Manifestações como a de São Paulo ocorreram em outras cidades do País
Guilherme Gandolfi/Fotos Públicas
Manifestações como a de São Paulo ocorreram em outras cidades do País


O primeiro caso confirmado de Covid-19 no Brasil foi registrado no dia 26 de fevereiro, na cidade São Paulo. Menos de um mês depois teve início a quarentena em todo país. Isolamento que não foi suficiente para segurar em casa quem quis protestar. O país acompanhou uma onda de manifestações políticas - a favor e contra o governo .

A primeira delas foi logo no dia seguinte ao primeiro caso de contaminação pelo novo coronavírus. No dia 27 de fevereiro, milhares de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro se reuniram nas capitais Salvador, Rio de Janeiro e Distrito Federal. Naquele momento, os protestos a favor do governo federal já contavam com diversos pedidos de fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF), bem como a instalação de uma ditadura militar.

O grande marco das manifestações pró-governo - também chamadas de atos antidemocráticos - ocorreu no dia 15 de março. O próprio presidente da República convocou a sua base de apoiadores, com auxílio de diversos movimentos bolsonaristas e de direita, para um ato de claro apelo contra os três poderes. Na sequência, Bolsonaro negou ter convocado os protestos.

Na época, o presidente fez questão de comparecer às manifestações, estimulando teses entre os apoiadores de que havia um " paralmentarismo branco ", acusando o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de estar tirando poderes do presidente da República.

A oposição se manteve em casa nesse perído, já que defendia o isolamento social. A esquerda desistiu de realizar os atos 18M, em defesa da Educação, e em homenagem à vereadora Marielle Franco, ambos marcados para março. No entanto, com os bolsonaristas dominando as ruas, lideranças da oposição logo se prontificaram para reagir.

Atos antidemocráticos


Deu-se início a uma série manifestações em defesa do governo Bolsonaro, que contavam com palavras de ordem a favor da intervenção militar e faixas contra a democracia . Os "atos antidemocráticos" terminaram com a instalação de um inquérito no STF que ainda investiga os organizadores desses protestos. 

Atos de apoio a Bolsonaro ocorrem em resposta a protestos de opositores, registrados ontem
Reprodução/Twitter - @SPD_33
Atos de apoio a Bolsonaro ocorrem em resposta a protestos de opositores, registrados ontem


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As manifestações antidemocráticas ocorreram de forma quase ininterrupta aos domingos, de março a julho. Houve também carreatas anti-isolamento em resposta à quarentena e com duras críticas ao governador de São Paulo João Doria (PSDB). 

Relembre as principais manifestações antidemocráticas e a favor do presidente Jair Bolsonaro:

  • 15 de março: grande ato convocado por redes bolsonaristas, e num primeiro momento pelo próprio presidente Bolsonaro, defendia a saída de Rodrigo Maia da presidência do Congresso e fazia críticas à esquerda. Novamente havia apelo antidemocrático; 

  • 19 de abril: manifestação a favor do governo. Bolsonaro compareceu e fez um discurso em tom de ameaça às instituições. Um vídeo do presidente tossindo viralizou nas redes sociais;

  • 3 de maio: ato antidemocrático com pedidos de fechamento do Congresso Nacional e do STF. Nesta manifestação profissionais do jornal O Estado de São Paulo foram agredidos pelos manifestantes;

  • 17 de maio: novamente com apelo antidemocrático, mas tinha como pauta principal o pedido de reabertura do comércio;

  • 24 de maio: ocorreu logo após a divulgação do vídeo da reunião ministerial que ocorreu no dia 22 de abril. Bolsonaro acompanhou a passeata pela praça dos Três Poderes, em Brasília. Neste mesmo dia, em diversas cidades, jornalistas da Rede Globo, da Folha de S.Paulo e da BandNewsTV foram agredidos por manifestantes. A empresas de comunicação decidram suspender a cobertura de protestos;

  • 30 de maio: o movimento 300 do Brasil da extremista Sara marchou com tochas em direção ao STF e disparou fogos de artifício em direção ao prédio da instituição;

  • 31 de maio: manifestantes pediram intervenção militar e fechamento do STF alegando uma "ditadura do judiciário". Bolsonaro sobrevoou a manifestação em Brasília de um helicóptero, logo após andou de cavalo e interagiu com apoiadores;

  • 7 de junho: Bolsonaro pediu para que não houvesse manifestações neste dia com medo de que houvesse confrontos com manifestantes da oposição. Os atos foram menores e novamente foi possível observar pedidos de intervenção militar;

  • 14 de junho: manifestações já contavam com um número menor de apoiadores. Em São Paulo, o Ministério Público interviu pois manifestações da oposição e pró-governo foram marcadas no mesmo dia na Avenida Paulista. A oposição precisou se reunir no Largo da Batata. Em Brasília, as menifestações ocorreram em menor número pois no dia anterior um grupo pró-bolsonaro tentou invadir  o Congresso Nacional gerando medidas do governador;

  • 21 de junho: manifestações ocorreram em algumas capitais, mas com presença reduzida de apoiadores. O protesto foi marcado por pautas envolvendo o Caso Queiroz, pois no dia anterior Fabrício Queiroz havia sido preso. Houve um acordo entre situação e oposição para uso da Avenida Paulista. Apoiadores do governo usaram bandeira de grupos neonazistas da Ucrânia;

  • 28 de junho: manifestantes em número reduzido voltaram a usar faixas a favor da intervenção militar. Em Brasília, os atos ocorreram em frente ao Quartel General do Exército, com presença de Bolsonaro e falas antidemocráticas;

  • 19 de julho: um grupo muito menor se reuniu em frente à Esplanada dos Ministérios. A principal pauta era em defesa do uso da hidroxicloroquina, com muito menos faixas e pedidos de intervenção militar, cassação do Congresso e fechamento do STF.

