Limitação de testes em São Paulo pode fazer reabertura econômica fracassar

A tendência é que, com poucos testes para mapear a doença e mais pessoas na rua, o número de casos aumente

A reabertura da atividade econômica em São Paulo pode trazer grandes problemas para a cidade, isso porque o número de pessoas testas para mapear onde há mais concentração de casos de coronavírus é baixo e, com isso, o número de infectados tende a aumentar. A cidade testará por volta de 44 mil pessoas dos 96 distritos e a primeira fase de testes sorológicos terminou na última sexta-feira (12) e já estão sendo tabulados.

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Testes Covid-19 são limitados em São Paulo e isso pode trazer consequências ruins
Foto: Agência Brasil
Testes Covid-19 são limitados em São Paulo e isso pode trazer consequências ruins


O intuito dessa testagem é mapear os locais onde o vírus é mais presente e, dessa forma, tentar monitorar quem esteve perto dos infectados para que eles não precisem ser internados – uma vez que os leitos de UTI estão escassos. Segundo divulgado pelo jornal Folha de S. Paulo, o secretário da Saúde de São Paulo, Edson Aparecido, admite que o município não tem estrutura para bancar uma testagem em larga escala, que incluiria fazer testes em pessoas que tiveram contato com algum infectado.

Esse problema não é só da cidade de São Paulo, ele se espalha por todo o Estado. Uma alternativa encontrada pela capital é usar as equipes de atenção básica para levantar dados e, assim, estimar quantas pessoas tiveram contatos com alguém que teve a Covid-19, mas especialistas acreditam que medida não é suficiente.

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“Isso não é estratégia de contenção. Uma coisa é monitorar onde o vírus está. Outra é fazer testes para identificar as pessoas infectadas e garantir seu isolamento quando se reabre a economia”, afirmou Denize Ornelas, diretora da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, em entrevista à Folha.

O grande problema é que no início da pandemia havia poucos testes, mas muitas pessoas estavam em casa, agora é diferente. Com a reabertura de algumas atividades econômicas, mais pessoas circulam nas ruas e os assintomáticos podem transmitir o vírus sem saber. Denize enfatizou que a realização dos testes é fundamental e disse que Florianópolis é um bom exemplo.

Exemplo a ser seguido

Na capital catarinense, são feitos 1.052 testes por milhão de habitantes por semana, conforme divulgado por Ronaldo Zonta, chefe do departamento de Gestão da Secretaria Municipal de Saúde. Esse número de testagem é maior do que o feito na Coreia, um dos países apontados como referência no combate ao coronavírus.

Vale ressaltar que mesmo com a testagem sendo feita de forma mais ampla, Florianópolis já se prepara para recuar. “Sabemos que, em algum momento, teremos eventualmente que fechar novamente”, pontuou Ronaldo. A cidade catarinense registrou apenas nove mortes e, na fase aguda, tomou atitudes mais firmes, como proibir a circulação de ônibus.

O problema da falta de testagem em larga escala não só em São Paulo, mas no Brasil como um todo é algo que preocupa desde o início. “Esta é a primeira epidemia em que o país não tem uma coordenação nacional a partir do Ministério da Saúde, que tinha como comprar testes em massa a preços competitivos e coordenar a sua aplicação”, disse Daniel Soranz, pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz.

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Os dados da Our World in Data apontam que o Brasil é o país que regista menos testes da Covid-19 no mundo, sendo 2,3 exames a cada 100 mil habitantes. Nos Estados Unidos e em grandes países da Europa, esse número varia de 50 e 86 testes por 100 mil habitantes.