O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, afirmou nesta terça-feira (13) que os incêndios no Pantanal estão "fora da ação governamental" em razão de fatores naturais que contribuem para a disseminação das chamas, como o clima mais seco, e rebateu críticas de países europeus à política ambiental do Brasil. Em entrevista à Rádio Gaúcha, Salles diminuiu a gravidade do fogo, que já consumiu 26% do bioma e disse que o mundo ignora incêndios registrados nos Estados Unidos, na Ásia e na África, que estaria queimando "muito mais do que o Brasil".
"Você vê a Califórnia queimando muito mais do que o Brasil , e nem por isso deixou-se de investir lá. A Austrália teve no ano passado o dobro de incêndios da Amazônia, a África está queimando muito mais do que o Brasil. Você vê uma visão bastante tendenciosa (em relação ao Brasil). Olham com lente de aumento o que acontece no Brasil e ignoram aquilo que está acontecendo em outiros biomas. O Alasca está queimando, a Sibéria está queimando", alegou Salles .
Apesar da comparação com outras regiões do planeta, a destruição da fauna e da flora no Pantanal e na Amazônia acenderam o sinal de alerta entre especialistas e ambientalistas ao redor do mundo. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) indicam que o número de incêndios no Pantanal é o maior da série histórica, iniciada em 1998. O desmatamento na Amazônia, por sua vez, é o maior registrado em uma década.
Indagado pelos entrevistadores se o governo federal havia feito sua parte no combate e na prevenção às chamas, Salles sustentou que a gestão fez tudo que estava ao seu alcance, sugeriu que apenas 5% da área do Pantanal estão sob jurisdição do Ibama e do ICMBio e buscou responsabilizar os Executivos estaduais.
"Os incêndios são preponderantemente causados e intensificados por questões alheias à vontade de qualquer governo, como o clima seco , mais quente. Isso está fora da ação governamental. O governo aumentou o número de brigadistas de 1.400 para 3 mil neste ano. As aeronaves do Ibama e do ICMBio eram seis e nesse ano foram colocadas 10. As Forças Armadas estão junto dos dois institutos no Pantanal há dois meses. O presidnete Bolsonaro assinou um decreto há 90 dias para que se proibisse o uso de fogo por 120 dias ", afirmou o ministro.
No entanto, conforme mostrou O Globo no último sábado, mudanças na lei e uma série de registros burocráticos contribuíram para um atraso de quatro meses na contratação de brigadistas do Ibama para combater os incêndios. A demora para o envio dos servidores inviabilizou a proteção de territórios indígenas e também expôs localidades do Cerrado.
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Com base nas projeções de incêndios de 2020, o Prevfogo solicitou a contratação de brigadistas, o que seria feito sem gastos extras ao governo, ainda em janeiro. No dia 18 de março, o MMA publicou uma portaria estabelecendo período crítico de emergência em relação a incêndios florestais em 17 estados — entre eles, todos os localizados na área da Amazônia Legal e do Pantanal. A autorização do Ministério da Economia, no entanto, viria apenas em junho.
Outro levantamento do Globo indicou que, a menos de três meses para o fim do ano, o Ibama gastou menos de 40% da verba destinada para o combate e prevenção a queimadas e ao desmatamento no país. Para Salles, no entanto, as críticas externas ao país são equivocadas e os problemas ambientais do Brasil estão concentrados nas cidades, onde falta saneamento básico e destinação adequada aos resíduos sólidos.
"É preciso ter muito bom senso nessa hora. Nenhum brasileiro pode concordar com essa imputação de que o Brasil desrespeita o meio ambiente e que o resto do mundo respeita", afirmou.
Ao comentar a aprovação de um relatório pelo Parlamento Europeu na última quarta-feira indicando a não ratificação do acordo entre a União Europeia e o Mercosul, o ministro do Meio Ambiente procurou um tom mais cauteloso do que o usual. Anteriormente, Salles já teceu duras críticas a países europeus como Alemanha e Noruega, que financiavam o Fundo Amazônia .
"O Parlamento Europeu fez uma votação simbólica, que obviamente pode estar sendo usada por muitos (países) como ponto de pressão contra o Brasil e o Mercosul . Os dois blocos têm interesses recíprocos no acordo, e é normal nessas negociações multilaterais que haja pressões de setores específicos", disse o ministro.
"Isso não quer dizer que não tenhamos a preocupação em esclarecer e melhorar sempre o tema ambiental. Mas nós não conseguimos concordar que o Brasil seja o vilão de qualquer tema ambinetal", finalizou Salles .