"Juntos, podemos lutar por um Rio melhor", diz menina que rebateu Crivella
Menina de 12 anos comanda biblioteca na Ladeira dos Tabajaras, onde mora com a família, em comunidade dentro de Copacabana, Zona Sul do Rio
A vida da pequena Raíssa Luara de Oliveira , de 12 anos, não é fácil na Ladeira dos Tabajaras , em Copacabana, comunidade da Zona Sul do Rio onde vive com a família: mais conhecida como Lua, a menina sente falta de projetos sociais da prefeitura e de atendimento médico na UPA da região. Além disso, há quatro meses, ela precisa coletar água da chuva para suprir os problemas de abastecimento em casa. Mesmo assim, as dificuldades do dia a dia impulsionaram os sonhos da jovem.
"Eu sempre penso positivo. Acredito que, juntos, podemos lutar por um Rio melhor e mais justo", diz a menina , que superou um trauma pós-bullying, aos 5 anos de idade, com aulas de circo: "No segundo dia, na perna de pau, fui andando e disse para a minha mãe: 'A partir de hoje eu posso superar qualquer coisa. Perdi o medo de tudo'. Se eu andei com ela, eu conseguiria o que eu quisesse na minha vida", conta.
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Sobre o abastecimento, a Cedae informou em nota que uma equipe foi ao local e realizou manutenção no registro e que "o mesmo já está funcionando e o abastecimento está sendo restabelecido, devendo normalizar-se em até 48 horas."
Lua comanda uma biblioteca na comunidade com mais de 10 mil obras, faz aulas de teatro e de dança, participa de um projeto de contação de histórias para crianças e se prepara para escrever o seu próprio livro. Nesta segunda-feira, a menina ganhou mais visibilidade ao se revoltar com uma declaração do prefeito Marcelo Crivella , de que cidadãos ocupam áreas de risco "para gastar menos com cocô e xixi".
"Minha biblioteca tem muitas imperfeições. Precisamos de apoio com saneamento básico, energia elétrica e reformas, principalmente no telhado. Quando chove, as goteiras colocam os livros em risco. O prefeito poderia nos visitar e ver de que forma ele poderia nos ajudar, em vez de reclamar do cocô e do xixi das pessoas", indignou-se ela, que mandou o primeiro recado por meio do Facebook do EXTRA.
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A resposta de Lua recebeu milhares de reações e comentários: "Parabéns, são pessoas como você que o mundo precisa", "Você nos representa" e "Que Deus te abençoe para que você possa continuar lutando por uma causa" foram algumas das mensagens deixadas na publicação na web. Segundo a mãe de Lua, Fátima de Oliveira, a menina passou o dia respondendo e conversando com os internautas na rede social. "Eu falei para ela que ia gerar muita repercussão, mas ela postou mesmo assim. Mas ela não mentiu, só disse verdades", diz Fátima.
Mundo da Lua
Lua cursa o 7º ano do ensino fundamental num colégio particular de Copacabana, com bolsa integral. O uniforme e o material escola foram doados por amigos. No futuro, a menina sonha ser atriz e veterinária. Os bichinhos, além dos livros, são outra de suas paixões, que incluem também cozinhar (estrogonofe de camarão é o seu prato favorito).
"Eu tenho uma gatinha, um cachorro e vou ganhar uma tartaruga também. Eu sou muito ansiosa, e a médica mandou a minha mãe me dar animais de estimação, que são muito melhores que remédios".
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A biblioteca, batizada de Mundo da Lua, existe desde outubro. A menina teve a ideia após visitar a Bienal do Livro e perceber que, por mais baratos que fossem alguns exemplares, nem todas as crianças tinham condições de comprá-los. Lua idealizou o projeto social e conseguiu um espaço cedido pela associação de moradores.
"Nós estamos buscando outro espaço na parte mais baixa da comunidade, o que possibilitaria que mais crianças nos visitassem. Aqui, infelizmente é a área mais violenta da comunidade. Então, muitas mães têm medo de deixar os filhos aqui. Quero que todos os 21 mil moradores participem com a gente dessa iniciativa", afirma Lua.