A Fundação Oswaldo Cruz prevê até 3 mil novas mortes por Covid-19 no Rio de Janeiro (RJ) se as aulas retornarem em agosto. O estudo leva em consideração o contato entre crianças e adolescentes de 3 a 17 anos com familiares de grupos de risco como: pessoas com diabetes, problema no pulmão e problema no coração.
Segundo a Fiocruz, cerca de 10% dessa população deve precisar de cuidados intensivos —o equivalente a 60 mil pessoas no Rio.
O levantamento foi desenvolvido com base na Pesquisa Nacional de Saúde, feita pelo IBGE em parceria com o Laboratório de Informação em Saúde da Fiocruz.
Segundo Diego Ricardo Xavier, epidemiologista da Fiocruz, em caso de volta às aulas, o contato com crianças e adolescentes fará com que parte do grupo de risco interrompa o isolamento social.
"A gente precisa lembrar como se dá a dinâmica familiar. Muitos pais saem para trabalhar e deixam os filhos com os avós. Mas, quando a criança voltar para a escola, vai acabar levando o vírus para essa população de risco, que não terá como seguir isolada. Acabou o 'fica em casa' para esses idosos. A doença é menos prejudicial na população mais jovem. Mas eles funcionam como vetores do vírus."
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O cálculo da fundação leva em conta o fato do Rio não ter adotado o chamado bloqueio sanitário, medida defendida pela Fiocruz como necessária para possibilitar o retorno escolar. O estudo da fundação propõe a aplicação de exames PCR, tipo de testagem com coleta no nariz e garganta do paciente, que permitem detectar o RNA do vírus e rastrear o seu deslocamento em casos suspeitos ainda em estágio inicial. A adoção da medida envolveria investimento das prefeituras e governo do estado.
Sindicato de professores também se manifestou contrário ao retorno
O Sinpro RJ (Sindicato dos Professores do Rio de Janeiro), que representa 35 mil profissionais em mais de 2 mil escolas, utilizou o estudo da Fiocruz para embasar argumentos contrários ao retorno em agosto.
Oswaldo Peles, presidente do sindicato, participou na última terça-feira (21) de uma reunião com a Vigilância Sanitária para discutir o assunto. Um dos pontos de maior contrariedade da categoria foi a ausência de testagens para os profissionais no protocolo adotado pelo poder público. A recomendação, inclusive, faz parte das orientações da Fiocruz.
"Fiz esse questionamento na reunião e fui informado de que a testagem para os profissionais não está no protocolo. A nossa visão é a mesma da Fiocruz. Entendemos que ainda é prematuro para a retomada das aulas. Não é o momento para a volta às aulas", diz Oswaldo.
Em nota, a prefeitura contestou o posicionamento do Sinpro e afirmou que a categoria dos professores é a favor do retorno. A a administração municipal encaminhou relatos de profissionais de ensino, em apoio à medida, após a reunião com representantes de escolas, na última terça, sobre a proposta de retomada parcial das escolas.