primo do porteiro coronavirus
Reprodução/Twitter
Epidemia de primos de porteiro mortos "com Covid-19" tomam conta das redes


Atualizada às 14h11

Ao longo do último sábado (28), uma série de postagens idênticas a respeito de um suposto "primo de pedreiro morto em acidente, mas com atestado de óbito apontando Covid-19" tomou conta da rede de microblogs preferida dos integrantes do Governo Federal, o Twitter. Na mensagem, algumas delas com direito à reprodução de um suposto atestado de óbito, as contas afirmam que um homem de 57 anos seria borracheiro e teria morrido após a explosão de um pneu, mas que a causa da morte apontaria para o novo coronavírus.

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A imagem indica que Reginaldo Jacinto da Silva teria falecido no dia 23 de março de 2020 e que a causa apontada seria de insuficiência respiratória/Covid-19 . No entanto, o endereço no documento indica o município de Jaboatão dos Guararapes, em Pernambuco. O estado registra mortes desde o dia 12 de março. Até ontem, eram cinco os registros da Secretaria de Saúde local, nenhum deles em Jaboatão dos Guararapes. Nenhuma das vítimas verificadas pelas autoridades de saúde locais tem características que batem com o borracheiro.

O selo digital, que atesta a autenticidade do documento no site do Tribunal de Justiça de Pernambuco, retornou resultados na busca do órgão, verificando a certidão é verdadeira, bem como o cartório apontado, que, fechado, não atendeu aos telefonemas da reportagem. Moradores da Rua São Bento, apontado como endereço da vítima, alegam que a borracharia, na verdade, seria localizada no bairro do Ibura, no Recife, e confirmam o acidente com um pneu, bem como uma doença anterior à morte, semelhante a uma pneumonia, que perdurou por pelo menos uma semana, mas não reconhecem polêmica de qualquer diagnóstico falso. Funcionários do Hospital Maria Lucinda que não quiseram se identificar alegam que, até o momento, o local não tratou nenhum caso confirmado quanto ao novo coronavírus.

No entanto, na verdade, a Secretaria de Saúde de Pernambuco descartou que a morte estivesse relacionada com a Covid-19. O teste chegou a ser realizado, graças a uma suspeita inicial, mas retornou resultado negativo, o que é de conhecimento público desde o dia 25 de março. A causa da morte apontada foi de Influenza tipo A. Um detalhe é que esse mesmo caso chegou a ser usado de forma polêmica em Pernambuco, uma vez que a suspeita estava registrada no documento, só que para acusação contrária: o de subnotificação de óbitos, o que foi esclarecido ao longo da semana passada.

Apesar disso, há quem use o caso para lançar dúvidas sobre o controle e registro de casos no país, a exemplo da deputada Bia Kicis, do Distrito Federal, que comentou sobre o caso: "sabotadores sendo desmascarados".


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As postagens diferentes sobre o mesmo caso, feitas em horários e por contas diferentes, todas com um grande número de retweets, chamou a atenção de internautas, que apontaram a provável farsa. Enquanto uma das contas autoras, de fato se diz de Pernambuco, outras se encontravam em Minas Gerais e São Paulo (algumas posteriormente apagadas), mas todas reproduziam a mesma exata mensagem do primo do porteiro.

As mensagens foram reproduzidas na mesma semana em que o presidente da República, Jair Bolsonaro , chegou a ventilar a suspeita de que os números de óbitos relacionados à Covid-19 estariam sendo infladas com fins políticos. O governador de São Paulo, epicentro brasileiro da doença, João Doria, chegou a rebater a suspeita. Ambos travam uma quebra de braço política ao defender, com visões opostas, as medidas de restrição de circulação de pessoas como prevenção à disseminação do novo coronavírus (Sars-cov-2).

Atualmente, o Brasil tem ao menos 3.904 casos confirmados de Covid-19, com pelo menos 116 mortes - 86 delas em São Paulo. As informações falsas que circulam nas redes reforçam o discurso negacionista do impacto da doença no país, que se reproduz com força especialmente entre apoiadores do governo Bolsonaro.

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As projeções científicas, no entanto, reforçam a necessidade de cuidados: segundo estudo da Imperial College, de Londres, o quadro do Brasil pode variar entre um total de 44 mil mortos, num cenário otimista, de supressão total da circulação de pessoas, e 1,1 milhão de fatalidades, caso nenhuma forma de isolamento fosse adotada.

Confira a nota da Secretaria de Saúde de Pernambuco, na íntegra:

Tem circulado pelas redes sociais uma certidão de óbito que coloca a Covid-19 como causa da morte de um homem. O caso não consta no boletim divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde, que é encaminhado diariamente ao Ministério da Saúde. Apesar da certidão ser documento verídico, o óbito não foi provocado pelo novo coronavírus. Após análises laboratoriais, foi detectada a presença de outro vírus respiratório nas amostras do paciente.

A SES-PE reforça que a certidão de óbito é um documento sigiloso e que deve ser disponibilizada apenas para a família. A Secretaria conta com o apoio da população para não repassar esse tipo de informação, em respeito ao falecido e seus familiares e que não compartilhem notícias falsas.

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