A confirmação de dois casos de infecção por Covid-19 no navio da Almirante Saboia levou pânico à tripulação. Com 250 pessoas a bordo, o G25 atracou na última segunda-feira no Complexo Naval da Ilha do Mocanguê, em Niterói. A Marinha do Brasil informou que mais três pessoas foram testadas e dois dos exames deram negativo. Outros 36 tripulantes estão em isolamento domiciliar "em caráter preventivo" por terem apresentado sintomas.
Leia também: Secretários estaduais cobram que Mandetta volte a defender isolamento
O Almirante Saboia saiu do Rio de Janeiro no último dia 10 em direção à Estação Naval do Rio Grande, no Rio Grande do Sul, fazendo uma parada de quatro dias em Itajaí (SC) — onde houve entrada e saída de tripulantes. O navio chegou ao Rio Grande no dia 18 e iniciou a viagem de volta do Rio de Janeiro no dia seguinte. Eles pararam em Santos (sem desembarque) no dia 21. A partir dali, passaram mais dois dias em alto mar e atracaram na Ilha do Mocanguê no última segunda. Ao longo da viagem, parte dos oficiais começou a apresentar sintomas e foi isolada dentro do navio. Os demais continuaram trabalhando normalmente.
"A contaminação surgiu quando a gente chegou em Rio Grande. O pessoal estava bem tranquilo, porque a gente tinha saído do Rio dia 10, e quase não havia casos. Mas isolaram 36 pessoas no navio. E quando a gente voltou, mandaram todo mundo pra casa pra ficar em quarentena", relatou um dos tripulantes em isolamento domiciliar, que no momento apresenta sintomas brandos de coronavírus e está sendo monitorado pelas equipes da Marinha .
Em mensagens que circulam entre os grupos da Marinha, oficiais relatam que a chegada do G25 exigiu uma operação especial. Enfermeiros da Esquadra teriam sido acionados para avaliar e acompanhar os tripulantes antes que eles deixassem o navio. A ordem imediata do Comando da Esquadra teria sido de implantação da "rotina de domingo", quando apenas oficiais em serviço permanecem nas dependências do Complexo Naval.
Outro oficial da Marinha, que pediu para não ser identificado, afirmou que a embarcação está sendo desinfetada, o que reduziria os riscos aos marinheiros que estão trabalhando. Sobre a denúncia do alto número de pessoas contaminadas, ele explicou que é preciso ter cautela, pois houve de fato muita gente com sintoma, mas também outros que "se aproveitaram" da situação para conseguir dispensa.
— Há muitas suspeitas, mas casos muito genéricos. Se o cara tossiu, já ganhou dispensa de 14 dias. Então há de tudo, tem gente realmente com gripe forte, mas também tem gente que não tem nada de relevante, mas estão dando dispensa direto, porque não querem pagar para ver.
Outro oficial disse existir um clima de medo devido à falta de confirmação e transparência sobre os casos.
"O número oficial de casos não é informado, até porque não fazem testes. Mas quem tem sintoma é dispensado, e aí utilizam uma classificação genérica do tipo "dispensado por motivos de saúde", explicou ele, que destacou a ordem do comando de "continuar a trabalhar", enquanto minimiza o risco do vírus.
Você viu?
Nesse sentido, o Comandante da Marinha, Almirante de Esquadra Ilques Barbosa Junior, gravou um vídeo de três minutos em que cita a adoção de medidas preventivas, mas reitera que o vírus não impedirá os trabalhos da Marinha. Para isso, ele explica que foi adotada a "Operação Grande Muralha" há um mês, e ainda lembra que já houve enfrentamento de "problemas mais graves" na história, como a Gripe Espanhola, e as operações na Segunda Guerra Mundial, Haiti e Líbano, esta última em curso.
"Embora o vírus seja agressivo, temos plenas condições de neutralizá-lo", afirmou o comandante, em vídeo, se referindo a medidas de higiene e etiqueta social. Em seguida, o comandante fala sobre a necessidade de não se envolver em "mensagens alarmistas" e cita a presença de Deus como forma de enfrentar a crise.
"Decisões importantes devem ser tomadas, vamos superar essa situação. Na certeza da presença de Deus, nada temos a temer, temos que trabalhar", finaliza na mensagem.
Em nota oficial, a Marinha do Brasil informou que está seguindo todos os protocolos estabelecidos pelos ministérios da Saúde e da Defesa. O Comando em Chefe da Esquadra, responsável pelo Complexo Naval da Ilha do Mocanguê, também estaria tomando as medidas necessárias à redução do fluxo de pessoas na ilha. Confira a nota:
"A Marinha do Brasil (MB), por intermédio do Comando em Chefe da Esquadra, esclarece que, além dos dois oficiais que testaram positivo para o COVID-19, três outros tripulantes do mesmo navio tiveram os testes realizados, sendo que dois indicaram NEGATIVO e se aguarda o resultado para o terceiro. Todos estão sendo mantidos em isolamento e monitorados, de acordo com os protocolos estabelecidos pelos Ministérios da Saúde e da Defesa.
Além desses casos, em caráter preventivo, trinta e seis outros tripulantes estão cumprindo isolamento domiciliar por recomendação médica, por terem apresentado algum tipo de sintoma respiratório, ainda que leve. Cabe ressaltar que este número corresponde a cerca de 15% da tripulação do navio.
Quanto ao cumprimento do expediente a bordo, à semelhança do procedimento adotado para as demais unidades subordinadas ao Comando em Chefe da Esquadra, várias medidas vêm sendo adotadas para evitar a concentração de pessoal, como o licenciamento diário de parte da tripulação; flexibilização do horário de expediente; ampliação do horário de refeições, permitindo a divisão dos comensais em grupos menores; entre outras.
A Marinha do Brasil reafirma o compromisso e constante atenção em promover um ambiente de trabalho seguro ao seu pessoal, como condição essencial para a manutenção de sua plena capacidade operacional."