Covid-19: Witzel analisa proposta de lockdown feita por comitê científico

Ex-ministro da Saúde, o médico sanitarista José Gomes Temporão diz que medida é "para ontem" e que prazo para isolamento mais profundo dependeria de redução de novos casos e óbitos

O governador Wilson Witzel já discute internamente no estado a proposta de decretar lockdown - ou isolamento completo - em regiões consideradas críticas em relação à propagação do novo coronavírus. A recomendação foi feita pelo comitê científico que assessora o Rio de Janeiro sobre a Covid-19 . O grupo de especialistas elaborou um documento tratando da necessidade da medida diante do aumento acelerado da curva e do afrouxamento por parte da população do distanciamento social. Witzel começou a analisar a nota técnica nesta segunda-feira, mas, de acordo com sua assessoria, ele estuda todas as informações sobre a evolução da pandemia no estado do Rio para, até o dia 11 — prazo das medidas restritivas impostas pro decreto -, decidir se vai tomar novas decisões de isolamento.

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Governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel
Foto: Eliane Carvalho
Governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel

A proposta de lockdown considera o aumento do número de casos graves no estado e o iminente colapso do sistema de saúde público, mesmo com a curva de disseminação ainda não atingindo o seu auge. Os especialistas ainda levam em conta experiências internacionais de aprofundamento das medidas de isolamento para conter o avanço da doença. A recomendação inclui o total bloqueio de todas as entradas do estado e a distribuições de gêneros essenciais nas casas dos moradores do estado em situação vulnerável.

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Também prevê um plano de saída do lockdown, que inclui testagem em grande escala da população. O documento não estabelece um período de tempo para as medidas nem um prazo para que seja decretada. Mas, para o médico sanitarista e ex-ministro da Saúde José Gomes Temporão, que integra o comitê de notáveis, o lockdown é "para ontem". 

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"Da primeira semana de abril para cá é perceptível que muitas pessoas não estão cumprindo o isolamento. E há a dificuldade de se fazer fazer isolamento em comunidades muito pobres na medida que a ajuda do governo federal, já insuficiente, não chegou. A política econômica não está a serviço da política de saúde", afirma Temporão, que cita também o presidente Jair Bolsonaro como um mau exemplo para a população ao não seguir as orientações das autoridades da saúde. "Falta um grau de consciência que é estimulado pela postura do presidente".

'Situação perigosa'

Foto: Divulgação
Novo hospital de campanha para combater novo coronavírus foi construído em 19 dias no RJ

Temporão lembra que Manaus já tem infectados morrendo em casa e diz que essa "situação perigosa" pode ser vista no Rio de Janeiro.

"De posse de todas essas informações, o conselho fez por bem recomendar o fechamento tampão por um período. Não falamos em prazo, que vai depender muito da adesão e da capacidade real de se reduzir a circulação viral. É preciso que em paralelo os hospitais de campanha sejam concluídos mais rapidamente e que haja um esforço para colocar os leitos dos hospitais federais em funcionamento", explica o médico sanitarista, dizendo que saída do lockdown dependeria do aumento da capacidade de testagem da população para se ter o padrão de circulação do vírus. "Você só pode sair quando novos casos e óbitos caírem. Ainda estamos no começo da subida da curva".

Para Temporão, uma restrição maior dos transportes públicos já teria como efeito a redução brutal da circulação de pessoas. A proposta não prevê a decretação de lockdown para todo o estado; a partir da análise dos dados sobre o coronavírus, seria instituído para algumas regiões. O documento do comitê pede a garantia de subsistência da população mais pobre do estado, por meio do diálogo com lideranças comunitárias.

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"Estamos ainda numa situação que, se você não fecha, o sistema de saúde pode entrar em colapso. E, se você fecha, tem que garantir que as pessoas em casa possam cumprir esse isolamento. Esse é o dilema", afirma Temporão, se referindo à população que hoje sofre para cumprir as restrições por não contarem com o básico nem com a ajuda do governo federal.