Resposta da Oposição

A oposição demorou a ocupar as ruas, pois tinha como principal discurso naquele momento a defesa do isolamento social frente aos ataques do presidente Jair Bolsonaro às medidas de prevenção da contaminação pelo novo coronavírus (Sars-cov-2). 


Num primeiro momento foram convocados panelaços em diversas cidades do Brasil, entre os dias 17 e 18 de março, com falas de " fora Bolsonaro ", "assassino" e "genocida". Mas com o grande ato antidemocrático do dia 15 de maio, lideranças da oposição, sobretudo de partidos de esquerda , convocaram o povo para ir às ruas. 

Manifestação em defesa da democracia e contra o racismo segue em clima pacífico na Esplanada
Foto: George Marques/Twitter
Manifestação em defesa da democracia e contra o racismo segue em clima pacífico na Esplanada


As manifestações contra o governo Bolsonaro tinham a presença de movimentos sociais, partidos de esquerda e centrais sindicais, mas foram encabeçadas por entidades do movimento negro, torcidas organizadas e antifascistas .

Os atos organizados pela oposição tentavam manter o distanciamento social, estimulavam o uso de máscara e tinham o acompanhamento de profissionais da saúde.

Relembre as principais manifestações da oposição organizadas pelos movimentos antifascista e antirrascista:

  • 31 de maio: rivais históricos, diversas lideranças das principais torcidas organizadas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre, se uniram em defesa da democracia colocando em pauta pela primeira vez de forma organizada o movimento antifascista no Brasil. Manifestantes vestiam roupas pretas e diziam palavra de ordem contra o presidente Bolsonaro a quem chamavam de fascista. Houve confrontos entre manifestantes e policiais;

  • 7 de junho: na esteria das manifestações nos Estados Unidos contra o assassinato de George Floyd, diversas entidades do Movimento Negro Brasileiro se uniram contra o racismo e para protestar contra o assassinato de jovens negros pelo Estado, como João Pedro em São Gonçalo. A principal pauta foi o combate ao racismo, mas se uniu com o movimento antifascista das torcidas organizadas e com os partidos de esquerda, juntos os movimentos pediam o impeachment de Jair Bolsonaro;

  • 13 de junho: os atos ocorreram em Brasília, com carreatas e faixas contra o governo federal;

  • 14 de junho: houve um ato na Avenida Paulista, novamente com o antifascismo como pauta central dos protestos. As torcidas organizadas do Corinthians e Palmeiras se uniram para hastear um grande faixa. Movimentos antirracismo, partidos de esquerda e centrais sindicais estavam reunidos novamente nos protestos;

  • 21 de junho: a união entre os movimentos antifascista, antirrascista, torcidas organizadas, partidos de esquerda e centrais sindicais, ocorreu em diversas cidades. Em Brasília, manifestantes entregaram uma carta aberta ao presidente da Câmara Rodrigo Maia;

  • 28 de junho: neste domingo as manifestações tiveram presença reduzida, mas houve uma forte mobilização pela internet com o apoio dos movimentos Chega!, de Portugal, e o #StopBolsonaro. Neste mesmo dia mil cruzes de madeira foram colocadas em frente ao Congresso Nacional em memória dos 50 mil mortos pela Covid-19 até aquele momento;

  • 1º de julho: motoboys e entregadores de aplicativos se reuniram em São Paulo, Distrito Federal e Rio de Janeiro para pedir por melhores condições de trabalho. O movimento ficou conhecido como o "Breque dos Apps", um dia em que milhares de entregadores não trabalharam em protestos. Muitos motoristas também protestaram contra o governo Bolsonaro;

  • 14 de julho: motoboys e entregadores de aplicativo se reuniram novamente em São Paulo com as mesmas demandas;

  • 15 de agosto: movimentos de direita, mas que se opõem ao presidente Jair Bolsonaro, foram às ruas em carreatas em apoio a Operação Lava Jato e com pedidos de impeachment de Jair Bolsonaro;

  • 20 de novembro: as tradicionais manifestações do feriado da Consciência Negra foram marcadas por atos grandiosos em diversas cidades do país em resposta ao assassinato de Beto Freitas em uma loja do Carrefour, em Porto Alegre. Em São Paulo, manifestantes destruíram uma unidade do Carrefour e atearam fogo em produtos. A manifestação também foi relembrou as 12 crianças negras baleadas no Rio de Janeiro em 2020.

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