A Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ vai analisar a denúncia de estupro que, de acordo com a vítima, uma produtora musical , teria sido cometido por um policial militar contra ela em Copacabana, na Zona Sul do Rio, na última segunda-feira.
S., de 31 anos, afirma que sofreu abuso sexual de um PM do 19º BPM (Copacabana). Segundo a mulher, para subir ao apartamento dela, ele usou a desculpa de que precisava de dados para finalizar uma ocorrência, registrada uma semana antes, no prédio. Na portaria, um outro policial o aguardou até que retornasse do apartamento, o que foi registrado por câmeras do circuito de vigilância do edifício.
De acordo com a advogada Mariana Rodrigues, procuradora da comissão, como a jovem já está sendo assistida por uma profissional, a entidade está disponível para prestar apoio durante o processo.
"Como ela possui uma colega advogada, há um respeito ético, mas a comissão está completamente aberta para qualquer demanda, e também qualquer apoio ou ajuda que a colega advogada venha precisar, principalmente quando lida com agentes do estado ", afirma.
Para a advogada da vítima, Bárbara Guedes, o apoio será bem-vindo. O caso também está sendo acompanhado pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio.
"Ela é vítima de um policial militar, e eu também sou mulher, brigando sozinha pelo caso dela , então quanto mais gente do nosso lado nesse caso que envolve tanto corporativismo, melhor, "diz a advogada.
Vítima chegou a pedir quebra de sigilo telefônico
De acordo com S., no último dia 17 ela teve uma discussão com uma vizinha, que acabou acionando a polícia. O policial militar que conduziu as mulheres até a delegacia é quem ela acusa de ter retornado ao seu apartamento uma semana depois e tê-la estuprado .
"Acordei com meu porteiro me ligando e me perguntando se estava acontecendo algo no meu apartamento, pois um policial estava lá. Ouvi a voz do PM falando para o porteiro que era sobre a ocorrência da semana anterior, e ele precisava falar comigo", recorda. "Muita gente me pergunta porque eu abri a porta para ele. Mas eu pago imposto, eu trabalho pra caramba. Se eu não puder acreditar na polícia , vou acreditar em quem?".
Segundo "S", logo que o PM entrou em seu apartamento, começou a fazer perguntas e pedir informações de seus vizinhos. Em seguida, ela conta que ele começou a tirar a roupa dela , lamber seu pescoço, tocar seu seio com força e lhe penetrar com a mão.
A jovem conta que o homem só parou
quando ela disse que namorava um policial, e que o prédio gravava as imagens das câmeras de segurança. Na delegacia e posteriormente no batalhão da área, onde o agente é lotado, ela diz que enfrentou problemas para denunciar o caso, e que foi constantemente questionada. Policiais perguntaram se a vítima tinha contato com o agente, o que motivou que ela solicitasse a quebra de seu próprio sigilo telefônico.
"Tenho que provar que eu nunca conversei com esse homem. Eu mesma pedi a quebra. Fizemos um registro na Anatel para pegar os registros das minhas ligações", diz. "Ontem pesquisei no Google 'estupro' e 'PM' e o número de meninas que são estupradas... Vi uma menina de 17 anos que precisou provar que foi estuprada . Por que a gente luta para provar que foi estuprada? Isso dói. A nossa palavra não basta."
Procurada, a Polícia Militar informou em nota que, "segundo o comandante do 19ºBPM (Copacabana), a declarante foi prontamente atendida e ouvida a termo, procedimento de praxe para dar seguimento a apuração dos fatos. Informamos ainda que foi aberto um Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar as circunstâncias da ocorrência. A Corporação, como tem demonstrado ao longo de sua história, não compactua e pune com o máximo rigor desvios de conduta cometidos por seus membros".