Com a falta de chuvas e os rios cada vez mais secos no país, os brasileiros enfrentam uma das piores crises hídricas da história. Tal cenário, em um curto prazo, pode afetar o abastecimento de água e o fornecimento de energia elétrica nas casas e nos estabelecimentos comerciais por todo o território nacional - algo que já tem chamado a atenção de especialistas.
E tal preocupação se justifica. Segundo um levantamento feito pelo MapBiomas, o Brasil perdeu 15,7% de superfície de água nos últimos 30 anos, o equivalente a 3,1 milhões de hectares de superfície hídrica.
Diante de tais números, muitos brasileiros já se questionam se o país pode ficar sem água e às escuras. Para entender melhor a situação, o iG entrevistou especialistas em busca de respostas sobre como uma mudança de comportamento da população pode amenizar a crise hídrica no Brasil.
De acordo com o geólogo Pablo de Andes Fernández, uma das medidas que podem surtir um efeito positivo é a revegetação de áreas degradadas. “A vegetação, por meio da evapotranspiração [transferência de água à atmosfera por evaporação], contribui para as precipitações. A quantidade de água no planeta é constante, seja líquida, sólida ou vapor. Ou seja, a Terra não está perdendo água”, explicou o especialista.
Fernández também alertou para o reúso da água para determinadas atividades, como irrigação ou lavagens de locais públicos. “Desperdiçamos muita água que poderia ser reutilizada. Falta um trabalho mais assertivo neste sentido”, pontuou.
A oceanógrafa Fernanda Lima possui uma opinião semelhante à de Fernández em relação às áreas verdes. "Perdemos muito de nossa vegetação por causa de um desmatamento provocado pelo agronegócio e pela mineração, por exemplo. Não podemos perder isso de vista. Além disso, é preciso evitar a remoção das matas ciliares [vegetação típica de locais próximos a rios, lagos, etc]. Esta vegetação ajuda a evitar o assoreamento e contribui para a saúde dos corpos aquáticos”, argumentou a especialista.
Previsão de chuvas
Segundo Fernández, o mês de agosto, historicamente, é mais seco. "A partir de setembro, começam as primeiras chuvas de primavera, que vão aumentando até chegar ao período mais chuvoso, entre janeiro e março. Isso é, digamos, o normal”, afirmou.
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Ainda de acordo com o geólogo, no começo do próximo ano, os reservatórios brasileiros deverão apresentar níveis “minimamente necessários para manter o abastecimento”. Porém, ele alertou: “Mesmo assim, não vamos ter um 2022 muito folgado”, ressaltou.
Alternativas de fontes energéticas
A oceanógrafa Fernanda Lima afirmou que o país pode usar a água do mar como uma fonte energética. Inclusive, ela citou o exemplo do Complexo do Pecém, no Ceará, que recentemente firmou um Memorando de Entendimento com a empresa sueco-israelense Eco Wave Power. O objetivo é implantar uma usina de geração de energia limpa das ondas, nas dependências do terminal portuário do Pecém, com capacidade instalada de até 9MW.
“Em outros momentos, já se discutiu a utilização da água do mar para a geração de energia. É o que chamamos de ‘energia azul’. Em um momento crítico como o atual, creio que seja uma boa opção”, analisou.
Racionamento
Professor de biologia da FECAF, Orlando Luiz Amado Giarletti também alertou para a importância da preservação de mananciais, mas destacou que, em curto prazo, o caminho para evitar o colapso é o racionamento de água.
“É uma saída que ninguém deseja, porém, agora, pode impedir o agravamento da crise. Além disso, as autoridades necessitam realizar a manutenção periódica das redes. Estima-se que, no Estado de São Paulo, perde-se 1/3 da água na distribuição até chegar aos imóveis. E, claro, não podemos nos esquecer das campanhas de educação contra o desperdício”, finalizou.