George Louzada, diretor da ala de passistas da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel, vai prestar queixa ainda nesta sexta-feira (14) contra o gerente da filial da Rede Multimarket. George foi vítima de racismo em um supermercado em Madureira, na Zona Norte do Rio.
O coreógrafo, de 29 anos, relatou a situação pelas redes sociais, onde recebeu apoio. Ele disse ter sido perseguido e que o gerente da Rede Multimarket tentou olhar o que tinha na bolsa dele.
Louzada explicou que não fez o Registro de Ocorrência logo após o episódio, na tarde da última quinta-feira (13), porque estava muito abalado.
Em entrevista ao Globo , Louzada disse frequentar quase que diariamente o estabelecimento, que fica em frente ao seu prédio. Ele lembra que só viu o gerente que praticou o racismo contra ele apenas outras duas vezes, mas não sabe qual o nome do homem.
"Vou praticamente todos os dias. Não peguei cesta de compras e coloquei tudo que precisava dentro da minha bolsa. Fui comprar coisas para um jantar de dois anos de namoro com o meu namorado, mas até isso ficou para trás depois do que aconteceu. Fiquei muito abalado, muito nervoso, me tremia todo. Foi a minha irmã que descobriu que ele era gerente, já que não usava uniforme do supermercado e nem crachá", conta Louzada.
"O mal do racista é não admitir que ele é racista . Por que ele foi somente atrás de mim? O racismo é estrutural e quem não admite é pior", comenta.
O coreógrafo afirma que mais pessoas estavam junto com ele no supermercado . Ele alega que percebeu que estava sendo seguido depois que o gerente passar duas vezes o encarando e vendo o que pegava e colocava na bolsa.
Você viu?
Segundo Louzada, o homem ficou a apenas dois ou três metros de distância durante todo o tempo que ele permaneceu no supermercado.
Ele entende que houve um preconceito racial na avaliação do gerente, justamente porque outras pessoas brancas estavam no supermercado e não sofreram com a mesma situação.
"Finalizei a compra me tremendo todo. Peguei a bolsa e a nota e fui atrás dele dentro do supermercado. Falei alto para que todos ouvissem. Mostrei o comprovante, indiquei em qual caixa paguei e disse que nunca estive ali para roubar, porque entro quase todos os dias. Ele tentou dizer que não agiu assim, mas eu disse que ele só foi atrás de mim por racismo e preconceito. Ele fez de tudo para que eu percebesse que estava sendo perseguindo", afirma.
Louzada disse também que "é insano um mercado que tem 90% do seu quadro de pretos fazer isso com um cliente. Ele desrespeitou seus próprios funcionários, e ainda tentou justificar".
Denúncia como exemplo
Essa foi a primeira vez que Louzada sofreu racismo explícito. Por isso, ele fez questão de contar o episódio nas redes sociais para incentivar que outras pessoas denunciem. Para o diretor de ala da Mocidade , a única forma de combater o preconceito é expor o fato e quem o fez.
"O que eu passei ontem (13) muitos negros passam diariamente. Ninguém falar e denunciar o assunto torna tudo mais obscuro. O que mais me chamou a atenção nessa postagem foram os relatos de casos parecidos com o meu, mas ninguém fala, ficando mais difícil de combater. Quando você expõe, você não minimiza, mas ajuda a alertar outras pessoas e incentivá-las a denunciar também", diz.
Há quase 20 anos no Carnaval, sendo dez deles como diretor da ala de passistas da Mocidade Independente de Padre Miguel, George Louzada deixou um recado para o seu agressor e para outras pessoas que cometem racismo, homofobia e quaisquer preconceitos contra outro ser humano.
"Eu diria para essas pessoas refletirem. Todos têm mãe, tias, família e isso pode acontecer com um parente seu. Estamos em um país de maioria autodeclarada negra ou parda. O Brasil é um país miscigenado, isso não pode acontecer, nem aqui e nem em nenhum lugar. O tom de pele, a sexualidade, o credo, o gênero, isso não pode definir uma pessoa a olhar para outra e julgar ela, ou acusá-la de roubo. Não sei o que vai acontecer, mas espero que essa atitude seja revista, repensada e reposicionada", afirma Louzada.