São Paulo registrou quase 6 mil casos de violência policial em 2019
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São Paulo registrou quase 6 mil casos de violência policial em 2019

Aos 17 anos, Gabriela Talhaferro enfrenta a quarentena com ansiedade. Ela perdeu a visão do olho esquerdo em novembro do ano passado, atingida por uma bala de borracha disparada por um policial militar. O olho da adolescente foi alvejado na madrugada de 10 de novembro de 2019, um domingo, depois que a polícia dispersou uma multidão de jovens que aguardavam por um baile funk em Guaianases, na Zona Leste de São Paulo.

O caso aconteceu cerca de 20 dias antes da morte de nove jovens, com idades entre 14 e 23 anos, na comunidade de Paraisópolis, durante uma ação policial para dispersar um pancadão. Desde a agressão, Gabriela sofreu depressão, se trancou no quarto, ficou sem comer e perdeu mais de cinco quilos. Sete meses se passaram, mas não houve punição para o PM que disparou em direção ao seu rosto.

O tiro, relata Gabriela, partiu de uma viatura da PM que passou pela rua. Ferida, ela chegou a ir até os policiais e pedir ajuda, que foi negada:

— Tenho certeza que o policial quis me atingir de propósito, porque não havia outras pessoas perto. Eu estava praticamente sozinha na calçada. Quando vi o sangue fui até as viaturas pedir ajuda, eles riram e me xingaram — conta.

A adolescente foi acolhida pelos donos de uma adega. Foi a comerciante quem chamou um carro de aplicativo para que Gabriela fosse levada a um hospital. O caso foi denunciado à Polícia Civil e seguiu para a Corregedoria da PM. Gabriela e um amigo, separadamente, dizem ter reconhecido dois policiais que estavam na viatura de onde partiu os tiros. Porém, a corporação afirmou que os policiais reconhecidos não estavam de plantão no dia.

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Em 2019, das 5.854 denúncias ou reclamações recebidas pela Ouvidoria das polícias de São Paulo, 2.069 são sobre atos como abuso de autoridade, lesão corporal, assédio moral, tortura e até crime sexual.

— Mesmo diante de tantos episódios de abuso, a cúpula das polícias trata como casos isolados. Não são. Eles se repetem diariamente e a violência se tornou corriqueira no policiamento — afirma o advogado Ariel de Castro Alves, conselheiro do Conselho Estadual de Direitos Humanos (Condepe).

No último dia 18, os irmãos Isaaac Gabriel, de 24 anos, e Gabriel Osvaldo Gabriel, de 31, vendiam churrasco ao lado de uma quadra esportiva no Jabaquara, Zona Sul de São Paulo, quando seis viaturas chegaram. Eles relatam que começaram a recolher a carne, depois que os PMs lançaram bombas. Ao não pararem, após ordem dos policiais, foram agredidos.

Para fazer a denúncia, os irmãos receberam apoio da Rede de Proteção e Resistência Contra o Genocídio, de apoio a vítimas de abuso policial. À Polícia Civil, os dois disseram terem sido levados para um Batalhão da PM, onde assinaram, sem tempo para ler, um termo de declaração. Em seguida, foram encaminhados a uma delegacia de polícia.

A Secretaria de Segurança Pública informou apenas que os casos de Gabriela Talhaferro e dos irmãos Gabriel estão sendo investigados pelas Polícias Civil e Militar. A Ouvidoria das polícias informou que acompanha as denúncias.

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