Onze vítimas do rompimento da barragem da Vale ainda estão desaparecidas.
Antonio Cruz/Agência Brasil
Onze vítimas do rompimento da barragem da Vale ainda estão desaparecidas.

O Corpo de Bombeiros de Minas Gerais anunciou para 27 de agosto a volta das buscas pelas 11 vítimas do desmoronamento da barragem da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho. 

Os trabalhos haviam sido suspensos em 21 de março de 2020 , devido à pandemia de Covid-19. Os bombeiros terão um protocolo de segurança, que inclui uso de máscaras e óculos deproteção, higienização dos equipamentos com álcool 70% e uso de álcool gel nas mãos a cada duas horas.

No total, 270 pessoas morreram na tragédia , que ocorreu em 25 de janeiro de 2019.

Segundo o coronel Alexandre Gomes Rodrigues, coordenador das buscas, a equipe vai passar de 48 para 60 homens. Em parceria com a Vale, foi feito um mapeamento de onde cada um dos desaparecidos estava na hora da queda da barragem e cálculos de probabilidade, com base no deslocamento da lama.

Até março, o serviço dos bombeiros vinha sendo dificultado pelos cursos d'água, entre eles o próprio Córrego do Feijão . Para evitar o problema, a mineradora fez obras de drenagem para facilitar o acesso nos pontos de maior probabilidade de serem encontradas vítimas.

"Estamos agoniados, incompletos. Falta achar meu irmão para a gente fechar o ciclo. Isso dói demais", diz Angélica Souza, irmã de Renato Souza, 31 anos, mecânico da Vale que estava há apenas uma semana no Córrego do Feijão, onde participava de um treinamento e esperava ser promovido.

"Choro todos os dias. Já comprei jazigo, arrumei tudo. Está esperando por ele. Pelo menos um pedaço dele", relata Lúcia Mendes, mãe de Tiago Tadeu Mendes da Silva, 34 anos, mecânico industrial da Vale que acabara de se formar em Engenharia.

A expectativa é conseguir encontrar os corpos restantes até novembro , antes do período de chuvas na região.

Estudos feitos pelos bombeiros indicaram, segundo o coronel, que duas áreas são prioritárias: uma logo abaixo dapousada Nova Estância, que desapareceu sob a lama, e outra na estrada Remanso 1, que havia sido construída para facilitar as primeiras buscas e agora foi destruída, já que existe a possibilidade de terem corpos sob ela.

De acordo com Rodrigues, é preciso ainda inspecionar a chamada área de espera. Neste local foi amontoada a lama que secou e se tornou uma massa compacta. Mesmo sem buscas, parte de uma vítima foi localizada ali por um funcionário da Vale em julho passado. 

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Mesmo sem o término dos trabalhos dos bombeiros, o Memorial aos mortos da mina da Vale em Brumadinho já foi desenhado. Construído pela Vale a pedido das famílias das vítimas, ele será erguido em área alta, à esquerda do topo da barragem , na comunidade do Córrego do Feijão.

É o lado oposto da igreja da comunidade, onde os bombeiros montaram sua base de operações de resgate. Do Memorial será possível avistar a extensa área tomada pela lama seca, que será recuperada. Será instalado um mirante e criado um vale, onde uma árvore de Ipê amarelo será plantada para representar cada uma das vítimas da tragédia.

"Ela era a pessoa mais alegre e ocupada que conheci. Os funcionários da Vale eram sua segunda família. Visitava recém nascidos, ia em festa de 15 anos,de casamento, em velório. Ela queria cuidar e dar atenção a todasas pessoas", conta Natália Oliveira, irmã de Lecilda de Oliveira, 49 anos, uma das vítimas ainda não localizadas.

Lecilda trabalhava na Vale há quase 30 anos. Havia se aposentado por tempo de serviço três meses antes da tragédia, mas não quis parar de trabalhar.

Entre os mortos ainda não localizados, a única que não trabalhava na Vale ou prestava serviços na mina era Maria de Lurdes da Costa Bueno, 59 anos. Moradora de São José do Rio Pardo, no interior de São Paulo, ela estava na Pousada Nova Estância com o marido, Adriano Ribeiro da Silva, 61 anos.

Além do casal, morreram na tragédia os dois filhos de Adriano e a nora, grávida de 5 meses. A família comemorava o primeiro neto e se reuniu em Brumadinho para uma visita ao Museu Inhotim. Os dois filhos de Maria de Lurdes moram fora do Brasil.

"Estou sempre à espera de notícias mas talvez eu não possa ir enterrar minha mãe. Ou se for, talvez não tenha como voltar", diz Patrícia Borelli, filha de Maria de Lurdes, que mora nos Estados Unidos, referindo-se à proibição de brasileiros viajarem aos Estados Unidos durante operíodo de pandemia.

A Vale não voltará a operar a mina Córrego do Feijão.


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