'Escória maldita' e 'racismo nutella'; relembre polêmicas de Sérgio Camargo

Checagem da vida de rappers, selo que nega racismo, exclusão de personalidades homenageadas pela fundação e suposta intolerância religiosa marcaram passagem do jornalista no comando da instituição

Foto: Renato Costa/FramePhoto/Folhapress
Sérgio Camargo, presidente da Fundação Palmares

As polêmicas em torno de Sérgio Camargo, presidente da Fundação Palmares, vêm desde antes de sua nomeação, e aumentaram quando o jornalista assumiu a chefia da instituição . Usuário assíduo do Twitter, Camargo coleciona duras críticas de diversos setores da sociedade por conta de falas controversas, sobretudo a respeito de movimentos negros no Brasil e de racismo.

Segundo revelou o Fantástico deste domingo (29/8), uma ação do Ministério Público do Trabalho pede o afastamento do presidente da Fundação Palmares por conta de denúncias que apontam assédio moral, perseguição ideológica e discriminação por parte do jornalista em sua gestão. A ação foi protocolada na última sexta-feira (27/8) e se baseia nos relatos de 16 servidores e ex-funcionários que mostram uma rotina de humilhação e terror psicológico.

Relembre, em ordem cronológica, os episódios envolvendo Sérgio Camargo que antecederam a ação protocolada pelo Ministério Público do Trabalho:

Novembro - Nomeação

Sérgio Camargo substitui Vanderlei Lourenço no cargo da presidência da Fundação Cultural Palmares. A nomeação causou polêmica por conta de declarações do novo presidente, que já havia dito que no Brasil existe um "racismo nutella" e que "a negrada daqui reclama porque é imbecil e desinformada pela esquerda". Em outra fala controversa, o jornalista disse que a escravidão foi "terrível, mas benéfica para os descendentes" porque negros viveriam em condições melhores no Brasil do que na África.

4/12 - Suspensão

O juiz federal substituto Emanuel José Matias Guerra, da 18ª Vara Federal de Sobral, suspendeu o ato de nomeação do presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio Camargo, alvo de críticas por declarações contrárias ao movimento negro. Em fevereiro, no entanto, acatando um recurso da Advocacia Geral da União (AGU), o Superior Tribunal de Justiça autorizou a nomeação de Camargo para o cargo.

10/3 - Extinção de órgãos

Sérgio Camargo extingue sete órgãos colegiados da instituição, como o Comitê Gestor do Parque Memorial Quilombo dos Palmares, o Comitê de Governança e o Comitê de Dados Abertos, exonerando servidores e passando a centralizar decisões que antes eram tomadas coletivamente.

23/3 - Contra o isolamento

No começo da pandemia, quando o coronavírus já havia matado milhares de pessoas pelo mundo, Sérgio Camargo foi às redes sociais minimizar o perigo da doença e criticar as medidas de isolamento: "Confinaram 99% da população em casa para vencer um vírus que mata em torno de 1% dos infectados. O isolamento, exceto para os que são do grupo de risco, precisa ser imediatamente suspenso. É a maior imbecilidade da história da humanidade! Ao trabalho, brasileiros!", publicou.

17/4 - Checagem da vida de rappers

O jornalista afirma nas redes que rappers passariam por "checagem da vida pregressa" antes de receber qualquer apoio da instituição. "Projetos com rappers serão aceitos na Fundação Palmares somente após rigorosa checagem da vida pregressa dos ‘artistas’. Aqueles que se enveredam pelo caminho do crime, da apologia das drogas e da putaria, ou se deixam usar como capachos da esquerda, jamais serão contemplados", afirmou no Twitter.

30/4 - 'Escória maldita'

Em reunião a portas fechadas com servidores da Fundação Palmares, Sérgio Camargo ironizou o Dia da Consciência Negra, xingou Zumbi dos Palmares e chamou o movimento negro de "escória maldita". Na mesma gravação, divulgada pelo jornal O Estado de S. Paulo, Camargo afirmou que "não vai ter nenhum centavo pra macumbeiro".

