Marielle Franco
Reprodução: iG Minas Gerais
Marielle Franco

RIO — Logo que o procurador-geral de Justiça, Luciano Mattos, assumiu o cargo, em 15 de janeiro deste ano, o promotor de Justiça Bruno Corrêa Gangoni, de 42 anos, foi a primeira opção para conduzir o Caso Marielle. Mattos queria que Gangoni acumulasse a coordenação do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio (MPRJ) com as investigações sobre as mortes da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes. Era assim na gestão de seu antecessor, Eduardo Gussem, que tinha à frente a promotora Simone Sibílio no acúmulo de função. No entanto, Gangoni aceitou coordenar o grupo especial, mas sem a responsabilidade de prosseguir com a apuração do duplo homicídio.

Pela complexidade do caso e sem ter quem aceitasse a função, Mattos convidou as promotoras Sibílio e Letícia Emile, que se mantivessem nas investigações para coordenar a Força-Tarefa do Caso Marielle e Anderson (FTMA), nome criado por ele. No último dia 9, quando, segundo fontes, elas entregaram os cargos alegando interferências externas nas investigações, o procurador-geral de Justiça, mais uma vez, teve dificuldades para escolher quem as substituiriam. Gangoni aceitou ficar provisoriamente duas semanas depois da saída de Sibílio e Emile.

Nesta segunda-feira, Mattos anunciou Gangoni na dupla função de coordenar o Gaeco e a força-tarefa que tem como principal função descobrir quem ordenou a morte da parlamentar. Ele aceitou, desde que mais sete promotores, todos do grupo especial que investiga crimes praticados pelo crime organizado, lhe dessem assistência. Uma das dificuldades da função será enfrentar dois júris que estão próximos a acontecer: o dos integrantes denunciados na Operação Intocáveis — envolvendo milicianos de Rio das Pedras, na Zona Oeste — e o do sargento reformado da PM Ronnie Lessa e do ex-policial militar Élcio de Queiroz, réus nos homicídios de Marielle e Anderson.

Bruno Gangoni está há 18 anos no MPRJ. Com atuação na área criminal, ele foi promotor de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, e chegou a integrar, em 2016, o Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública (Gaesp), que foi extinto na gestão atual. Quando esteve no Gaesp, sob a coordenação da promotora Andréa Amin, Gangoni cuidou de investigações envolvendo policiais militares nos chamados homicídios decorrentes de oposição à intervenção policial, conhecidos popularmente como autos de resistência. Coube ao grupo apurar as sete mortes de moradores no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, em 2017. A operação foi realizada pela Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) da Polícia Civil e pelas Forças Armadas.

Gangoni também tem experiência em investigar as milícias fluminenses. Antes de assumir o Gaeco no início do ano, ele participou de uma investigação contra milicianos da comunidade Tirol, em Jacarepaguá, em junho de 2020. Dos 24 alvos, quatro eram policiais militares. Os paramilitares foram acusados pelos crimes de homicídio, extorsão, porte de arma de fogo e venda ilegal de botijões de gás.

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À frente do Gaeco, o destaque foi a prisão do delegado Maurício Demétrio, no último dia 30, acusado de comandar um esquema que exigia propina de lojistas da Rua Teresa, em Petrópolis, na Região Serrana, para permitir a venda de roupas falsificadas. Os sete promotores que irão atuar no Caso Marielle também participaram da operação contra o delegado.

No Programa Municípios em Ação, exibido em junho de 2018, na TV Metropolitana, da Baixada Fluminense, Gangoni deu uma entrevista explicando a importância da segurança pública. Segundo ele, "segurança pública não é sinônimo de polícia". Na opinião do promotor de Belford Roxo, o trabalho da polícia pode produzir efeitos a curto prazo, mas há outras medidas a médio e longo períodos que devem ser adotadas, como o investimento em tecnologia. Um dos exemplos que deu foram as câmeras OCR (Reconhecimento Óptico de Caracteres), chamado de radar inteligente, que capta as letras e os números de placas transformando-os em dados para investigações. Foi graças a este tipo de câmera que foi possível identificar a placa do veículo usado na emboscada à Marielle. O carro dos matadores passou pelo Itanhangá, às 17h34m, no dia 14 de março de 2018, quando se dirigia para o Centro do Rio e o Estácio, onde ocorreu o crime.

Na entrevista ao programa de TV, ele admitiu que a instalação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) fez com que bandidos da capital montassem suas bases na Baixada Fluminense, aumentando os índices de criminalidade. Segundo ele, o ideal teria sido "neutralizar" a ação dos traficantes nas favelas cariocas. No entanto, ele ponderou que isso traria "um dano colateral": "Pesando as duas coisas, optou-se pela política do não confronto, até para ter a simpatia da opinião pública", opinou Gangoni.

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