Ricardo Lopes Dias (esquerda) e Jaime Mayuruna (direita).
Divulgacao/Funai
Ricardo Lopes Dias (esquerda) e Jaime Mayuruna (direita).

Ricardo Lopes Dias , coordenador-geral de Índios Isolados e de Recente Contato da Fundação Nacional do Índio (Funai), tentou quebrar a quarentena de uma área de indígenas isolados no Amazonas. Ele também é acusado de indicar missionários para trabalhar na evangelização de índios korubo, grupo recém-contatado que habita a região.

O episódio aconteceu em uma base de proteção na Terra Indígena Vale do Javari, no Amazonas, durante uma missão promovida pela Funai à região, na última semana de agosto, afirma a chefe substituta da Frente de Proteção Etnoambiental do Vale do Javari, Idnilda Obando, em ofício enviado ao Ministério Público Federal (MPF) e à Diretoria de Proteção Territorial da Funai, a quem Dias está subordinado.

O Globo teve acesso às quatro páginas do ofício 43/2020 no qual Idnilda, que está há 34 anos na Funai, relata situação de constrangimento e assédio moral durante três reuniões com Dias, em Tabatinga (AM).

Ela tentou convencê-lo a não ingressar com sua comitiva na terra indígena sem o cumprimento de quarentena e, assim, expor os índios à contaminação de doenças, além dos profissionais que lidam diretamente com eles.

No documento, a servidora cobra da diretoria da Funai medidas contra o coordenador a quem chama de "ameaça à política pública do não contato aos índios isolados " e o acusa de "proselitismo religioso junto aos indígenas recém-contatados".

A servidora conta no ofício que, após uma rodada de duas reuniões com Ricardo Dias e o coordenador titular da Frente Etnoambiental do Vale do Javari, Jaime Mayoruna, não conseguiu impedi-los de seguir com o plano, que só foi abortado depois de o MPF recomendar à presidência da Funai que cancelasse a entrada em terra indígena do coordenador sem o cumprimento da quarentena .

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A chegada da comitiva liderada por Dias em aeronaves do Exército e aparato militar com soldados armados de fuzis, em 26 de agosto, causou espanto nos servidores da frente de proteção de Tabatinga, que não sabiam da missão organizada pela própria Funai.

A cena se repetiu também em Atalaia do Norte (AM) dois dias depois, de onde pretendia sair a expedição.

A quarentena de 14 dias dentro da terra indígena é obrigatória , assim como a realização de testes, desinfecção e utilização de equipamentos de proteção individual (EPIs).

As medidas fazem parte dos planos de ações de combate à Covid-19 entregues pelo governo ao Supremo Tribunal Federal (STF) e dos quais Dias participou da elaboração.

O objetivo da missão da Funai seria cumprir as determinações do STF para a implantação de barreiras sanitárias na base de proteção.

Como aponta a servidora em seu ofício, porém, o próprio coordenador da Funai demonstrou "desapreço com as questões sanitárias, saúde dos servidores na BAPE, bem como a possível contaminação dos indígenas que comprovadamente possui vulnerabilidade imunológica para as doenças respiratórias".

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