Internada com sintomas de coronavírus, no último dia 6, no Hospital Geral de Nova Iguaçu (conhecido como Hospital da Posse), a aposentada Deusalina Albernaz de Oliveira, de 77 anos, perdeu a luta que travava para sobreviver. Na última segunda-feira, a família da idosa foi informada da morte e recebeu uma declaração de óbito onde constava que a Covid-19 seria uma das causas da morte. Horas depois, parentes de Deusalina receberam a notícia, por telefone, de que o corpo da aposentada havia ido parar no Hospital Zélia Arns, em Volta Redonda, no Sul Fluminense, a quase cem quilômetros de distância de Nova Iguaçu, para onde teria sido levada, ainda viva e por engano, no lugar de uma outra paciente.
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Esta última, que deveria ter sido transferida e ficou na mesma unidade de saúde, não resistiu e morreu no Hospital da Posse. Em nome de Deusalina, foram expedidas duas declarações de óbito. Uma delas, que acabou sendo cancelada, trazia a Covid-19 como uma das causas da morte. A outra, expedida pelo hospital de Volta Redonda, apontava pneumonia e insuficiência respiratória como causas do falecimento.
Moradora de Mesquita, na Baixada Fluminense, a aposentada foi sepultada, nesta terça-feira, no cemitério de Inhaúma, já que também tem parentes na Zona Norte do Rio. A família da idosa suspeita que, além da troca dos corpos, e de ter sido transferida no lugar de outra paciente, Deusalina também teria recebido medicação prescrita para outra pessoa.
"Estamos acabados. Além do desgaste emocional, essa situação só piora. A gente está perdendo uma pessoa que era a estrutura, era tudo para a família. A gente não sabe até que ponto isso levou ao falecimento dela. Tudo isso que aconteceu é muito triste para nós", disse Raquel Albernaz, neta de Deusalina, que foi buscar o corpo da avó em Volta Redonda.
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A notícia de que o corpo de Deusalina havia ido parar em Volta Redonda provocou indignação na família da idosa, que já decidiu que vai acionar o estado na Justiça.
"Ficamos anestesiados com isto tudo. É uma coisa grotesca. A gente sente um misto de ódio e indignação. No domingo, estivemos no Hospital da Posse, e ninguém falou nada. Não dá para entrar no setor de isolamento . Na segunda-feira, fomos comunicados que minha avó não resistiu. Peguei o atestado de óbito, e quando estava tratando com uma funerária, recebi a ligação do hospital dizendo que o corpo estava em Volta Redonda. A gente sequer soube da transferência. Ela está morta desde a madrugada de domingo. Já decidimos que vamos procurar a Justiça", disse Raquel.
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O Hospital da Posse não foi única unidade procurada para atender Deusalina. Segundo a família da idosa, dias antes de dar entrada em Nova Iguaçu, a aposentada chegou a ser medicada no Hospital Getúlio Vargas, na Penha, onde teria recebido a orientação de voltar para casa. Como continuava com febre e dor no corpo, ela voltou a procurar atendimento em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), de Rocha Miranda; no Hospital Carlos Chagas; e na UPA de Ricardo de Albuquerque, esta última já no dia 6. De lá, foi removida de ambulância para o Hospital Geral de Nova Iguaçu.
Procurada para falar sobre o caso, a Prefeitura de Nova Iguaçu, que administra o Hospital da Posse, disse que está apurando o que ocorreu e ainda não se pronunciou sobre o caso.