Uma tragédia que terminou na morte de duas crianças, de sete e quatro anos , deixou ainda mais lacunas numa única família que mora em Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro. As primas Rebeca e Emilly perderam o futuro, com um tiro no peito e na cabeça, enquanto brincavam na porta de casa.
A avó de Rebeca e tia de Emilly, Lídia da Silva dos Santos, foi uma das primeiras pessoas a ver a cena: "Desci do ônibus às 20h20, depois do trabalho, e me deparei com a minha sobrinha morta, com o cérebro no chão, e minha neta com um tiro no coração", lembra. Mas não é dessa forma que os familiares querem se lembrar das duas meninas peraltas, que eram muito amadas e felizes.
Rebeca era uma menina decidida, líder nata, que comandava as brincadeiras das crianças da comunidade . Para ela, todos os vizinhos eram "primos, tios ou avós", classificados de acordo com a idade. Carismática, fazia amizade fácil.
"A gente brigava só por causa da televisão. Toda hora ela queria ver os desenhos Pepa e Miraculous. Ela foi uma criança muito esperada! Todo dia de manhã aparecia no meu quintal para pedir a benção. Eu perdi um filho de 25 anos de enfarte e um neto bebê, que era fiho dele, natimorto. Mas foram mortes naturais. Muito diferente de uma criança cheia de vida, que eu via correndo para os meus braços todo dia quando chegava do trabalho", conta a avó Lídia
O ajudante de carga e descarga, Maycon Douglas, 25 anos, pai de Rebeca, conta que a família tinha planos de sair da comunidade, mas a tragédia aconteceu antes. Apesar de ser separado da mãe da menina, todos moravam na mesma rua. Assim, todos os dias que acordava, Rebeca já estava na sua casa, ansiosa para pedir dinheiro para doces.
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"Todo dia eu dava R$ 2 para ela antes de trabalhar. E quando eu chegava, ela também ia lá ficar comigo porque era muito apegada à mim. Andávamos de bicicleta e ela gostava de me imitar, usando colares e boné", diz Douglas.
A prima Emilly também era esperta e com personalidade forte. Em todas as festas, ela era quem mais aproveitava, dançando todos os funks. A menina também gostava de frequentar a igreja evangélica e, segundo parentes, até "brigava com a pastora quando ela se atrasava".
O maior sonho de Emily era ter a sua própria festa de aniversário , com tema da personagem Moana. O evento iria finalmente acontecer no dia 23 de dezembro. Ela ainda pediu um "conjunto, de saia e blusa, igual ao da TV" para vestir na data. Segundo Lídia, a mãe da menina até procurou uma costureira para atender o pedido da filha exatamente da forma como ela queria. Essa mesma roupa foi usada para enterrá-la.
De acordo com o pai, Alexsandro dos Santos, de 40 anos, Emily e os dois outros irmãos dormiam no único quarto da casa, em uma cama de casal, enquanto os pais dividiam o espaço do sofá. No entanto, quase toda noite, ela pedia para dormir entre o casal.
"Não era por causa de pesadelo nao. Ela gostava mesmo de ficar com a gente, Então, no meio da noite, quando acordávamos, lá estava ela. Não desejo para ninguém essa dor que estou sentindo", desabafa o pai da garota. "Um tiro só levou duas vidas, dois anjos!".