Tia de João Pedro, assassinado no RJ, fala em "cenário de destruição" em casa
No total, 72 tiros foram disparados dentro da residência da tia da vítima, localizada no Complexo do Salgueiro, onde João estava no dia 18 de maio
Por Agência O Globo |
A mãe de João Pedro, adolescente de 14 anos morto durante uma operação policial no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, emocionou-se ao relatar em entrevista ao “Fantástico” que, nas últimas semanas, sua maior preocupação com o filho era por causa da pandemiado novo coronavírus. A família estava tomando todos os cuidados para evitar a doença, já que o jovem tinha bronquite.
“A gente tinha todo esse cuidado com ele. A gente tão preocupado com a pandemia... Não imaginava que de uma hora para outra iam tirar a vida dele”, disse Rafaela Pinto, mãe do rapaz.
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Morador do Salgueiro, João Pedro foi morto no último dia 18, durante uma operação das polícias Civil e Federal na comunidade. Ele foi atingido por um tiro no peito dentro de casa. Os agentes que participaram da ação alegam que o adolescente foi baleado em meio a um tiroteio entre policiais e traficantes, que teriam entrado na residência da família da vítima. Os parentes, no entanto, negam essa versão.
De acordo com a reportagem do “Fantástico”, os sobreviventes — além de João, havia outros cinco adolescentes na casa — relatam que os policiais arrombaram o portão e entraram no quintal atirando e jogando granadas.
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“Não mataram bandido nenhum porque não tinha bandido. Forjaram isso. Mataram um inocente de 14 anos”, acusou o pai de João Pedro, Neilton Pinto.
O delegado titular da Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo, Allan Duarte, afirmou ao “Fantástico” que duas testemunhas confirmaram a presença de criminosos no local:
“Eu não posso dizer que houve um erro da polícia. Acredito que tenha sido uma tragédia. Porque não se sabe de onde partiu esse tiro”.
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A reportagem do “Fantástico” revelou ainda que João Pedro se preocupou quando percebeu que havia começado uma operação no Salgueiro e fez contato com parentes.
“Ô, João... Fica calmo, pelo amor de Deus. Não saia daí de dentro. Se a polícia chamar alguém ,vocês atendam de boa. Pelo amor de Deus”, disse a tia Denise Roza ao sobrinho ao receber uma mensagem dele.
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Denise mora na casa onde João foi morto. Ela relata que, quando chegou ao imóvel, o cenário era de destruição. No total, 72 tiros foram disparados dentro da residências e marcas estão espalhadas por paredes e todos os cômodos.
“Janela toda furada. Tiro na televisão, nas paredes, no quarto que meus filhos dormem... Cozinha toda bagunçada. Derrubaram guarda-roupa, quebraram guarda-roupa... Atrás tem um quartinho de ferramenta... Tudo furado de bala”, contou Denise ao “Fantástico”.
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A Defensoria Pública do Estado do Rio, que representa a família de João Pedro, quer que as investigações passem a ser conduzidas pelo Ministério Público estadual. O órgão considera que a DH de Niterói e São Gonçalo não terá a mesma imparcialidade para apurar o caso, uma vez que pertence à Polícia Civil, assim como a Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), cujos agentes estavam na operação que terminou com a morte de João Pedro. Na última sexta-feira, três agentes da Core que participaram da ação foram afastados do serviço operacional provisoriamente. Eles ficarão em serviços administrativos.