Favela da Rocinha
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Favela da Rocinha


A Rocinha , na Zona Sul do Rio, já registra cinco mortes por coronavírus . O clima na comunidade é de medo e apreensão. Filho de uma mulher que está internada com sintomas da doença, o estudante Jandeilsom, de 35 anos, conta como é enfrentar a pandemia numa comunidade precária por ausência do estado. O nome dele completo e o de sua mãe foram omitidos a pedido do estudante, que quer preservar a privacidade da família.

Peregrinação por atendimento

Minha mãe começou a passar mal na semana passada e teve que procurar atendimento em vários lugares ao longo dos dias: UPA, CER Leblon e desde sábado está internada no Instituto do Cérebro. Na terça-feira, o médico ligou para confirmar que o exame deu positivo. O que já aprendi sobre o coronavírus é que essa doença tira a dignidade da gente. A impressão é que muitas pessoas não têm consciência da gravidade da situação. Há até um certo preconceito: as pessoas acham que só pega nos outros.

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Antes de (minha mãe) ser levada para o Instituto do Cérebro, sofreu muito na semana passada. Era passou mal na segunda-feira. Nós a levamos para a UPA, com febre alta. Foi atendida receitaram medicamentos e mandaram de volta para casa. Na terça-feira, com estava com falta de ar, a levamos para o CER Leblon. Ficou internada 24 horas, chegou a receber oxigênio devido a dificuldades para respirar. A mandaram de volta para casa. Mas ela não estava bem. Ela mora com meu pai e no meu irmão no terceiro andar. Depois de subir o primeiro lance de escadas, precisou de uma pausa de 30 minutos para subrir o segundo lance, por falta de ar.

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Na noite de quinta-feira começou a se sentir mal de novo. Chamamos uma ambulância do Samu por volta das 19h. O socorro só chegou no início da madrugada de sexta-feira. Ela foi levada de volta para o CER Leblon. E de lá transferida para o Instituto do Cérebro. Agora, é esperar pelo fim da quarentena e pelo retorno da minha mãe.

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Medo da exposição

Minha mãe usou as últimas forças que tinha para caminhar de casa até a ambulancia na Via Ápia (um dos principais acessos à Rocinha). Tentava disfarçar a dificuldade de respirar, que fazia com que forçasse o peito para a frente em busca de ar. Temia que alguém usasse o celular para filmar ou fotografá-la. Ela sempre foi multo vaidosa, não queria ser vista naquela situação.

Parentes com sintomas

Enquanto isso, os familiares todos estão em suas casas, de quarentena. Além dela, somos mais seis pessoas que vivem no mesmo prédio. Meu pai, meu irmão, minha irmã, os dois filhos e o marido dela. Nós três tivemos sintomas de gripe, procuramos a UPA da Rocinha. Não fizemos testes, mas o médico nos diagnosticou como casos suspeitos de coronavirus, indicou o mesmo remédio e orientou sobre a quarentena. O resfriado foi leve, felizmente, sem complicações.

Dificuldade financeira

Queremos respeitar a restrição. Não apenas para não contaminar outras pessoas. Mas também para estarmos bem e recbermos nossa mãe em casa, pois acredito que ela vai se recuperar. Mas a situação está difícil. A principal renda da família vinha de um ponto que tínhamos no camelódromo da Rocinha, que está fechado por causa da Covid-19. O dinheiro que ainda tínhamos, está acabando. Na terça-feira, recebemos uma cesta básica de uma ONG mas não sabemos como vamos viver nas próximas semanas.

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