Jairinho fica inelegível por oito anos e suplente pode assumir esta semana

Após sessão, parlamentares comentaram o processo, choque e tristeza ao analisar os autos do inquérito da morte de Henry Borel, e esclareceram quais serão os próximos passos na Câmara Municipal

Foto: Reprodução: iG Minas Gerais
Dr. Jairinho foi cassado de maneira unânime pela Câmara dos Vereadores

Pouco após a votação histórica que, por unanimidade (49 votos a zero), decidiu pela cassação de Jairo Souza Santos Júnior, agora ex-vereador Dr. Jairinho , os parlamentares que compõem a Comissão de Ética da Câmara comentaram sobre o resultado em plenário e esclareceram, também, sobre os próximos passos agora na Casa, com a posse do suplente, Marcelo Diniz (Solidariedade), que, a princípio, deve assumir o cargo já na próxima sexta-feira. De acordo com o presidente da Comissão, Alexandre Isquierdo (DEM), Jairinho automaticamente já está inelegível e com seus direitos políticos suspensos.

"Essa votação massiva, de 49 votos a zero, já caracteriza a cassação de seu mandato, que será publicado e a Mesa Diretora seguirá o rito de convocação do suplente", disse Isquierdo.

O presidente da Comissão de Ética revelou, também, que não tinha dúvidas de que a escolha pela cassação de Jairinho seria unânime, e, assim como já havia sido dito durante a sessão por outros vereadores, lembrou que a troca de mensagens entre a mãe de Henry, Monique Medeiros, e a babá, que consta nos autos e que foi revelada ao público pela imprensa , foi o que mais comoveu o parlamento.

"Principalmente quando veio à tona aquela conversa entre a mãe, Monique, com a babá, aquilo deixou a Câmara muito chocada. A partir daí, com o avanço no Conselho de Ética e com a apresentação dos altos do inquérito, a gente não tinha dúvida de que seria por unanimidade ( a cassação ). Registrando aqui que o vereador Dr. Gilberto ( do PTC, que alegou ter feito uma intervenção odontológica, com atestado de dois dias ) não votou hoje por estar de licença médica."

Convidado a comentar sobre o suplente de Jairo, Marcelo Diniz – que era presidente da Associação de Moradores da Muzema e chegou a ser ouvido na polícia ao menos duas vezes, quando os prédios caíram em 2019, e quando levantou-se uma suspeita de influência da milícia na votação de moradores de Rio das Pedras nas últimas eleições, fatos que ele nega envolvimento –, Isquierdo reforçou que o que cabe à Câmara é convocá-lo, e que não é de conhecimento dos parlamentares nenhum tipo de investigação ou inquérito contra ele.

"Assim que for publicada a votação, a Mesa Diretora poderá convocar de imediato o suplente. Mas, em relação ao vereador suplente, não compete aqui à Câmara ( falar sobre possíveis investigações contra ele ), até que se diga o contrário, ele é inocente. Não se sabe se ele tem algum processo, algum inquérito, e ele foi diplomado pelo TRE, então, sendo diplomado, ele está apto a assumir o mandato. A responsabilidade da Câmara é de dar posse, conforme manda a lei. A prerrogativa dele agora é de assumir o mandato, de imediato", afirmou.

Alexandre Isquierdo também negou que tenha havido qualquer tipo de intervenção ou tentativa de intimidação a vereadores por parte do pai de Jairinho, o policial militar e ex-deputado estadual Coronel Jairo. A suposta articulação foi relatada à reportagem por alguns parlamentares antes da sessão.

"Nós ficamos sabendo disso pela mídia, mas posso afirmar que a gente desconhece totalmente isso. Na prática, não aconteceu nem durante o processo do Conselho de Ética, nem na semana do processo de cassação. Nenhum vereador se queixou ou se sentiu ameaçado com o voto de hoje. Absolutamente."

Em seguida, Chico Alencar (PSOL), disse que a Câmara reafirmou seu compromisso com o código de ética e decoro parlamentar que rege a Casa.

"O que a Câmara Municipal do Rio fez esta noite foi reafirmar, por unanimidade, com excessão do vereador que não votou porque estava de licença médica, que nós estamos sob a égide de um código de ética e decoro parlamentar que vamos respeitar e fazer cumprir durante estes 3 anos e meio de mandato que temos. Isso vale, inclusive, para o suplente, que vai assumir no lugar do ex-vereador Jairo", acrescentou.

Por fim, Luis Ramos Filho (PMN), relator do caso, também contou o quanto todos os parlamentares, sobretudo os que compõem o Conselho de Ética, e precisaram ver com lupa os autos do inquérito, ficaram chocados com o que pesa contra Jairinho.

"Primeiramente, nenhum de nós gostaria de estar aqui deliberando sobre o fato que envolve o menino Henry Borel e um ex-colega. Ele é uma pessoa que até então tratava as pessoas gentilmente, mas esse fato pegou todos os vereadores e todos os funcionários que conviviam com ele com muita surpresa", disse. Então, o nosso relatório foi trabalhado com todos os membros do Conselho de Ética, conduzido pelo presidente Alexandre Isquierdo, com máxima seriedade, sem espetacularização do caso, porque envolve a vida de um ser puro, que é uma criança.


"O presidente Caiado colocou ( em plenário ) que é pai de duas meninas, e eu também sou. Isso mexe muito com os membros desta Casa. Eu não esperava posição diferente da posição firme que o parlamento teve, de respeitar a defesa, o direito ao contraditório, mas dando uma resposta contundente a este caso, que deixou todos nós muito tristes", concluiu.