Médica que foi agredida trabalha na linha de frente contra o novo coronavírus
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Médica que foi agredida trabalha na linha de frente contra o novo coronavírus


Imagens que circulam em redes sociais mostram as agressões relatadas pela médica Ticyana D'Azambuja, de 35 anos, sofridas na tarde do último sábado no bairro do Grajaú, na Zona Norte do Rio. Fotos mostram o momento em que a profissional de saúde, que vestia calça jeans e blusa preta, era carregada por um homem. Ticyana afirma que foi agredida ao ir até o imóvel para pedir o fim de uma festa que ocorria no local.

De acordo com a médica, uma das imagens mostra o momento em que uma mulher de calça vermelha e top preto puxa os seus cabelos enquanto ela é carregada pelo rapaz. Ainda segundo Ticyana, na mesma foto, um homem de bermuda jeans e blusa amarela foi flagrado enquanto socava seu rosto.

Nessa segunda-feira, Ticyana esteve na 20ª DP (Vila Isabel) para registrar o caso e prestar depoimento. Em seguida, foi encaminhada para o Instituto Médico Legal (IML), no Centro do Rio, onde passou por exame de corpo de delito. A médica relata que teve o joelho esquerdo quebrado e as mãos pisoteadas.

Em entrevista ao Globo, a profissional de saúde relatou que já havia feito diversas denúncias à Polícia Militar sobre as festas que ocorriam na casa, localizada na Rua Marechal Jofre, sem que seus chamados tivessem sido atendidos.

No sábado, resolveu descer à rua e, num ato, que classifica como "impensado", quebrou o espelho retrovisor e trincou o para-brisa de um carro estacionado na calçada e isso teria sido o estopim para as agressões . Antes, porém, havia pedido para que acabassem com a festa, que estava lotada, sem ter sido atendida. A Polícia Civil já identificou que o dono do veiculo é um policial militar.

Em uma postagem feita em uma rede social, Ticyana afirma que o PM, que estava na festa, lhe pediu R$ 6,8 mil reais para consertar o carro e para que “tudo ficasse por aquilo mesmo”.

"Foi errado. Foi impensado. Foi estúpido. Mas sou humana e fiz uma besteira contra um bem material de outra pessoa. Não foi um ato contra nenhum outro ser humano, isso eu sou incapaz de fazer. Cinco marmanjos (me lembro de uns 5) saíram, e obviamente, bêbados e drogados, típicos 'cidadãos de bem', não estavam para conversa. Apavorada, vi o potencial da besteira que fiz e saí correndo. Me agarraram em frente ao Hospital Italiano. Me enforcaram até desmaiar. Me jogaram no chão e me chutaram. Quando retornei à consciência, gritava por Socorro! Isso aconteceu no dia 30 de maio por volta de 17h, em plena luz do dia", relatou a médica numa postagem em rede social.

Ticyana acrescentou que desceu para tentar que a festa terminasse porque havia trabalhado em um plantão no dia anterior e assumiria outro na mesma noite, por isso precisava descansar. Ela vem atuando na linha de frente no combate ao novo coronavírus.

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Falta de apoio

Ticyana lamentou a falta de apoio das pessoas que presenciaram a agressão. Só três pessoas a apoiaram. Um deles, um vizinho saiu em sua defesa e levou um soco na boca. Um dos agressores teria mandado trazer um carro e ameaçado dar um "sumiço" na vítima que, nesse momento, chegou a ter certeza que fosse morrer. Ela disse que foi arrastada até a altura de uma unidade do Corpo de Bombeiros, aos quais implorou ajuda e que garantissem sua integridade física até a chegada da polícia, mas eles não teria sido atendida. Uma viatura da PM apareceu em seguida e depois mais duas.

"Estou muito chorosa, triste, e sem fé na Humanidade. A impunidade vai reinar mais uma vez nesse caso. Mas o que mais me doeu, foi ter clamado por ajuda, e dezenas, talvez uma centena de pessoas viram o que aconteceu e 3, somente 3 se dignificaram a socorrer uma pessoa em perigo. Sempre fui atuante na comunidade do Grajaú, e quando precisei de socorro, fui abandonada aos chutes e gritos de “Mata mesmo!”. O que me dói mais não é o grito dos maus, é o silêncio dos bons. Se as festas acabarem na casa da marechal jofre, lembrem-se que custou meu trabalho de médica e meu joelho", escreveu na rede social.

Em nota, a Polícia Militar afirmou que foi acionada por volta das 17h de sábado, após informações de que a médica havia danificado um carro. De acordo com a nota, em consequência desse ato a mulher foi agredida por um homem. Um outro homem, que tentou defender a mulher, também foi agredido. “Vale ressaltar que, como consta do boletim de ocorrência da PM elaborado pela equipe no local, as partes entraram em comum acordo e não foi realizado o registro na delegacia”, diz nota.

Mesmo com a confusão, a festa continuou. A PM afirma que foi acionada novamente, dessa vez por causa da realização da festa, mas não deixa claro na nota se houve alguma intervenção dos policiais que foram ao local para que o evento fosse interrompido.De acordo com informações apuradas pelo GLOBO, a festa só terminou com a chegada de agentes da Polícia Civil ao local, por volta das 22h.

O que diz a PM

A Polícia Militar informou que no último sábado, PMs do 6º BPM (Tijuca) foram acionados para apurar duas ocorrências, em horários diferentes na Rua Marechal Jofre, no Grajaú:

"Na primeira, por volta das 17h, foi apurado no local que uma mulher, bastante nervosa, danificou um veículo estacionado e, em consequência desse ato, foi agredida por um homem ainda não identificado. Um outro homem, que tentou defender a mulher, também foi agredido. Vale ressaltar que, como consta do boletim de ocorrência da PM elaborado pela equipe no local, as partes entraram em comum acordo e não foi realizado o registro na delegacia. Na segunda ocorrência, comunicada um pouco mais tarde, os policiais militares do 6ºBPM foram acionados para verificar denúncia sobre realização de festa numa casa na mesma rua. Por infringir as determinações do decreto governamental de isolamento social, o evento foi encerrado", completa a nota.

Em relação a relatos postados em redes sociais sobre o suposto envolvimento de policial militar em ato de agressão ou qualquer outro desvio de conduta, a Corregedoria da Polícia Militar está à disposição dos cidadãos para receber e apurar denúncias. O contato pode ser feito através do telefone pelo número (21) 2725-9098 ou ainda pelo e-mail [email protected] , com garantia de anonimato".

O que diz o Corpo de Bombeiros

Em nota, o Corpo de Bombeiros do Rio diz que a corregedoria da corporação vai abrir procedimento interno para apurar o caso, "se solidariza com a vítima e reforça que não compactua com atos ilícitos ou que vão de encontro à ética, à moral e aos bons costumes".

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