No primeiro dia útil do "cordão de isolamento sanitário" da capital fluminense determinado pelo governador do Rio, Wilson Witzel , o acesso às catracas das barcas, na estação Arariboia, em Niterói , o vale-transporte ou bilhete único passou a dividir espaço com a carteira de trabalho e crachás dos trabalhadores de serviços essenciais que precisam chegar ao Rio. Usando máscaras e luvas, equipes da Polícia Militar se dividem em três entradas gradeadas na porta da estação para verificar a identificação dos passageiros. Os funcionários da concessionária que administra o serviço orientavam os passageiros a evitar filas e aglomerações.
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Um grupo de funcionárias de telemarketing estavam reunidas sem saber o que fazer após serem barradas pelos agentes. A função não está lista de atividades essenciais previstas no decreto do governo do estado.
"No sábado (21), nós que moramos para o lado de cá fomos liberadas, mas quem é do Rio precisou trabalhar. Nosso prédio é no Centro, numa área que está super perigosa. Um funcionário está com suspeita de coronavírus , e não houve nenhuma higienização na nossa sala", contou uma funcionária que preferiu não se identificar, preocupada em se contaminar por dividir a sala com cerca de outras 100 colegas.
A cuidadora de idosos Letícia Leconte, de 29 anos, conseguiu acessar a estação, e atravessar para a Praça XV. Ela cuida de uma senhora de 82 anos, portadora de Alzheimer, mas temia não conseguir chegar a Botafogo, na Zona Sul, por não estar com a carteira de trabalho.
"Me mudei para Niterói há dois meses, morava em Belford Roxo, e minha carteira está lá. Estou sem meus contracheques dos últimos meses. O único comprovante que tenho é um pedido de exame da senhora que cuido", disse.
Tossindo e usando uma toalha de mão para proteger o nariz e a boca, uma senhora foi barrada no bloqueio da estação Araribóia, em Niterói. A mulher se identificou como babá do filho de um médico da Polícia Militar, e contou ter uma declaração escrita pelo chefe para que ela pudesse embarcar no transporte.
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"Senhora, não sabemos o que a senhora tem. Como vamos liberar o seu acesso?", explicou um PM.
A senhora chegou a tentar mostrar o documento redigido pelo patrão no celular aos agentes, que, por prevenção, não pegaram o aparelho e mantiveram distância da mulher.
Na Ponte, poucos veículos interceptados
No bloqueio nos acessos à Ponte Rio Niterói, policiais militares só estavam presentes em duas das três entradas da via. Para os motoristas que seguiam a partir das avenidas Marquês de Paraná e Jansen de Melo, no início da manhã desta segunda-feira (23), uma equipe do 12° batalhão (Niterói) rendia os agentes que atuaram no local durante a madrugada. Os policiais, no entanto, não interceptavam nenhum veículo durante o início da manhã "porque não havia nenhuma recomendação", segundo eles.
No acesso da Alameda São Boaventura, uma viatura do Departamento de Transportes Rodoviários (Detro/RJ), atuava em conjunto com os policiais militares por causa do tráfego de vans que fazem trajetos para o Rio. No local, as equipes da PM se revezavam em turnos de 4h. Nenhum veículo de transporte por aplicativo foi interceptado no bloqueio nas últimas horas, segundo os agentes.
No início da manhã, a Alameda São Boaventura tinha cerca de 1 km de congestionamento por conta do bloqueio. O motorista Jessé Guedes levava funcionários para a Casa da Moeda, em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio, em um ônibus fretado, e foi parado no bloqueio, mas liberado em seguida.
"Estou com todo o documento necessário. Tenho três funcionários comigo no ônibus. É a primeira vez que passo pelo bloqueio aqui na Ponte", contou.
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Já no acesso pela BR-101, a Niterói-Manilha , nenhuma equipe da Polícia Militar atuava para interceptar ônibus intermunicipais, vans e carros de transporte por aplicativo. Veículos de passeio acessavam a via sem nenhum impedimento no início da manhã desta segunda-feira.