Na madrugada da morte do pastor Anderson do Carmo , uma atitude da vítima chamou a atenção de investigadores e também de alguns familiares. O religioso, que foi morto ao chegar em casa de um passeio com a mulher, Flordelis dos Santos, dispensou o carro blindado do casal. Ele ligou para um de seus filhos, que estava na rua, para fazer a troca dos veículos. A suspeita é de que a deputada tenha feito o marido trocar de carro, já que o plano para matar Anderson incluía simular que ele tinha sido vítima de assaltantes.
Em um de seus depoimentos à polícia, Daniel contou que havia saído em seu Honda Acord, que não é blindado, com a namorada. Por volta das 23h, ele recebeu uma ligação de seu pai solicitando que ele voltasse para casa, em Pendotiba, Niterói, para trocar de carro com ele. Anderson disse ao rapaz que sairia com Flordelis. A atitude causou estranheza em Daniel.
Por volta de meia-noite, Daniel voltou para casa e trocou de carro com o pai. Ele pegou o veículo blindado, uma Caravan, e deixou o Honda Acord com o pastor. O rapaz relatou aos investigadores que era comum o pai pedir para fazer troca de carros, mas ressaltou que isso sempre era planejado e nunca ocorria de madrugada, como aconteceu naquele dia. Já Flordelis alegou que foi um pedido de Anderson sair no carro de Daniel. Nenhuma outra testemunha, no entanto, ouviu a conversa do casal.
Anderson foi baleado ao lado do Honda Acord, após ter retornado ao veículo para pegar algum objeto. Ele tinha acabado de chegar em casa com Flordelis, que já havia entrado na residência quando o marido foi atingido. Os investigadores suspeitam que a troca tenha ocorrido para que o pastor não conseguisse escapar dos tiros se escondendo no veículo blindado.
Declarações dadas por Flávio dos Santos Rodrigues, filho de Flordelis acusado de ter atirado no pastor, também aumentaram as suspeitas da polícia. Ao chegar ao Hospital Niterói D’Or para socorrer Anderson, ele frisou, no balcão de atendimento do hospital, que a mãe sempre andava no veículo blindado. “Não sei o que houve, cara. Ela saiu sem carro blindado. Não sei se foi assalto”, disse ele.
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Segundo as investigações, Anderson já tinha escapado de outro plano para assassiná-lo, no início do ano passado, por ter deixado a igreja em um carro diferente daquele que costumava usar. Uma testemunha relatou à polícia que quem mataria Anderson naquela ocasião era um pistoleiro que apareceu na igreja cobrando R$ 2 mil pelo serviço.
Denunciada pelo homicídio
"Não se trata de uma família, mas de uma organização criminosa", foi assim que o delegado Allan Duarte definiu o grupo formado pela deputada federal Flordelis (PSD-RJ) e os demais acusados de envolvimento no assassinato do marido dela, o pastor Anderson do Carmo, em junho do ano passado. Segundo a investigação da Polícia Civil, a parlamentar foi quem orquestrou o crime, que envolveu oito integrantes da família.
O inquérito, aceito pelo Ministério Público, narra uma trama complexa e uma dinâmica familiar diametralmente oposta à imagem puritana que o casal transmitia em cultos e eventos pentecostais pelo país. O enredo inclui sexo, traições, envenenamento, rituais nada cristãos e até a prática das famosas "rachadinhas" — desvio de dinheiro de funcionários de gabinete.
Um ano e dois meses depois do crime e de uma investigação cheia de reviravoltas, a polícia concluiu o inquérito. Aos três suspeitos já presos, se juntaram mais cinco filhos de Flordelis, uma neta e a mulher de um dos detidos anteriormente. A deputada segue em liberdade, graças ao foro privilegiado, embora a polícia não tenha dúvidas de que ela desempenhou papel central na articulação do crime e em seus desdobramentos.