Mesmo superlotados, hospitais federais fecham leitos por falta de profissionais

Levantamento também apontou escassez de equipamentos em cada uma das nove unidades da rede hospitalar federal do Rio

Situação do Hospital Geral de Bonsucesso é a pior: foi esvaziado, deixando de oferecer 28 serviços de média e alta complexidade
Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo
Situação do Hospital Geral de Bonsucesso é a pior: foi esvaziado, deixando de oferecer 28 serviços de média e alta complexidade

Um levantamento iniciado no fim de semana pelo Sindicato dos Médicos (SinMed-RJ) sobre as redes públicas de saúde do Rio relatou falta de profissionais e equipamentos e o consequente fechamento de centenas de leitos em cada uma das nove unidades da rede hospitalar federal do Rio , a maior sob administração do Ministério da Saúde.

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O caso mais grave é o do Hospital Federal de Bonsucesso, que, no início da pandemia, foi definido pela Superintendência Estadual do Ministério da Saúde como a unidade referência no combate ao coronavírus no Rio. Com isso, o hospital foi esvaziado, deixando de oferecer 28 serviços especializados de média e alta complexidade num de seus prédios, para atender exclusivamente à Covid-19. O resultado foi a troca de 240 leitos por 49, que, segundo dados do Sistema de Regulação no sábado, estavam desocupados.

A inércia na oferta de leitos gerou ação da Defensoria Pública da União e do Ministério Público Federal. No início de maio, a Justiça acusou “omissão no enfrentamento à pandemia ” e determinou a destituição da direção do HFB, mas uma decisão posterior do TRF2 suspendeu a liminar.

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"Desde o início criticamos a escolha do HGB como referência, e já existem outras duas unidades com emergências mais bem estruturadas, o Cardoso Fontes e o Andaraí", disse Carlos Vasconcellos, diretor do SinMed-RJ, que criticou o discurso do presidente Jair Bolsonaro ao incentivar a busca de flagrantes de inoperância hospitalar.

"Não queremos eximir a responsabilidade do governador e do prefeito, mas o presidente não pode acusar isso, se sua própria rede não faz nada", concluiu.

A outra unidade federal com leitos para Covid é o Hospital dos Servidores, com seis disponíveis. Mas unidades com emergência continuaram recebendo pacientes com coronavírus, como o Cardoso Fontes, onde profissionais falam em superlotação.

"Uma ala para seis pacientes chegou a ter 21. Cuidei de 13 ao mesmo tempo, quando a média era ter três. Tivemos muita demanda e poucas condições de atendimento", diz a técnica de enfermagem Christiane Gerardo.

Procurado, o Ministério da Saúde não se manifestou.