Operação mira acusados e movimentação ilegal do miliciano Adriano da Nóbrega
Agência Brasil
Operação mira acusados e movimentação ilegal do miliciano Adriano da Nóbrega

O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e a Coordenadoria de Segurança e Inteligência (CSI), do Ministério Público do Rio de Janeiro , fazem, nesta segunda-feira (22), a Operação Gárgula . O objetivo é cumprir três mandados de prisão e 27 de busca e apreensão contra a organização criminosa responsável pela movimentação financeira e lavagem de dinheiro deixados pelo miliciano Adriano da Nóbrega , ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope) morto na Bahia em fevereiro do ano passado .

Os mandados são cumpridos em endereços na capital, em Niterói, na Região Metropolitana, e em Guapimirim, na Baixada Fluminense. Uma pessoa foi presa. Já houve apreensão de R$ 75 mil de dois carros, um Merdedes Benz e um Corolla.

Nove pessoas, entre elas um sargento e um soldado da Polícia Militar, foram denunciadas à Justiça por crimes de associação criminosa, agiotagem e lavagem de dinheiro. A Justiça deferiu ainda o pedido do MP para o sequestro do Haras Fazenda Modelo, de automóveis e para o bloqueio de R$ 8,4 milhões, correspondentes ao valor mínimo constatado em movimentações pelos criminosos.

A operação desta segunda é um desdobramento das investigações que culminaram na Operação Intocáveis I , contra integrantes da milícia de Rio das Pedras, comunidade na Zona Oeste do Rio. O chefe do grupo paramilitar era Adriano da Nóbrega, diz o Ministério Público.

O ex-PM, segundo as investigações, também exercia forte influência sobre um grupo de matadores de aluguel. Desta vez, os denunciados são integrantes da rede de apoio de Adriano da Nóbrega , responsáveis por lavar o dinheiro que ele ganhava com os crimes cometidos, informou o MP.

De acordo com a denúncia do MP, o bando é composto pelo soldado da Polícia Militar Rodrigo Bitencourt Fernandes Pereira do Rego; pela mulher de Adriano, Julia Emilia Mello Lotufo; e por Daniel Haddad Bittencourt Fernandes Leal. Todos tiveram a prisão decretada. O sargento da PM Luiz Carlos Felipe Martins, o Orelha, morto no último sábado, em Realengo, na Zona Oeste da capital, também é apontado como integrante do bando.

O MP informou que também estão denunciados, com medidas cautelares diversas de prisão deferidas pela Justiça, Carla Chaves Fontan, Carolina Mandin Nicolau, Jefferson Renato Candido da Conceição, o Sapo, David de Mello Lotufo e Lucas Mello Lotufo.

As investigações apontam que os denunciados, comandados por Adriano, praticaram crimes de agiotagem e lavagem de dinheiro em favor do miliciano. A operação tinha como objetivo ocultar e dissimular a origem do dinheiro ilegal obtido com os crimes cometidos por Adriano.

O nome Gárgula, dado à operação desta segunda, foi explicado pelo MP da seguinte maneira: "As gárgulas, na arquitetura, são desaguadouros, ou seja, são a parte saliente das calhas de telhados que se destina a escoar águas pluviais a certa distância da parede e que, especialmente na Idade Média, eram ornadas com figuras monstruosas, humanas ou animalescas, comumente presentes na arquitetura gótica".

Empréstimos com juros

A denúncia do MP cita que, a partir do ano de 2017 até 09 de fevereiro de 2020, Rodrigo Bittencourt, Julia Lotufo, Carolina Nicolau, Daniel Haddad, Carla Fontan e Luiz Carlos Martins, sob as ordens de Adriano, faziam a concessão de empréstimos a juros exorbitantes — de até 22% — a terceiros, usando empresas de fachada.

O dinheiro oferecido para os empréstimos era frutos de crimes praticados pela milícia em Rio das Pedras e proximidades, além do que Adriano ganhava com seu envolvimento na contravenção, diz o MP. O montante obtido com essas atividades rendiam ao ex-PM do Bope era incompatível com sua evolução patrimonial, destacou o Ministério Público. Operações financeiras das empresas investigadas dissimulavam a origem desse dinheiro, segundo as investigações.

Como operava o esquema

Uma das empresas usadas pela quadrilha era a Cred Tech Negócios Financeiros Ltda, informou o MP. De acordo com o órgão, são sócios dela o PM Rodrigo Bittencourt e Carolina Mandin. As investigações apontam que a empresa era de fachada e movimentou, entre 1º de agosto de 2019 a 28 de abril de 2020, R$ 3.624.531.

Já os denunciados Jefferson da Conceição e Daniel Haddad Leal atuaram como “laranjas” no esquema de lavagem de dinheiro, sustenta o MP. De acordo com a investigação, os bens dos devedores da Cred Tech eram confiscados por eles e passados para seus nomes. Daniel foi alvo de busca e apreensão em fevereiro de 2020, quando foi apreendido com ele R$ 124.600 que, segundo o Ministério Público, pertenciam à organização criminosa. Apesar de a Cred Tech ter sido mantida ativa no campo registral, não houve operações financeiras suspeitas após a morte de Adriano.

Luiz Carlos Felipe Martins, o Orelha, é descrito na denúncia oferecida em dezembro de 2020 como homem de confiança de Adriano e que o auxiliava na administração do dinheiro que seria colocado "na praça" para empréstimos a juros. Ele seria o responsável por levar valores a parentes e prestadores de serviços de Adriano e pelo pagamento das despesas pessoais do miliciano com aluguel, carros e cartões de crédito. A ação penal será extinta em relação a ele.

Julia Lotufo, mulher de Adriano, é apontada na investigações como a responsável pela contabilidade e gestão financeira de Adriano nos lucros conquistados com as atividades criminosas, como a milícia de Rio das Pedras. Era a ela, também, que os denunciados Rodrigo, Daniel e Luiz Felipe se reportavam, informou o MP. Eles prestariam contas sobre os valores de Adriano que eram investidos para empréstimos a juros ou para a constituição de outra sociedade empresária, a Lucho Comércio de Bebidas, também utilizada para a lavagem de dinheiro, cujos sócios eram Rodrigo Bittencourt e Carla Fontan.

Alguns meses depois da morte de Adriano, ocorrida em confronto com PMs da Bahia, Rodrigo e Carla teriam transferido todo o capital social da Lucho Comércio de Bebidas a Lucas Lotufo e David Lotufo, irmãos de Julia. A alteração contratual evidencia, segundo os investigadores, que Julia permaneceu agindo com o intuito de ocultar e administrar o patrimônio de Adriano.

A investigação constatou também que Julia, assim como Luiz Carlos Felipe, atuaram na dilapidação do patrimônio de Adriano com a venda imediata de ativos de alta liquidez. A Justiça determinou o sequestro do Haras Fazenda Modelo, de automóveis e o bloqueio das contas dos denunciados.

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