A Frente Parlamentar Mista de Defesa dos Povos Indígenas enviou um documento à CPI da Covid segundo o qual vacinas destinadas aos povos indígenas podem ter sido desviadas a garimpeiros com pagamento em ouro. O documento ainda cita que estes povos receberam cloroquina e tiveram dificuldade para acessar os leitos da Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Segundo informações da Folha, ao menos sete denúncias diferentes foram citadas no documento. Por isso, Joenia Wapichana (Rede-RR), deputada coordenadora do grupo que, encaminhou enviou os registros a autoridades dos ministérios da Saúde, da Justiça e Segurança Pública e também ao Judiciário.
Segundo denúncias recebidas pela frente, houve a utilização de remédios sem eficácia para tratar a Covid-19 em aldeias. Um ofício encaminhado pelo Ministério da Saúde para a deputada em setembro relatava que o Distrito Sanitário Especial Indígena de Vilhena, em Rondônia, contratou profissionais para identificar os sintomas da doença precocemente.
Além disso, kit’s Covid, contendo azitromicina e ivermectina, teriam sido montados para casos sintomáticos nas aldeias. Ainda segundo informações da Folha, um outro ofício revelava a falta de acesso à medicação adequada, como bloqueadores musculares -- necessários para o processo de intubação -- e a falta de leitos de UTI. O documento destacou, ainda, a ausência de testes em qualidade e quantidade suficiente no noroeste de Mato Grosso.
"Por se tratar a falta de testagem, necessária tanto para realizar o isolamento e impedir a contaminação quanto para entrar de imediato com a medicação indicada, de remédios para o processo de intubação e de disponibilidade de leitos de UTI, ocorrências em todo o país, peço urgência para a gravidade que o caso dos Cinta Larga e demais povos de Rondônia e Mato Grosso requer e que sejam tomadas as demais medidas ensejadas, pois vidas indígenas importam", disse a coordenadora em ofício.
Empecilhos à vacinação nas aldeias
Um ofício revelava a influência de missionários nas comunidades indígenas, disseminando o temor à vacina por meio de fake news. "A campanha de desinformação seria difundida via áudios e vídeos pelo celular, pelo sistema de radiofonia entre as aldeias e por cultos presenciais. No estado do Maranhão a maior influência seria da igreja Assembleia de Deus."
Além disso, vacinas destinadas aos indígenas teriam sido compradas por garimpeiros em troca de ouro. "É comum a queixa por parte dos yanomami de que os materiais e medicamentos destinados à saúde indígena estão sendo desviados para atendimento aos garimpeiros, em prejuízo dos indígenas", disse Dário Vitório Kopenawa Yanomami, vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami.