Clínica usa saco de lixo em vez de equipamento de proteção em paciente
Paciente fez denúncia após ser vestida com sacos de lixo em uma clínica odontológica em Caxias, na Baixada Fluminense
Por Agência O Globo |
A esteticista Cristiane Boneta fez um denúncia em uma rede social sobre o tratamento que recebeu em uma clínica particular de odontologia em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Ao ser recebida na manhã de quarta-feira no local para realizar a segunda etapa de uma cirurgia na gengiva, ela foi vestida por uma assistente com sacos de lixo, sob a justificativa de que o estabelecimento teve dificuldade para adquirir equipamentos de segurança em meio à pandemia de Covid-19 .
Ao EXTRA, Cristiane contou que não soube como reagir à situação. Ela relata que buscou o consultório após a recomendação de outro dentista e não enfrentou problemas no primeiro atendimento, feito em março.
"A assistente me entregou os sacos de lixo logo após eu chegar. Pensei que serviriam para colocar minha bolsa e os sapatos, mas ela pediu que eu vestisse e ainda colocou um deles na minha cabeça, porque disse que a touca não comportaria meu cabelo volumoso. Questionei, e ela me respondeu que os equipamentos estavam em falta e eu precisava usar aquilo me proteger. Desde o início eu fiquei sem reação, uma vontade de chorar mesmo, mas eu precisava fazer o procedimento. Quando cheguei à sala de cirurgia, eu perguntei para o dentista o motivo daquilo, disse que não era certo, mas ele só respondeu que o material estava limpo", conta.
No consultório, Cristiane decidiu registrar tudo que pode com um celular. Ela conta que não foi embora nem se recusou a fazer a cirugia porque não teria provas do que ocorreu. Após o atendimento, conversou novamente com o profissional, e o alertou que o procedimento de segurança adotado foi equivocado.
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"Quando fiz novamente o alerta, destacando que o estabelecimento poderia ser multado, o dentista me respondeu que não havia pensado nessa possibilidade. Para ele, por ser um plástico, poderia ser usado para esse fim. Eu também atuo na área da saúde, e acredito que temos que tratar o outro da mesma maneira como gostaríamos de ser tratados. Isso não aconteceu. O saco de lixo só serve pra uma coisa e o nome já diz. Além de não ser adequado, é constrangedor para o paciente. Mesmo que tenha sido um fato isolado, houve constrangimento, houve uma discriminação. Foi ruim", ressaltou Cristiane, que entrou em contato com uma advogada e avalia fazer uma representação formal contra o profissional de saúde.
Por telefone, o odontologista Wagner Padilha, um dos responsáveis pela clínica Odonto Irmãos Padilha, reconheceu que o material usado não era o adequado, mas disse que foi uma medida adotada de forma temporária por conta da dificuldade de adquirir os equipamentos de proteção. Segundo ele, o procedimento não foi prejudicado e no próprio consultório ele se desculpou com a paciente.
"Reconheço que não era o ideal. A clínica ficou parada por quatro meses por conta da pandemia e tivemos dificuldade para adquirir os EPIs. Estão em falta em muitas lojas e os preços estão quase impraticáveis. Eu já estava paramentado quando a paciente chegou na sala de cirurgia. Como ela disse que se sentiu constrangida, poderia ter optado por não fazer o procedimento, não teríamos problema nenhum com isso. Mas foi a solução de emergência que encontramos para uma proteção cruzada, já que eu também faço parte do grupo de risco. O corpo e o cabelo tiveram o menor contato possível com o ambiente, para diminuir qualquer risco de contaminação. Pedi desculpas quando ela me alertou sobre, já no final do procedimento. Dei razão a ela e decidimos procurar outra solução. Tenho 68 anos, 37 anos de profissão, e jamais faria intencionalmente algo para constranger ou colocar em risco o paciente. Espero que a situação seja resolvida da melhor forma possível", disse Padilha.