Pandemia altera cotidiano brasileiro
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Pandemia altera cotidiano brasileiro

BRASÍLIA - Em todo o Brasil, de cada cinco municípios, um já teve ao menos um caso registrado de Covid-19 . E, até o momento, a doença se concentra nas cidades grandes e médias. Dados compilados pelo Ministério da Saúde e cruzados pelo GLOBO com a estimativa populacional de 2019 do IBGE mostram que, até 16 de abril, das 324 cidades brasileiras com mais de 100 mil habitantes, apenas 14 não registraram casos do novo coronavírus. Já entre os 3.796 municípios com menos de 20 mil moradores, a doença não chegou a 92% deles.

Dos 5.570 municípios brasileiros, incluindo Brasília e Fernando de Noronha, 1.171 registraram casos. E quanto maior o porte da cidade, maior a chance de algum de seus moradores ter contraído o vírus . Entre os 349 municípios com população entre 50 e 100 mil, 118, ou seja, cerca de um terço, não tiveram casos. Já entre os 1.101 com população entre 20 e 50 mil, 771, ou 70%, não registraram casos.

A maior cidade do Brasil que até 16 de abril não registrava nenhum caso era Arapiraca. A cidade localizada em Alagoas tem 231.747 habitantes, segundo a estimativa populacional de 2019 do IBGE.

A doença já chegou a todas as capitais. Por outro lado, os 11 municípios com as maiores taxas de incidência são todos pequenos. O maior deles é Manacapuru, no Amazonas, com 97.377 habitantes, na terceira colocação. Fernando de Noronha, que não é um município, mas é contabilizado como tal para efeitos estatísticos, fica na primeira posição: com 24 casos até 16 de abril e uma população de 3.061 habitantes, tem um taxa de 7.840,6 casos por 1 milhão de habitantes.

No caso dos municípios pequenos, uma pequena quantidade de casos já é suficiente para fazer com que a taxa de incidência, que é calculada de acordo com a população, se eleve bastante. Em Anhanguera, em Goiás, por exemplo, bastou um único caso para que o município de 1.149 habitantes fosse alçado para a sétima colocação nacional.

A cidade grande com maior taxa é Fortaleza, na décima segunda posição. Entre os municípios com mais de 100 mil habitantes, a não capital com maior incidência é Santos, no litoral paulista, na sexta colocação. Das 30 cidades desse grupo com maiores taxas de incidência, as únicas que não são capitais nem estão na região metropolitana de capitais são Santos, Volta Redona-RJ (13ª), Balneário Camboriú-SC (15ª), Ilhéus-BA (24ª) e Tubarão-SC (29ª)

Estados

Entre os estados, o Rio de Janeiro é o que proporcionalmente mais tem municípios com casos: 67 dos 92, ou seja, 72,83%. Todos os demais têm menos de 50% dos municípios afetados, com a última colocação para o Piauí, onde, dos 214, somente dez, ou 4,46%, tiveram casos. Por números absolutos, São Paulo tem o maior número de municípios afetados: 207 dos 645. O Distrito Federal, que não é estado e onde há apenas Brasília, também já registrou casos.

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Para o epidemiologista José David Urbaéz, que atua como consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), um dos motivos que explica o fato de a epidemia no Brasil ainda ser um fenômeno mais prevalente em cidades acima de 100 mil habitantes tem a ver com a forma como ela foi introduzida no Brasil.

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— Precisamos lembrar que essa doença entrou no Brasil por grandes centros urbanos como Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. Ela entrou a partir de importantes hubs aeroportuários, que se conectam, majoritariamente, a cidades de maior porte. Além disso, é uma doença que atingiu, inicialmente, as classes mais altas da população e que moram, em geral, em grandes centros urbanos — afirmou.

O epidemiologista disse ainda que o fato de os grandes centros urbanos terem uma densidade demográfica maior que a encontrada em cidades pequenas explica o motivo pelo qual a Covid-19 se alastrou nessas regiões.

— Você tem nessas cidades uma rede de transportes mais complexa e os deslocamentos são mais intensos. Isso fez com que o vírus viajasse de uma parte a outra dessas cidades com mais velocidade — explicou.

Urbaéz disse que é remota a hipótese de que os dados contabilizados da doença no país tragam distorções em relação aos municípios em que os casos ocorreram. Segundo ele, isso seria praticamente impossível porque os formulários de notificação pedem que os casos sejam informados de acordo com o local de residência do paciente e não com o local onde a doença foi diagnosticada.

Veja os dados:

- dos 5.570 municípios (incluindo Brasília e Fernando de Noronha), 1.171 já tiveram casos e 4399 não;
- dos 324 municípios com mais de 100 mil habitantes, 14 não registraram casos;
- dos 349 municípios com população entre 50 e 100 mil, 118 não tiveram casos;
- dos 1.101 municípios com população entre 20 e 50 mil, 771 não tiveram casos;
- dos 3.796 com menos de 20 mil habitantes, 3.496 não tiveram casos;
- entre os estados, o Rio de Janeiro é o que proporcionalmente mais tem municípios com casos: 67 dos 92, ou seja, 72,83%
- todos os demais estados têm menos de 50% dos municípios afetados, com a última colocação para o Piauí, onde, dos 214 municípios, 10 (ou 4,46%) tiveram casos;
- por números absolutos, São Paulo tem o maior número de municípios afetados: 207 dos 645.

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