"Eu descobri, em 2017, que eu estava morto. De lá para cá, só correria para ver se eu ressuscito”. O relato é José Raimundo Damasceno Costa , um agricultor da zona rural de Pedrão, na Bahia, que, desde 2017, tem seu nome no Sistema Informatizado de Controle de Óbitos (Sisobi) do governo. De lá pra cá, ele tenta provar que está vivo.
“Eu chego na rua e as pessoas brincam. É 'morto-vivo', 'já morreu', 'finado', 'defunto'. Agora, até que eu já me acostumei, só me chamam assim mesmo. Brigar com ninguém eu não vou, aí eu levo na graça".
Segundo informações do G1, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) alega que o erro se deu porque o CPF de José Raimundo foi colocado na Certidão de Óbito da mãe dele, e que só depois que o documento fosse atualizado o problema poderia ser resolvido.
O agricultor, porém, diz que a informação do INSS não é verdadeira e afirma que não há esse registro no documento da mãe dele.
“Me falaram que tinham colocado meu CPF na Certidão de Óbito da minha mãe, só que não. Na Certidão de Óbito da minha mãe não tem CPF, nem o meu e nem o dela. O que eu podia fazer, eu já fiz. Agora, só estou dependendo da lei, da Justiça. Não posso fazer mais nada, só esperar. Mas até quando, eu não sei”.
Com os documentos alegando sua morte, José Raimundo não consegue receber seus benefícios sociais, já que também está "morto" para os bancos
Em outros documentos, ele segue vivo. Em 2017, o agricultor se casou e, portanto, tem em mãos sua Certidão de Casamento. Ele também vota em todas as eleições, e tem comprovantes dos votos desde 2012.
“Eu não aguento mais essa situação, é difícil Estou contando com a ajuda de Deus e minha família. É muito difícil, não é brincadeira. E só Deus sabe a minha situação, o que eu estou passando” diz José Raimundo, que afirma já ter feito todos os procedimentos requeridos pelo governo para regularizar sua situação — e nunca obteve sucesso.
“Me sinto um inútil, sem valor nenhum. Porque um morto, que valor tem? O morto está esquecido, não é?”, lamenta.