13/5 - Textos questionam Zumbi

Fundação Palmares publica textos no site da instituição questionando a figura de Zumbi. "Zumbi foi um herói?", da professora Mayalu Felix, e "Zumbi e a Consciência Negra – Existem de verdade?", do professor Luiz Gustavo dos Santos Chrispino, levantam supostas inconscistências do personagem histórico, cuja data em que teria sido assassinado, 20 de novembro, passou a ser celebrada como o Dia da Consciência Negra.

29/5 - Selo controverso

A instituição causa nova polêmica ao divulgar a criação de selos que certificariam se uma pessoa está sendo racista ou não. Sérgio Camargo postou em suas redes os dois modelos de selo, com as inscrições "Palmares garante, não é racista" e "Palmares assegura, não é racista". Segundo o jornalista, o selo seria "o certificado de que a pessoa, acusada de racismo, está sendo, na verdade, vítima de campanha de difamação e execração".

3/6 - DPU tenta suspender nomeação de Camargo

A Defensoria Pública da União (DPU) entra com um pedido de tutela provisória de urgência no Superior Tribunal de Justiça (STJ) para suspender a nomeação do jornalista ao cargo de presidente da Fundação Palmares.

4/6 - Alcione é chamada de 'barraqueira' e artistas a defendem

Camargo chamou Alcione de "barraqueira" no Twitter, após um desabafo da cantora durante uma das lives de Teresa Cristina. Comentando os áudios da reunião na qual o presidente da Palmares foi gravado, a Marrom disse que ver "uma pessoa da nossa cor falando uma besteira daquelas" dava vontade de "arrancar da televisão e encher de porrada pra virar gente". Camargo retrucou, dizendo que desprezava as declarações da cantora, "assim como sua insuportável 'música'". A resposta gerou um vídeo de apoio a Alcione, criado pelo movimento #342Arte, com depoimentos de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Paulinho da Viola, Emicida, Maria Bethania, Seu Jorge, Djavan, entre outros nomes.

15/6 - Novo ataque aos movimentos negros

O jornalista volta a atacar o movimento negro, classificando-o como "conjunto de escravos ideológicos de esquerda".

2/12 - Exclusão de homenageados

A Fundação Palmares exclui 27 nomes da lista de personalidades homenageadas pela instituição, como Conceição Evaristo, Elza Soares, Gilberto Gil e Martinho da Vila.

Março - Boicote a Lázaro Ramos

Camargo ataca o ator e diretor Lázaro Ramos e pede boicote ao seu filme: "O filme, bancado com recursos públicos, acusa o governo Bolsonaro de crime de raciscmo", disse o jornalista no Twitter. "Temos o dever moral de boicotá-lo nos cinemas. É pura lacração vitimista e ataque difamatório contra o nosso presidente", concluiu.

11/6 - Tentativa de 'limpa' no acervo

A Fundação anunciou decisão de excluir parte dos livros de seu acervo, sob a alegação de que as obras "não correspondem à ideologia do órgão, são marxistas, estão velhas e em desacordo ortográfico". No Twitter, o presidente do órgão defendeu a medida: "Tudo será doado; são livros que nada têm a ver com a missão institucional da Palmares. Cursos de humanas das federais são o lugar certo. É tudo a cara deles!". Dias depois, no entanto, a Justiça proibiu que a Palmares se desfizesse das publicações. As obras foram então guardadas em separado numa sala, marcada com um cartaz na porta, onde se lê "Acervo da vergonha" junto do símbolo do comunismo.

17/8 - Troca de farpas com Martinho da Vila

Após ser duramente criticado por Martinho da Vila no programa Roda Viva, Sérgio Camargo afirmou nas redes sociais que iria processar o sambista. "Atacou a minha honra com o uso da expressão 'preto de alma branca'", disse Camargo na ocasião.

17/8 - Proposta de nova logo

A Fundação Palmares divulga edital de concurso para criar uma nova logo para a intituição. A atual é representada pelo machado de Xangô, uma referência ao orixá da cultura afro-brasileira. "O logotipo da Palmares sempre me desagradou, mas eu achava que era uma palmeira estilizada. Santa ingenuidade!", escreveu Camargo no Twitter.

29/8 - Denúncia

Presidente da Fundação Palmares é acusado na Justiça de assédio moral, discriminação e perseguição ideológica. Acusação é baseada no relato de 16 servidores e ex-funcionários que revelam rotina de humilhação e terror psicológico na gestão de Camargo.