A morte do soldado da Polícia Militar da Bahia Wesley Góes - abatido por agentes do Bope após sofrer um aparente surto psicótico e disparar seu fuzil no Farol da Barra, em Salvador - mobilizou bolsonaristas nas redes sociais contra o governador do estado, Rui Costa (PT) depois que a presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, deputada Bia Kicis (PSL-DF), associou, sem evidências, a morte do PM a um ato de resistência a "ordens ilegais" do governador para o cumprimento de medidas de restrição e distanciamento social.
A narrativa de que o policial se rebelou contra as medidas de combate ao novo coronavírus impostas pela Bahia ganhou força de outros parlamentares como o deputado federal José Medeiros (Pode-MT), vice-líder do governo na Câmara, chamou o PM de "herói nacional". A repercussão teve até pedidos de motim entre os oficiais convocado pelo deputado estadual Soldado Prisco.
O Comando da PM já se pronunciou para dizer que não há registros de motins ou qualquer paralisação entre os oficiais e não relaciona o aparente "surto psicótico" do PM com desobediência em cumprir as medidas determinadas pelo governo baiano contra a Covid-19.
"Quem imaginaria que um soldado da PM baiana iria dar o brado preso na garganta dos trabalhadores brasileiros e pagaria com a vida esse ato de coragem", escreveu Medeiros.
Insuflados pelas redes sociais e pelo discurso sem comprovação de que o PM se rebelou contra o governo baiano, policiais militares passaram a protestar contra o comando da instituição . A PM da Bahia diz que "todos os esforços foram feitos por um final pacífico durante um possível surto" do PM e que o fato será devidamente apurado.
“A Polícia Militar lamenta profundamente o episódio que ocorreu neste domingo (28), no Farol da Barra, quando todos os esforços foram feitos por um final pacífico durante um possível surto de um PM. O Batalhão de Operações Policiais Especiais adotou protocolos de segurança e o policial militar ferido foi socorrido imediatamente pelo SAMU. A corporação tomou conhecimento ainda de um vídeo do momento em que a imprensa acompanha o fato e é interpelada por um policial militar. A instituição ressalta o respeito à liberdade de expressão e ao trabalho dos jornalistas. O fato será devidamente apurado".
O filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), deputado federal Eduardo Bolsonaro (Republicanos-RJ), postou um vídeo em que do PM grita palavras de ordem antes de disparar para o alto. Nas imagens, Wesley diz: "Eu não vou deixar, não vou permitir, que violem a dignidade humana de um trabalhador".
Na descrição das imagens, Eduardo escreveu ainda que "aos vocacionados em combate o crime, prender trabalhador é a maior punição. Esse sistema ditatorial vai mudar".
Outro bolsonarista declarado, o deputado estadual Soldado Prisco publicou nas redes sociais que "mataram um trabalhador" e convocou outros policiais para protestarem contra o governo estadual .
“Mataram um policial, mataram um trabalhador, porra. Até quando vocês vão aceitar isso? Mataram o policial, mataram. Vamos parar esse caralho, a hora de parar é agora, eu convoco vocês”, disse.
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública da Bahia ( SSP-BA ), além dos tiros disparados, o soldado arremessou grades, isopores e bicicletas no mar. O comunicado relata que ele “alternava momentos de lucidez com acessos de raiva, acompanhados de disparos”. O rosto do homem estava pintado de verde e amarelo, cores da bandeira do Brasil.
O soldado, identificado como Wesley Góes, foi “neutralizado” e socorrido no Hospital Geral do Estado (HGE), no centro da capital baiana. Ele já chegou em estado grave e foi intubado após ter sido baleado, mas não resistiu e morreu.