Pela primeira vez desde que assumiu uma nova linha de defesa para o crime, a professora Monique Medeiros, a mãe de Henry Borel, de 4 anos, mudou a versão para o assassinato do filho, ocorrido na madrugada de 8 de março. Presa sob suspeita do homicídio duplamente qualificado, ela entregou uma carta de 29 páginas que seu novo advogado, Thiago Minagé. Nela, a mãe de Henry relata uma história diferente da que contou à polícia sobre o dia do crime. No depoimento, ela confirmou o relato de seu companheiro Jairo dos Santos Souza Júnior, o médico e vereador Dr. Jairinho . Agora, Monique diz que pode ter sido dopada, pouco antes de dormir, pelo político.
“Estou sofrendo muito. Não há um dia que eu não chore pela morte do meu filho”. É assim que começa a carta de Monique Medeiros. Ela também busca desfazer algumas impressões sobre seu comportamento após a morte do filho, como o fato de ter feito uma selfie na 16ª DP (Barra da Tijuca), que investiga o caso, no dia do depoimento, e ter ido a um salão de cabeleireiro um dia após o sepultamento de Henry. A defesa conta que a ida ao salão foi por pressão do político, que exigia que a professora, que tinha emagrecido e arrancado tufos de cabelos — ela usa megahair —, se mostrasse “apresentável”.
Jairinho achou menino
Sobre o assassinato, Monique repete a parte da primeira versão de que ela e Jairinho tinham passado a noite vendo série na TV e depois foram dormir. Mas, em vez de relatar que acordou no meio da noite e encontrou o filho caído no quarto, ela dá outra versão. A professora agora conta que, naquela noite, Henry tinha acordado três vezes, mas voltara a dormir, e que o casal, depois de ver televisão, foi deitar por volta de 1h30 da madrugada. Jairinho, diz, lhe deu remédios. “Me deu dois medicamentos que ele estava acostumado a me dar, pois dizia que eu dormia melhor, mas eu não o vi tomando. Logo, eu adormeci. (...) De madrugada ele me acordou, dizendo para eu ir até o quarto, que ele pegou o Henry no chão, o colocou na cama e que meu filho estava respirando mal. Fui correndo até o quarto, meu filho estava de barriga pra cima, descoberto, com a boca aberta, olhando para o nada e pensei que tivesse desmaiado”, diz, acrescentando: “Notei que Henry estava com as mãos e os pés gelados e perguntei como ele tinha visto Henry caído no chão?! Ele disse que escutou um barulho que chamou sua atenção e acordou para ver. Então enrolei o Henry numa manta e corremos para a emergência. (...) Mas em nenhum momento eu achava que estava carregando meu filho morto nos braços”.
À polícia, Monique tinha dito que não havia tomado medicamentos no dia da morte da criança, que não acreditava que Jairinho pudesse ter feito algum mal ao filho e que o político “sempre tentava cativar o amor de Henry”.
Nesse novo relato, Monique Medeiros se coloca como vítima de agressões e do ciúme doentio de Jairinho. De acordo com Minagé, após ser presa, a mãe de Henry, se sentiu segura para falar a verdade. “A Monique estava sempre com alguém, nunca esteve sozinha, no sentido de ter a liberdade de poder falar aquilo que ela queria dizer, precisava dizer”, afirma o advogado para quem a cliente parecia estar sendo “manipulada”. Minagé sustenta que Monique estava sob pressão. Mas, para a polícia, Monique não apresentava qualquer sinal de que poderia estar sendo ameaçada quando foi ouvida na delegacia. Houve até a suspeita de que o casal poderia tentar uma fuga. Ela e Jairinho foram presos no dia 8 de abril em Bangu,no imóvel de parentes, cujo endereço não tinha sido fornecido à polícia.
Segundo a carta de Monique, a realidade que passou para os investigadores é muito diferente da que vivia ao lado de Jairinho e que temia pela vida da família. A intensidade do relacionamento abusivo, de acordo com ela, foi crescendo. “Jairinho começou a ter ciúme de eu ir na academia e até colocou gente pra me seguir e tirar foto de mim malhando pra saber com qual roupa eu estava indo treinar. Daí, os ciúmes foram só piorando”, diz Monique que atribui a esta atitude do vereador o fato de passar a ter crises de ansiedade e picos de pressão. Foi então que ele passou a medicá-la com duas miligramas de ansiolítico e remédio para dormir.
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Enforcada de noite
Ela se referiu a um episódio de violência ocorrido em dezembro do ano passado quando, muito irritado, Jairinho teria invadido a casa de sua família em Bangu, porque ela dormiu e não atendeu a ligação dele. Acordada por ele, a professora lembra “de ser acordada no meio da madrugada, sendo enforcada enquanto eu dormia na cama ao lado do meu filho.... quase sem ar...”. No dia seguinte, Jairinho teria lhe pedido desculpas e dito que a amava. Os dois foram morar na Barra da Tijuca. Monique afirma ter imaginado que tudo ia melhorar e estava realizando um sonho de dar uma vida melhor a Henry. “Mas foi o início de um pesadelo”.
Monique admite que, nesse período, Henry surgiu correndo na cozinha para dizer que o “tio” tinha lhe dado uma “banda” e uma “moca”. Ela diz ter ido à sala perguntar o que tinha acontecido e que Jairinho respondeu que o filho era um “bobalhão”, que apenas tinha feito uma brincadeira. Monique conta que brigou com o vereador. Em 12 de fevereiro, a babá Thayna Oliveira contou aos policiais que presenciou quando Jairinho trancou Henry no quarto, de onde a criança saiu mancando. Thayna mandou mensagem de celular, por volta das 16h, para Monique, que estava no shopping. O próprio Henry teria lhe contado tudo e pedido para a mãe voltar para casa. Mas a professora leva cerca de três horas para chegar, segundo a polícia.
Monique conta que, outra vez, flagrou Jairinho colocando remédio escondido e seu copo e houve discussão e agressões, que a deixaram com manchas roxas. “Fiquei apavorada com o tamanho descontrole”, diz.
A Polícia Civil e o Ministério Público não quiseram comentar a nova versão de Monique. A defesa de Jairinho diz que só irá se pronunciar após o oferecimento da denúncia.