a chance de empate aumenta e, sem o voto de minerva para decidir as questões, alguns casos ficam travados. Foi o que se viu, por exemplo, no julgamento do caso sobre a inclusão do ISS na base de cálculo do PIS e da Cofins, discussão que é acompanhada de perto pelo governo federal. No final de agosto, quando a discussão já estava empatada, Fux pediu destaque e só deve retomar o caso quando o posto de 11º ministro da Corte for ocupado.
Esta semana, o julgamento que decidiria se detentas transexuais e travestis com identidade de gênero feminino podem escolher o presídio no qual cumprirão pena também terminou em empate, de cinco a cinco, e precisou ser paralisado. Agora, a análise do caso só será concluída quando o novo ministro for escolhido para compor o Supremo.
Nesta quinta, caso não tivesse havido pedido de vista (mais tempo para analisar a questão) e o julgamento tivesse continuado, o drama do empate poderia atingir um dos temais mais quentes do momento: precatórios. Um dos casos da pauta dizia respeito ao parcelamento das dívidas judiciais, mas a análise foi suspensa pelo ministro Gilmar Mendes.