Faixa pede justiça por Marcelo. Ao fundo, grafite feito em sua homenagem, no local da tragédia
Domingos Peixoto / Agência O Globo
Faixa pede justiça por Marcelo. Ao fundo, grafite feito em sua homenagem, no local da tragédia


Logo após o adeus emocionado a Marcelo Guimarães, de 38 anos, vítima de uma bala perdida pelas costas nesta segunda-feira (04), próximo a um dos acessos à Cidade de Deus, parentes, amigos e a família de vítimas da violência na cidade se reuniram no local da tragédia, na Rua Edgard Werneck, em Jacarepaguá.

Eles realizaram um protesto que, apesar de pacífico, teve faixas com acusações à Polícia Militar e mensagens antirracistas, como a emblemática "Vidas negras importam" e "Parem de nos matar".

O ato, que começou por volta das 17h, foi acompanhado por muitos policiais. Há, inclusive, a presença de um blindado no local. Ao Globo, a viúva de Marcelo, Carla Guimarães, que em abril viajaria com o marido e os filhos para comemorar 22 anos de casado, mais uma fez foi enfática ao afirmar que o tiro que atingiu Marcelo partiu da polícia .

Ainda no sepultamento , já era possível ver cartazes com os dizeres "Polícia assassina" e "Não existe confronto quando apenas um tiro é disparado".

"Não teve tiroteio nenhum. Meu marido foi assassinado com uma bala disparada de dentro de um caveirão. O que eu vou dizer agora para o meu filho de 5 anos? Ele não sabe que o pai morreu. Meu marido não era traficante, era trabalhador", afirmou, emocionada.

No local da tragédia , parentes de Marcelo também contaram com a solidariedade das mães das vítimas da chacina de Manguinhos. Em homenagem ao homem, que trabalhava numa marmoraria, o artista e grafiteiro Leandro Ice, a pedido de moradores e dos parentes, pintou, durante o ato, o rosto do do homem, vítima de bala perdida, em parede próxima ao local onde ele foi atingido.

Os manifestantes interditaram o retorno da Estrada do Gabinal para o Giro do Cebolinha. De acordo com o Centro de Operações Rio, PM, CET-Rio e Guarda Municipal estão no local e orientam o desvio pelo Sesc. O protesto causou reflexos na Estrada do Gabinal, na Avenida Tenente Coronel Muniz de Aragão e na Avenida Ayrton Senna, sentido Linha Amarela, na altura do Giro Cebolinha.

Procurada, a Polícia Militar ainda não se posicionou nesta terça-feira (05) sobre as acusações.

Investigação do caso

O caso está sendo investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital. Nesta terça-feira, uma perícia foi feita no blindado da PM, no pátio da especializada. De acordo com a DH, em depoimento, os policiais militares que participaram da ação afirmaram que havia dois agentes no local onde a tragédia aconteceu com um blindado.

Segundo o relato dos PMs aos investigadores, criminosos dispararam contra o blindado e um dos militares efetuou apenas um disparo de dentro do veículo, segundo eles, para que um outro PM pudesse entrar no carro.

Além de ter ouvido os PMs e testemunhas da morte de Marcelo, a Polícia Civil também apreendeu um cartucho encontrado no local e vai analisar se o projétil confere com as armas dos policiais.

PM afirma que houve confronto

De acordo com a versão da PM, o confronto começou quando equipes do 18º BPM que faziam um patrulhamento na Edgard Werneck foram alvos de disparos feitos por bandidos que estavam na Cidade de Deus. Os agentes, segundo a corporação, revidaram.

"Não houve operação da PM no local. Marginais rechaçaram com disparos nosso blindado, que vem sendo posicionado no local para dissuadir possíveis investidas. Nesse contexto foi atingido um motociclista que vinha saindo da comunidade e, pela posição dos disparos, é improvável que tenha sido vitimado pelas guarnições da PM", disse o coronel André Silveira, comandante do 18º BPM.

Em nota enviada nesta segunda-feira, a PM informou que, além das investigações da DHC, será aberto um Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar as circunstâncias da morte de Marcelo:

"A Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar informa que, na manhã desta segunda-feira (4/1), equipes do 18º BPM (Jacarepaguá), que reforçam o policiamento nas imediações da Comunidade Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio, foram atacadas por disparos de arma de fogo realizados por criminosos de dentro da comunidade quando baseadas na Av. Edgard Werneck. Os policiais reagiram à injusta agressão e cessaram o ataque. No momento da ação, um motociclista que passava pelo local foi atingido. Infelizmente, a vítima não resistiu aos ferimentos.

Ressaltamos que o policiamento já vem sendo reforçado na região, inclusive com emprego de um veículo blindado, desde a semana passada, visando estabilizar o perímetro por conta de um conflito entre grupos de criminosos rivais pelo controle territorial. Nestes dias, as equipes policiais já foram alvo de outros ataques armados por parte destes criminosos.

No momento, equipes do 2º Comando de Policiamento de Área (CPA) reforçam o policiamento em toda a região em apoio ao 18º BPM.

Um Inquérito Policial Militar (IPM) será aberto para apurar as circunstâncias do fato. Paralelamente, a Delegacia de Homicídios da Capital investiga o caso".


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